Comissária da ONU pede libertação de manifestantes em Cuba
16 de julho de 2021
Michelle Bachelet, alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, expressou preocupação com relatos de uso excessivo de força pelo regime e denúncias envolvendo presos que seguem com paradeiro desconhecido.
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A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, pediu nesta sexta-feira (16/07) a libertação urgente de todos os manifestantes e jornalistas presos durante os protestos contra o governo em Cuba. Ela também expressou preocupação com denúncias de uso excessivo da força por parte dos agentes de segurança.
Milhares de pessoas saíram às ruas desde o último domingo para protestar contra a escassez de alimentos e medicamentos, e pela forma como o governo vem lidando com a pandemia de covid-19. Esta foi a maior demonstração de insatisfação com o regime cubano em décadas.
"É particularmente preocupante que haja pessoas que se acredita que estejam sendo mantidas incomunicáveis e pessoas cujo paradeiro é desconhecido. Todos os detidos por exercerem os seus direitos devem ser libertados com urgência", disse Bachelet em nota.
A ex-presidente do Chile exigiu que Cuba "lide com as reivindicações dos protestos através do diálogo” e que o regime deve "respeitar e proteger por completo os direitos de todos os indivíduos de se reunirem pacificamente e à liberdade de opinião e de expressão”.
Ela pediu uma "investigação independente, transparente e eficiente” sobre a morte de um homem de 36 anos envolvido nos protestos e instou o governo cubano a restaurar o acesso à internet no país, após ter sido cortado no início da semana.
Vigilância e cortes na internet
As autoridades ampliaram a vigilância para evitar novos protestos. A maioria das redes sociais e plataformas de mensagens permanecem bloqueadas no serviço de internet móvel em Cuba.
O observatório da internet Netblocks observou que as limitações ao uso do Facebook, Whatsapp e Twitter também foram estendidas para o YouTube.
Especialistas afirmam que o regime cubano cortou a Internet para evitar novas manifestações, embora considerem que a medida possa aumentar o descontentamento da população em relação às autoridades.
Os protestos mais relevantes desde 1994 acontecem em um momento em que Cuba atravessa uma grave crise econômica e de saúde, com a pandemia de covid-19 fora de controle e uma grave escassez de alimentos, remédios e outros produtos essenciais, além de longos cortes de energia.
Entre as medidas anunciadas pelo primeiro-ministro Manuel Marrero está a livre importação de alimentos, produtos de higiene e medicamentos a partir da próxima segunda-feira e até o fim do ano.
Marrero destacou que se trata da "importação por meio do passageiro, ou seja, da bagagem de viagem" em voos internacionais.
A falta de comida e remédios é uma das principais reclamações dos manifestantes nos protestos que ocorreram em várias cidades do país. Ao menos uma pessoa morreu em confrontos com as forças de segurança.
A produção de alimentos em Cuba é insuficiente para os 11,2 milhões de habitantes, e o país importa cerca de 80% do que consome. As importações estão sendo dificultadas pela crise econômica e pela pandemia de covid-19.
O presidente do Conselho de Estado de Cuba, Miguel Díaz-Canel, prometeu nesta quarta-feira que as pessoas presas nos protestos contra o governo no último domingo serão processadas sem abusos e com a correta aplicação da lei.
Em discurso na emissora de televisão estatal, o chefe de Estado afirmou que nas manifestações foram cometidos atos que violam a Constituição e justificaram a ação policial, mas admitiu ser necessário pedir desculpas àqueles que no meio da confusão foram "maltratados injustamente".
O líder atribuiu os problemas de escassez de alimentos e medicamentos ao embargo imposto pelos Estados Unidos a Cuba.
"O bloqueio excede tudo o que queremos fazer e às vezes causa sentimentos de insatisfação e prejudica a esperança e as aspirações de nosso povo", disse Díaz-Canel, em pronunciamento ao lado do primeiro-ministro e do ministro da Economia, Alejandro Gil.
"Temos que adquirir mais experiência com esses distúrbios”, afirmou. "Temos de realizar uma análise crítica de nossos problemas de modo a agir para superá-los e evitar que se repitam.”
Os protestos deixaram vários detidos, dos quais não há números oficiais. Organizações internacionais afirmam que mais de 150 pessoas foram presas ou seguem desaparecidas.
rc (AFP, Reuters, AP)
O fim da era Castro em Cuba
Quase nada em Cuba lembra de como era a vida antes dos Castro. O dia 19 de abril de 2018 marca o fim das quase seis décadas de governo dos irmãos Fidel e Raúl.
Foto: Reuters
1959 - A revolução triunfa
O rebeldes liderados por Fidel Castro chegam ao poder depois de derrubar o ditador Fulgencio Batista em janeiro. Os EUA reconhecem o novo governo. Logo, "leis revolucionárias" (como a reforma agrária) afetam empresas americanas. Em dezembro, o presidente republicano Dwight D. Eisenhower aprova um plano da CIA para derrubar Castro em um ano e substitui-lo por "uma junta amiga dos EUA".
