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ConflitosOriente Médio

Comitê da ONU acusa Israel de genocídio em Gaza

15 de novembro de 2024

Órgão especial formado por Sri Lanka, Malásia e Senegal diz que práticas e políticas do governo Netanyahu são "consistentes com as características de genocídio". Chefe da diplomacia europeia propõe suspender diálogo.

Palestinos vistos de costas fugindo com seus pertences da guerra na Faixa de Gaza
Guerra na Faixa de Gaza forçou o deslocamento de milhares de palestinos; Israel diz respeitar direito internacionalFoto: Hadi Daoud Apaimages/Zumapress/picture alliance

No mesmo dia em que um relatório da organização de direitos humanos Human Rights Watch (HRW) equiparou o deslocamento de civis na Faixa de Gaza por Israel a "crimes contra a humanidade", um comitê especial das Nações Unidas afirmou nesta quinta-feira (14/11) ver indícios de um genocídio em curso no território palestino.

Israel tem negado veementemente acusações do gênero, e reagiu ao relatório da HRW afirmando que não trava uma guerra contra as pessoas em Gaza, e que seu único propósito é "desmantelar o Hamas", grupo palestino que controla a região e que comandou um ataque terrorista sem precedentes contra Israel em 7 de outubro de 2023.

O comitê da ONU, criado em 1968 após o fim da guerra árabe-israelense para monitorar a ocupação dos territórios palestinos, é formado por representantes de três países: Sri Lanka, Malásia e Senegal.

Em relatório anual, esses três países dizem temer que Israel esteja "usando a fome como arma de guerra" no conflito, que já dura três meses. Também dizem suspeitar que o país esteja  promovendo um "apartheid" na Cisjordânia.

Segundo o comitê, o cerco israelense a Gaza, o bloqueio do envio de ajuda humanitária à região, além de mortes e ataques direcionados contra civis, estavam "intencionalmente causando morte, fome e sérios danos".

O comitê conclui que as táticas de guerra israelense "são consistentes com as características de genocídio". O grupo não esteve de fato em Gaza. Eles alegam que as tentativas de visitar a região foram ignoradas por Israel.

No fim de semana, a ONU já havia alertado que a fome era um problema iminente no norte de Gaza.

Tel Aviv aponta viés anti-Israel

A Corte Internacional de Justiça (CIJ), mais alto tribunal da ONU, já investiga uma denúncia contra Israel por genocídio. A peça foi apresentada pela África do Sul, e desde então a CIJ já ordenou ao país que tome medidas cautelares para evitar o genocídio de palestinos.

Embora o governo israelense ainda não tenha se pronunciado sobre o relatório do comitê especial da ONU, o país tem criticado a instância de governança internacional, acusando-a de ter um viés anti-Israel.

No passado, Tel Aviv também acusou um braço da ONU, a agência para refugiados palestinos UNRWA, de ter elos com o Hamas.

HRW cita planos para criação de "zonas tampão" e fala em "limpeza étnica"

Também divulgado nesta quinta, um relatório da HRW conclui que "o deslocamento forçado [de palestinos em Gaza] é intencional e é parte da política de Estado israelense, e portanto caracteriza crime contra a humanidade".

Para a entidade, esses deslocamentos são provavelmente parte de um plano para a criação de "zonas tampão e corredores de segurança" – algo que equivaleria a "limpeza étnica". O Exército israelense nega, e autoridades israelenses têm dito que palestinos poderão regressar às suas casas quando o conflito for encerrado.

O documento da ONG foi elaborado com base em entrevistas com palestinos em Gaza, imagens de satélite e informações publicamente disponíveis até o mês de agosto.

Embora Israel alegue que alertas civis para que deixem determinadas regiões por sua própria segurança, Nadia Hardman, da HRW, alega que não tem cabimento que o Exército justifique o deslocamento de civis "apenas com a presença de grupos armados". Segundo ela, o direito internacional determina que esse deveria ser sempre comprovadamente o último recurso.

Um porta-voz do Ministério do Exterior israelense reagiu ao relatório da HRW afirmando que o país vê todo o sofrimento de civis como tragédia, "enquanto o Hamas vê todo o dano a civis como estratégia", e acusou o grupo de usá-los como "escudo humano".

Chefe da diplomacia europeia propõe suspensão de diálogo com Israel

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, anunciou nesta quinta-feira que vai propor a seus pares a suspensão do diálogo político com Israel. Ele alega estar preocupado com violações de direitos humanos e do direito internacional cometidos pelo país no contexto da guerra.

A proposta será apresentada aos ministros do exterior dos 27 países-membros da União Europeia em reunião na próxima segunda-feira, mas depende de aprovação unânime para de fato se concretizar – algo considerado improvável.

A guerra em Gaza foi deflagrada pelo atentado terrorista do Hamas contra Israel em 7 de outubro, que deixou cerca de 1.200 mortos e terminou com o sequestro de outras mais 250 pessoas, das quais cerca de 100 ainda seguem em Gaza – parte delas, porém, já é dada como morta.

Israel reagiu ao ataque com uma ofensiva que, segundo autoridades ligadas ao Hamas, já deixou mais de 43 mil mortos. Segundo a ONU, 1,9 milhão do 2,4 milhões de habitantes de Gaza foram deslocados pelo conflito. Alguns relatam já terem sido forçados a mudar de lugar diversas vezes em busca de segurança.

ra (AFP, Reuters, ots)

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