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Como a Alemanha tenta aplicar uma política externa feminista

Rosalia Romaniec
8 de março de 2022

Pela primeira vez, executar uma política externa feminista é meta oficial de Berlim. Em tempos de guerra, quando mulheres são especialmente vitimizadas, isso se faz mais necessário. Implementação está em andamento.

Ministra do Exterior da Alemanha, Annalena Baerbock, visita a linha de frente em Donbass, na Ucrânia
A ministra do Exterior da Alemanha, Annalena Baerbock, visitou a linha de frente em Donbass, na Ucrânia, em 8 de fevereiroFoto: Thomas Koehler/photothek/imago images

Onde há guerra, uma política externa feminista inicialmente parece ser uma ferramenta limitada contra os combatentes. Afinal, seu objetivo principal é evitar que a situação chegue a esse ponto. Mas, ao mesmo tempo, as abordagens feministas ganham importância em situações de conflito, porque as mulheres precisam de proteção especial.

No acordo de coalizão do governo federal alemão, que tomou posse em dezembro, uma política externa feminista é definida como um objetivo oficial pela primeira vez. "Junto com nossos parceiros, queremos fortalecer os direitos, os recursos e a representação das mulheres e meninas no mundo inteiro e promover a diversidade social no sentido de uma política externa feminista", diz. Por essa razão, "queremos enviar mais mulheres para posições de liderança internacional".

Segurança nas mãos das mulheres

De fato, pela primeira vez, o governo federal alemão colocou mulheres no topo de todos os órgãos relacionados à segurança. Os ministérios do Exterior, da Defesa e do Interior são chefiados por mulheres, assim como a comissária militar do Bundestag (Parlamento alemão) e a presidente do Comitê de Defesa no Bundestag. Mas mudar o perfil dos ocupantes de cargos não é o único objetivo.

A propósito, a pessoa responsável por uma política externa mais feminista no ministério do Exterior alemão é um homem, Tobias Lindner, do Partido Verde. "Isso não deve ser apenas um tema das mulheres. Não se trata de nomear mulheres para cargos, mas de dar visibilidade à perspectiva feminina sobre conflitos e, neste caso, é um homem que se certifica de que isso aconteça", afirma Agnieszka Brugger, porta-voz sobre política de defesa dos verdes no Bundestag.

"Não é uma questão de que as mulheres agora fazem parte e então haverá menos crises, isso seria ingênuo", diz a presidente do Comitê de Defesa do Bundestag, Agnes-Marie Strack-Zimmermann. O conflito na Ucrânia não pode ser resolvido rapidamente pelas mulheres, mas isso não muda o fato de que "em termos de política mundial, temos que superar a perspectiva puramente masculina", diz a política do Partido Liberal Democrático (FDP).

Perspectiva feminina para o futuro

A ministra do Exterior alemã, Annalena Baerbock, está tentando mudar a perspectiva da política mundial. Seja na linha de frente em Donbass, no leste da Ucrânia, ou em uma entrevista coletiva no Egito, a chefe da diplomacia também fala como mulher e mãe. Essa perspectiva, orientada para direitos humanos e valores, é parte integrante de seus discursos. Quando ela viaja, muitas vezes primeiro se encontra com mulheres e ONGs antes de se sentar à mesa de negociações com representantes de governos.

Crianças refugiadas da guerra na Ucrânia chegam na principal estação de trem de BerlimFoto: Paul Zinken/dpa/picture alliance

O entendimento de Baerbock sobre política externa foi recentemente explicado na Conferência de Segurança de Munique, quando ela falou sobre o Acordo de Minsk: "Não se trata apenas de um formato de negociação ou de um termo técnico. Trata-se de 'segurança humana'. Trata-se de saber se famílias, crianças no meio da Europa, no meio de nossa Europa, podem crescer em segurança e em paz", disse, citando as mães que ela conheceu na viagem a Donbass: "Somente quando as mulheres estão seguras, todos estão seguros."

Cem anos em pequenos passos

O termo "política externa feminista" ou "abordagem feminista" não é novo. "Ele remonta pelo menos a 1915, quando 1,2 mil mulheres se reuniram em Haia e não apenas exigiram o fim da Primeira Guerra Mundial, mas também aprovaram vinte resoluções", diz Kristina Lunz, fundadora do Centro de Política Externa Feminista (CFFP). Apenas algumas das exigências foram atendidas até hoje. É compreensível que os gastos militares na Alemanha devam aumentar, mas ela também apela para o fortalecimento adequado das organizações de direitos humanos.

Há apenas alguns anos, a abordagem feminista "era ridicularizada como ingênua", lembra Strack-Zimmermann, presidente do Comitê de Defesa do Bundestag. Entretanto, ela está convencida de que a política externa feminista significa um mundo mais seguro para seus filhos e netos.

E a Alemanha não deixou de levar essa questão a sério por tempo demais? Durante muitos anos, as mulheres, em particular, acusaram a outrora "mulher mais poderosa do mundo", Angela Merkel, de fazer muito pouco pelo seu gênero. Embora ela tenha se definido como feminista quando estava no final de seu mandato de chanceler federal, ela levou anos para se tornar uma.

Na foto do último encontro do G20, em outubro de 2021, havia apenas Merkel de mulher Foto: Jeff J Mitchell/Getty Images

Internacionalmente, as mulheres também perderam visibilidade desde a saída de Merkel. Isso provavelmente aparecerá na próxima foto da reunião do G20. A chanceler alemã foi a única mulher representando os países do G20 da última vez. Agora, nenhum país do grupo é governado por uma mulher. Somente a União Europeia, representada na pessoa de Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, poderia iluminar simbolicamente a foto – desde que Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, se retirasse.

Mesmo assim, especialistas avaliam que as abordagens feministas ganharão peso no futuro. Kristina Lunz também escreve sobre isso em seu novo livro, intitulado O futuro da política externa é feminista. Algumas políticas mulheres que vêm observando o tema há muito tempo o veem de forma semelhante. "No passado, muitos homens ficavam nervosos quando ouviam a palavra feminismo, porque na minha geração feminismo significava 'contra o homem'", diz Strack-Zimmermann.

Entre os homens jovens de hoje, no entanto, a visão das mulheres sobre as coisas prevaleceria. "É importante entender que a guerra não é apenas sobre quem tem a arma maior e mais longa, mas o que acontece com as pessoas cujos maridos estão em guerra e que estão em casa tentando viver uma vida da forma mais normal possível para seus filhos", diz a política de 63 anos.

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