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Comissão Europeia propõe adiamento de lei antidesmatamento

2 de outubro de 2024

Após pressão do Brasil e da Alemanha, órgão quer atrasar em 12 meses implementação de nova regra que barra importações de áreas desmatadas. Ambientalistas criticam adiamento.

Parque Nacional de Tapajós, no Brasil, com parte da floresta desmatada para plantação.
Lei antidesmatamento da União Europeia enfrenta críticas de países produtoresFoto: Leo Correa/AP/picture alliance

A Comissão Europeia propôs nesta quarta-feira (2/10) adiar por um ano a implementação de uma lei antidesmatamento, editada pelo bloco para barrar a importação de produtos oriundos de áreas desmatadas.

A comissão disse ter recebido "feedback de parceiros internacionais", e defendeu um atraso de um ano para "dar às partes envolvidas tempo adicional para se prepararem".

Associações empresariais, diferentes partidos políticos, países produtores e alguns parceiros comerciais da União Europeia - incluindo o Brasil - têm pressionado a Comissão para ampliar o tempo de aplicação da nova lei.

Se o Parlamento Europeu e os estados-membros concordarem com a extensão, a implementação deixa de ocorrer em janeiro de 2025, como previsto, e as grandes empresas terão até 30 de dezembro de 2025 para se adequar às novas regras. Para pequenas empresas, o regulamento passaria a valer em 30 de junho de 2026.

Os "12 meses extras", serviriam como um "período de transição para garantir a implementação adequada e eficaz" da lei, disse a Comissão.

Entenda a lei antidesmatamento da UE

A nova lei da UE visa proteger as florestas e reduzir o desmatamento em regiões como a Amazônia.

Uma vez implementada, produtos como café, madeira, soja, cacau e óleo de palma só poderão ser vendidos na UE se nenhuma floresta tiver sido desmatada para sua produção após 2020.

A regra institui uma espécie de marco temporal do desmatamento, e também obriga o cumprimento de legislações sobre direitos humanos, trabalhistas, fundiários e de comunidades indígenas. Segundo a WWF, as importações da UE são responsáveis por 16% do desmatamento em todo o planeta.

As empresas deverão apresentar relatórios confirmando que nenhuma floresta foi desmatada ou danificada para produzir seus produtos. Se não cumprirem as regras, elas poderão receber multas de pelo menos 4% de seu faturamento anual.

Críticos da lei se queixam de "requerimentos impraticáveis" e "fardos burocráticos" sobre produtores e empresas.Foto: SILVIO AVILA/AFP/Getty Images

Países criticam a nova regra

Como a DW mostrou, a Alemanha foi um dos países que endossou o pedido de adiamento, após o Brasil. Isso porque a nova norma europeia acabou se entrelaçando com o debate sobre o acordo de livre comércio entre a UE e o Mercosul, cujo texto inicial foi fechado em 2019, mas segue em negociação e não entrou em vigor.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva entende que a aprovação do regulamento antidesmatamento da UE alterou o equilíbrio dos termos que já haviamsido acordados para o tratado de livre comércio.

Brasil e Alemanha apoiam adiamento. Receio é que regra inviabilize negociações para acordo Mercosul-UEFoto: Michele Tantussi/AFP

Além disso, no caso do Brasil, a regra é mais rigorosa do que as normativas nacionais. Hoje o Código Florestal brasileiro permite que proprietários de terras na Amazônia Legal desmatem legalmente até 20% da área para fins produtivos.

Outros países também criticaram a lei e pediram mais tempo para se adequar ao texto. A principal justificativa usada é que o protecionismo europeu pode excluir do mercado milhares de pequenos produtores.

Já grupos ambientais criticaram a proposta de adiamento. A ONG Mighty Earth chamou o atraso de um "ato de vandalismo contra a natureza". "Adiar... é como jogar um extintor de incêndio pela janela de um prédio em chamas", disse Julian Oram, diretor de políticas da organização.

O Greenpeace chamou o adiamento de "injustificável". "É como se [a presidente da Comissão Europeia] Ursula von der Leyen tivesse empunhado a motosserra ela mesma. As pessoas na Europa não querem produtos provenientes de desmatamento, mas é isso que esse adiamento proporcionará", disse o Greenpeace.

A WWF afirmou que o adiamento lança sérias dúvidas sobre o compromisso da Comissão em cumprir as promessas ambientais da UE.

gq (dpa, reuters, afp)

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