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Começa transição para governo interino na Ucrânia

23 de fevereiro de 2014

Enquanto o destituído Yanukovytch continua fora de Kiev, deputados designam líder do Parlamento como presidente interino da Ucrânia. Yulia Timochenko nega intenção de voltar a comandar o país.

Alexander Turtchinov, presidente interinoFoto: Reuters

O Parlamento da Ucrânia designou neste domingo (23/02) Alexander Turtchinov como presidente interino do país. A nomeação, aprovada por 285 dos 339 parlamentares presentes, ocorreu um dia após a destituição do presidente Viktor Yanukovytch pelo próprio Parlamento. Yanukovytch deixou Kiev no sábado e seguiu para Kharkiv, no leste da Ucrânia. Seu paradeiro agora é desconhecido.

Aliado da líder da oposição Yulia Timochenko, Turtchinov havia assumido a presidência do Parlamento no sábado – uma jogada vista como primeiro passo para a formação de um novo governo. No mesmo dia, os parlamentares aprovaram a libertação de Timochenko, presa há dois anos e meio. Os dois são fundadores do partido Pátria, de oposição ao grupo político de Yanukovytch.

Pouco antes de ser nomeado presidente interino, Turtchinov pediu aos deputados que iniciassem consultas urgentes para estruturar, até a próxima terça-feira, uma coligação de maioria capaz de formar um governo. "A situação da Ucrânia, em particular a econômica, é catastrófica. O governo de Yanukovytch arruinou a economia e não há dinheiro nos cofres do Estado", afirmou Turtchinov.

A designação do presidente interino segue o estipulado na Constituição de 2004, restituída pelo Parlamento, a qual prevê que o presidente do Parlamento deve assumir as funções de chefe de Estado em caso de vacância de poder. Os deputados ainda aprovaram as destituições de alguns ministros, como os das Relações Exteriores e da Educação, além de convocar eleições presidenciais antecipadas para 25 de maio.

A legitimidade das decisões parlamentares das últimas horas ainda pode vir a ser questionada. Na sexta-feira, foi aprovada a volta da Constituição de dez anos atrás, a qual aumenta os poderes do Parlamento. No entanto, Yanukovytch não promulgou a lei, afirmando que os deputados agem de maneira ilegal. Pouco antes de o Parlamento ucraniano confirmar sua destituição, ele acusou a oposição de "tentativa de golpe" e afirmou que não deixaria o poder.

Ocupação continua, mas clima está mais calmo Praça da Independência em KievFoto: Reuters

Presidente destituído desaparecido

O porta-voz do presidente destituído afirmou neste domingo não saber por onde ele anda. Segundo o Serviço de Guarda Fronteira do Estado, neste domingo o avião a bordo do qual se encontrava Yanukovytch teve negada permissão de voo em Donetsk, no sudeste do país.

A Ucrânia está profundamente dividida. As regiões do leste mostram-se claramente pró-russas, enquanto as do oeste vinham criticando Yanukovytch e defendendo uma maior aproximação com a União Europeia.

A Comissão Europeia afirmou neste domingo estar pronta para concluir um acordo comercial com a Ucrânia, assim que o novo governo estiver formado. "Acredito que [os ucranianos] vão assinar o acordo. Não sei ainda quando", afirmou o comissário europeu do Comércio, Karel De Gucht, em entrevista à televisão. Ele ressaltou, entretanto, que um governo estável precisa tomar a decisão democraticamente.

Nos braços do Ocidente

O comissário europeu de Assuntos Econômicos e Financeiros, Olli Rehn, também declarou que o bloco está preparado para oferecer ajuda substancial aos ucranianos e, assim como De Gucht, ressaltou que o pré-requisito é o estabelecimento de um governo estável.

Os Estados Unidos também ofereceram neste domingo ajuda financeira à Ucrânia, para que o país possa reestruturar sua economia, abalada após três meses de intensos protestos. A oferta foi feita pelo secretário americano do Tesouro, Jacob Lew, durante encontro dos ministros do G20 na Austrália.

Fundamental, porém, é saber qual será a posição da Rússia. Moscou vinha provendo ajuda financeira à Ucrânia, a fim de manter a economia do país funcionando. No entanto, neste domingo o ministro russo de Finanças,Anton Siluanov, aconselhou os ucranianos a pedirem empréstimo ao Fundo Monetário Internacional (FMI), para evitar a insolvência iminente.

Em dezembro último, a Rússia havia oferecido à Ucrânia ajuda financeira de 15 bilhões de dólares, mas apenas 3 bilhões de dólares foram repassados, até agora. O restante ficou congelado, dependendo do desenrolar da crise política em curso.

Yulia Timochenko falou à multidão após ser libertadaFoto: Reuters

Timochenko livre

Palco de inúmeros confrontos entre forças do governo e opositores nos últimos meses, a Praça da Independência em Kiev esteve calma neste domingo. Na véspera, porém, uma 100 mil pessoas se aglomeraram no local para saudar Yulia Timochenko, libertada do hospital onde estava confinada desde 2011.

A líder da oposição afirmou que a luta ainda não acabou, e pediu aos manifestantes que continuem ocupando o centro da cidade e exijam uma investigação, para buscar os responsáveis pelas mortes de dezenas de pessoas em protestos nas últimas semanas.

Timochenko afirmou não ser candidata a primeira-ministra no novo governo. Entretanto, neste domingo seus apoiadores no Parlamento tenham declarado que seu nome é um dos três mais cotados para o cargo.

A ex-primeira-ministra, uma das figuras centrais da Revolução Laranja, recebeu cumprimentos de vários líderes políticos por sua libertação, entre eles a chanceler federal alemã, Angela Merkel. Durante conversa telefônica, Merkel pediu a Timochenko que se engaje pela coesão da Ucrânia.

MSB/rtr/dpa/ap/afp/ap/lusa

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