Começa remoção de combustível nuclear em Fukushima
15 de abril de 2019
Operadora da usina japonesa inicia delicada operação com equipamento projetado para remover centenas de barras de combustível de tanques de arrefecimento. Trabalhos devem durar dois anos.
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A operadora da usina nuclear japonesa de Fukushima começou, nesta segunda-feira (15/04), a remover combustível atômico de dentro de uma edificação que abrigava um dos reatores que derreteram no desastre de 2011 – um dos piores acidentes nucleares da história.
Esta é a primeira vez que a empresa Tokyo Electric Power (Tepco) executa a retirada de barras que contêm material físsil alojado num prédio altamente contaminado. A intervenção estava programada para quatro anos atrás, mas percalços, alta radiação e detritos radioativos de uma explosão que ocorreu durante o colapso causaram o atraso.
As unidades de combustível estão intactas. No entanto, como o local de armazenamento – uma espécie de tanque de arrefecimento – não é selado, as barras precisam ser removidas para evitar uma segunda catástrofe no caso de um novo grande terremoto.
Devido aos altos níveis de radiação, técnicos operam um guindaste remotamente, de uma sala de controle a cerca de 500 metros de distância, construído. O guindaste foi projetado para alçar as barras de combustível dos suportes de armazenamento dentro dos tanques de arrefecimento antes de colocá-las em barris de proteção. Todo o processo é feito debaixo d'água para evitar vazamento de radiação.
Conforme planejado pela Tepco, quatro unidades foram removidas nesta segunda-feira. As operações chegaram a ser brevemente suspensas no início da tarde, depois de um problema técnico com o equipamento.
"Finalmente começamos este trabalho. Vamos passar dois anos removendo 566 unidades de combustível do reator 3", disse Takahiro Kimoto, um porta-voz da Tepco, que acrescentou que serão removidas cerca de mil unidades de combustível em tanques de armazenamento nos outros dois reatores.
"Fatores como a remoção de detritos e vários problemas provocaram atrasos, os quais percebemos que causaram preocupações significativas para as pessoas na região, entre outros", disse Kimoto. "Com a segurança como prioridade, continuaremos este trabalho com cuidado."
A extração do combustível nuclear fundido no interior do reator – considerada a parte mais difícil da operação de limpeza – não deve ser iniciada até 2021.
A usina de Fukushima sofreu um colapso em 11 de março de 2011. Um forte terremoto registrado no mar próximo ao litoral nordeste do Japão gerou um tsunami, que destruiu cidades inteiras. A água deixou a instalação nuclear sem sistema de refrigeração, o que acabou provocando a fusão parcial dos três reatores que estavam em funcionamento no momento do acidente.
O tsunami deixou, segundo as autoridades japonesas, 18.434 mortos e desaparecidos. Outras 3.600 pessoas, principalmente de Fukushima, morreram posteriormente de causas ligadas à tragédia, como doenças e suicídio.
PV/afp/rtr/ap
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Invisível, porém perigosa. A radiação liberada pelo acidente nuclear de Chernobyl destruiu a vida nos arredores da usina nuclear ucraniana. Passados 29 anos da catástrofe, como está o ecossistema do local?
Foto: Masaki Iwata and Joji Otaki, University of the Ryukyus
O ecossistema mais contaminado do mundo
As pessoas que moravam no entorno da usina nuclear de Chernobyl tiveram que abandonar suas casas após a catástrofe, em abril de 1986. Na época, uma zona de exclusão foi estabelecida num raio de 30 quilômetros. Ainda hoje são usados contadores Geiger para medir o nível de radiação nuclear. Mesmo sendo considerado o ecossistemas mais contaminado do mundo, ainda existe vida no local.
Foto: Viktor Drachev/AFP/Getty Images
Um vilarejo sem moradores
Antes da catástrofe, cerca de 2 mil pessoas viviam em Tulgovichi, uma vila localizada dentro da zona de exclusão. Hoje, o local tem menos de dez moradores.
Foto: Viktor Drachev/AFP/Getty Images
Existe vida na zona de exclusão?
Em 2011, bisões foram fotografados na antiga zona de exclusão, mas não se sabe se há apenas alguns animais ou uma vida realmente próspera no local. Opiniões de cientistas divergem. Alguns dizem que, nas áreas com alto nível de radiação nuclear, o número de aranhas e insetos é menor – principalmente num raio de dez quilômetros ao redor do reator central.
Foto: picture-alliance/dpa/T. Zenkovich
Mais pesquisas são necessárias
Em excursões próprias à zona de exclusão, outros cientistas constataram que a quantidade de animais existentes é a mesma que a de habitats semelhantes fora dessa área, independentemente do nível de radiação. Até hoje não há nenhum estudo comparativo que esclareça essa questão.
Foto: picture-alliance/dpa/T. Zenkovich
Os efeitos da radiação
Há muito tempo se sabe que a radioatividade muda o DNA do homem. Por isso, não é surpreendente que, depois do acidente com o reator, animais frequentemente apresentem tumores ou partes do corpo deformadas. No entanto, de acordo com estudos, algumas aves se adaptaram à radioatividade ao produzirem mais antioxidantes, que as protegem dos danos genéticos.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Pleul
Radiação afeta o comportamento?
Cientistas pesquisam também se a radiação afeta o comportamento dos animais. Sob a influência de cafeína ou outras drogas, as aranhas perdem a capacidade de tecer teias com perfeição geométrica. Timothy Mousseau, da Universidade da Carolina do Sul, fotografou teias de aranhas na zona de exclusão para analisar se a radioatividade teve um efeito semelhante.
Foto: picture-alliance/dpa/K.-J. Hildenbrand
Cavar a fundo
Nem todos os efeitos da radioatividade sobre os seres vivos que estão na zona de exclusão são facilmente visíveis. Para analisá-los, cientistas tiveram que cavar a fundo. Eles pesquisaram a distribuição dos organismos vivos no solo e descobriram que a presença de minhocas, centopeias e ácaros-escaravelhos é o primeiro sinal da recuperação de um ecossistema após um acidente nuclear.
Foto: Colourbox/I. Zhuravlov
Borboletas de Fukushima
Soa quase cínico, mas o desastre nuclear de Fukushima, no Japão, abriu um novo "laboratório" para os cientistas analisarem os efeitos da radioatividade sobre a biodiversidade. Pesquisadores japoneses descobriram que mutações no genoma de borboletas da espécie Pale Grass Blue (Pseudozizeeria maha) deformaram o corpo e as asas dos insetos.
Foto: Masaki Iwata and Joji Otaki, University of the Ryukyus