Foto: AP
1960 − Aproximação com a União Soviética
Eisenhower proíbe exportações para Cuba (exceto de alimentos e remédios) e suspende a importação de açúcar. Cuba responde nacionalizando bens e empresas americanas e estabelecendo relações diplomáticas e comerciais com a União Soviética. No funeral das vítimas da explosão do cargueiro francês La Coubre (foto), Cuba responsabiliza a CIA, e Castro lança seu lema "pátria ou morte!"
Foto: AP
1961 − Ruptura e invasão fracassada
Os EUA rompem relações diplomáticas com Cuba e fecham sua embaixada em Havana em 3 de janeiro. Após uma série de bombardeios em aeroportos e incêndios em estabelecimentos comerciais, cuja autoria Cuba atribui aos EUA, Fidel proclama o caráter socialista da revolução em 16 de abril. Entre 17 e 19 daquele mês, cubanos treinados pelos EUA tentam invadir a ilha pela Baía dos Porcos, mas fracassam.
Foto: AP
1962 - A crise dos mísseis
"Não sei se Fidel é comunista, mas eu sou fidelista", disse em 1960 o líder soviético Nikita Kruchov. Moscou reata relações diplomáticas com Havana e eleva seu apoio. A URSS instala bases de mísseis nucleares em Cuba, desencadeando a "crise dos mísseis". Moscou cede à pressão de Kennedy em troca de os EUA se comprometerem a não invadir Cuba e desativarem suas bases nucleares na Turquia.
Foto: imago/UIG
1971 – Fidel Castro no Chile
O episódio da Baía dos Porcos acelera a proclamação do caráter socialista, marxista-leninista, da revolução. Cuba acaba sendo expulsa da Organização dos Estados Americanos. Castro fica isolado no continente, mas não para sempre. Ele é recebido no Chile pelo presidente Salvador Allende (foto), que iria ser derrubado por Augusto Pinochet em 1973.
Foto: AFP/Getty Images
1989 – A hora da Perestroika
A chegada ao poder de Mikhail Gorbatchov em Moscou marca o início da era da Glasnost e Perestroika. A Cortina de Ferro começa a ruir, e o império soviético se esfacela. Cuba perde sua principal base de sustentação no exterior, entrando em crise aguda. Milhares de cubanos tentam fugir para Miami em embarcações precárias. Muitos analistas preveem o fim do regime castrista.
Foto: picture-alliance/dpa
1998 – Primeira visita do papa
Um decreto de Pío 12 proibia aos católicos o apoio a regimes comunistas. Em virtude disso, o Vaticano excomungou Fidel Castro em janeiro de 1962. Mas, com o fim da Guerra Fria, chega o momento da reaproximação: em 1996, Castro visita o papa João Paulo 2°, e este retribui a visita dois anos depois, em viagem considerada histórica.
Foto: picture-alliance/AP/Michel Gangne
2002 - Fidel Castro e Jimmy Carter jogam beisebol
Desde que os EUA impuseram seu embargo comercial, econômico e financeiro, em 1962, houve poucos momentos de distensão entre Washington e Havana. Um deles foi a viagem do ex-presidente americano Jimmy Carter a Cuba, em 2002, motivada pela intenção de encontrar pontos de aproximação.
Foto: Adalberto Roque/AFP/Getty Images
2006 - Fidel e Hugo
A partir dos anos 90, Cuba deixa de ser vista como uma perigosa exportadora de revoluções. Com a derrocada do bloco comunista no Leste Europeu, as ideologias de esquerda entram em crise. Mas, na Venezuela, chega ao poder um novo dirigente, disposto a propagar a "Revolução Bolivariana". Hugo Chávez, declarado admirador de Fidel, passa a dar a Havana um respaldo importante, também na área econômica.
Foto: picture-alliance/dpa/dpaweb
2006 - A entrega do poder
A doença forçou Fidel Castro a abandonar o poder. Em 2006, ele o deixa nas mãos de seu irmão Raúl, uma garantia de que não haveria reviravoltas num sistema que, apesar dos avanços em educação e saúde, cobrou um alto preço: o da falta de liberdade e repressão. Fidel foi se despedindo do poder aos poucos, defendendo até o fim sua visão, através das páginas do jornal "Granma".
Foto: picture-alliance/AP Photo/Cristobal Herrera
2014 - Degelo temporário
Em dezembro de 2014, os presidentes dos EUA, Barack Obama, e o de Cuba, Raúl Castro, anunciaram que retomariam as relações diplomáticas. Obama visitou Cuba em março de 2016. Haviam se passado 88 anos desde a última vez que um presidente americano viajara à ilha. EUA retirou Cuba da lista de terrorismo, dando início ao processo de retomada das relações diplomáticas.
Tantas vezes anunciada e desmentida, a morte do líder foi inicialmente recebida com desconfiança. Entretanto, em 25 de novembro de 2016, os bares fecharam mais cedo e as reuniões de amigos nas ruas se dispersaram com a notícia. Durante anos, Fidel Castro desmentiu rumores de sua morte com a publicação de fotografias ou artigos de opinião.
Foto: Getty Images
2018 – A sucessão
Depois de dez anos, Raúl Castro se retira do poder. Em 19 de abril, o Parlamento cubano elegerá um sucessor que, pela primeira vez em quase 60 anos, não leva o sobrenome Castro: o vice de Raúl, Miguel Díaz Canel. Entretanto, analistas julgam improvável que o curso político em Cuba se modifique logo.