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Religião

gh3 de abril de 2005

Mais de 100 mil pessoas participam de missa de luto por João Paulo II. Governantes e integrantes do alto clero velam o corpo do Santo Padre no Palácio Apostólico.

Corpo de João Paulo II é velado no Palácio Apostólico no VaticanoFoto: dpa

Dando início aos nove dias de luto, governantes, diplomatas e integrantes do alto clero velam o corpo do papa João Paulo II, no Palácio Apostólico, onde ficava o apartamento do sumo pontífice, no Vaticano. "O papa morreu em paz", disse o cardeal Angelo Sodano a cerca de 130 mil pesssoas (estimativa da polícia) numa missa de luto na Praça de São Pedro, em Roma, neste domingo (03/04). O papa João Paulo II morreu, ao 84 anos, no sábado (02/04).

Nesta segunda-feira, às 15h (horário europeu) , seu corpo deve ser transferido para a basílica de São Pedro, onde poderá ser visto por fiéis. Para o enterro do papa, provavelmente na próxima quinta-feira (07/04) - a data certa ainda não foi anunciada -, são esperados cerca de 200 chefes de Estado e de governo. As autoridades de Roma preparam-se também para receber mais de um milhão de fiéis que querem se despedir do "papa das viagens e das multidões".

Últimas horas foram de oração

Missa de luto na Praça de São Pedro, em Roma, neste domingo (03/04)Foto: AP

"As últimas horas do Santo Padre foram de orações incessantes", afirmou um porta-voz do Vaticano, na manhã deste domingo (03/04) em Roma. Entre os presentes junto leito mortuário de João Paulo II, estavam cardeais da Cúria Romana, entre eles o alemão Josef Ratzinger, o secretário de Estado do Vaticano, Angelo Sodano, e camerlengo do Vaticano, cardeal Eduardo Martinez Somalo.

Segundo o porta-voz, o camerlengo confirmou oficialmente a morte do sumo pontífice. Em seguida, foi retirado do dedo do Santo Padre o Anel do Pescador, símbolo do poder papal, o que corresponde ao fim oficial do pontificado. O anel foi imediatamente destruído para evitar que seja feita qualquer falsificação de documentos pontifícios. Todos os cardeais em cargos de confiança renunciaram.

Causa da morte: septicemia

 

O primeiro boletim oficial do Vaticano divulgado na tarde deste domingo revela que João Paulo II morreu vítima de uma septicemia (infecção generalizada) e colapso circulatório.

O boletim acrescenta que João Paulo II sofria do Mal de Parkinson e com uma insuficiência respiratória progressiva (que levou os médicos a submetê-lo a uma traqueostomia) e tinha hipertrofia (benigna) na próstata. O documento mostra ainda que o papa sofreu complicações com a infecção urinária e que, por fim, tinha cardiopatia hipertensiva isquêmica (era hipertenso).

Velório do papa na Sala Clementina do Palácio ApostólicoFoto: AP

Ritual: da morte ao enterro

O ritual que, normalmente, se segue imediatamente à morte de um papa é assim descrito pela agência de notícias espanhola EFE. Nos primeiros séculos, para saber se o papa estava morrendo, o médico aproximava de seus lábios uma vela acesa. Se a chama se movimentasse significava que ele ainda estava vivo. A operação realizava-se várias vezes até que a chama permanecesse imóvel.

Atualmente, as técnicas mudaram. São os médicos e os métodos freqüentes que determinam o falecimento papal. Uma vez que o médico confirma o falecimento do papa, o responsável pela casa pontifícia anuncia oficialmente a morte: o papa morreu. Todos os presentes se ajoelham, e começam as primeiras homenagens. Depois, por ordem hierárquica, eles aproximam-se do cadáver e beijam a mão do pontífice morto.

Logo após, começa o turno das velas dos cônegos penitenciários. São acesos quatro círios perto dos pés da cama do papa e colocado um pote com água benta junto ao leito mortuário. O cardeal camerlengo, que passa a usar um traje violeta (a cor do luto) e se torna a maior autoridade da Igreja, entra no quarto escoltado por uma equipe da Guarda Suíça com alabardas, símbolo da nova autoridade, para comprovar oficialmente a morte do pontífice.

Em presença do mestre de cerimônia e dos prelados da casa pontifícia, o camerlengo se aproxima da cama, retira o lenço que cobre o rosto do papa e se inclina na direção dele para chamá-lo por seu nome de batismo três vezes. Depois, bate levemente em sua testa com um pequeno martelo de prata e marfim.

"De verdade, o papa morreu"

Após verificar o falecimento, diz "vere papa mortuus est" (de verdade, o papa morreu). Em seguida, retira do dedo o Anel do Pescador, símbolo do poder pontifício, em um sinal de que o reinado acabou. O anel é destruído junto ao selo de chumbo do papa ante a presença dos cardeais.

Depois, o tabelião da Câmara Apostólica registra o falecimento em ata para que os sinos de São Pedro possam soar, anunciando ao mundo a morte do papa. O corpo do papa é então entregue aos embalsamadores. Se o papa não tiver dito nada contra, são extraídas suas vísceras para serem depositadas em urnas que se conservarão na cripta subterrânea da igreja de São Vicente e São Anastácio, em frente à Fonte de Trevi, em Roma.

Proibido fotografar

A norma vaticana proíbe gravar suas últimas palavras ou fotografar o papa morto. O camerlengo dará permissão para que sejam feitas fotos oficiais, mas desde que o morto já esteja usando os hábitos pontifícios.

Depois do velório no Palácio Apostólico, será trasladado à basílica de São Pedro, onde é colocado em um catafalco, diante do altar da confissão. Ali permanecerá três dias antes das exéquias, que desde a morte de Paulo VI e João Paulo I acontece na praça de São Pedro, ante a presença de presidentes e reis do mundo todo.

"Livra-me, senhor, da morte eterna"

Ele então é levado até o local em uma solene procissão encabeçada pelo cardeal decano e pelo camerlengo, enquanto os coros entoam Libera me, Domine, de morte aeterna (Livra-me, senhor, da morte eterna).

O corpo do papa é colocado em um féretro de cipreste forrado de veludo carmesim e encaixado em outro de chumbo de quatro milímetros de espessura, que, por sua vez, entra em outro de madeira de olmo envernizada.

Um prelado lê os fatos mais importantes de seu pontificado e, no final, introduz o pergaminho em um tubo de cobre que sai do féretro junto com um saco de veludo com moedas e medalhas de seu pontificado.

Depois, selam-se a caixa de cipreste e a de chumbo e coloca-se a de olmo sobre ambas. Nesta última, deixa-se um simples crucifixo e uma Bíblia aberta.

O féretro costuma pesar 500 quilos e é levado no fim da cerimônia em um carro fúnebre até o Altar da Confissão, onde, por meio de polias, é descido até a cripta vaticana, onde permanecerá até que seu sarcófago definitivo esteja pronto.

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