Governo indiano se recusou a aderir às sanções ocidentais contra Moscou e agora o país importa mais petróleo bruto da Rússia do que nunca. No entanto, relação política e econômica entre os dois países vem da Guerra Fria.
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A Rússia é um inimigo? Não na Índia, onde o país é visto como um valioso parceiro político e econômico.
Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia no ano passado, o relacionamento até ganhou mais ritmo. A Índia se recusou a aderir às sanções do Ocidente contra Moscou e agora o país está importando mais petróleo bruto da Rússia do que nunca. Este foi um dos fatores determinantes para a recente visita oficial do chanceler federal alemão, Olaf Scholz, à Índia.
De acordo com o Ministério do Comércio e Indústria da Índia, a Rússia se tornou a quarta maior fonte de importações do país no ano passado. De abril a dezembro de 2022, as importações totalizaram 32,8 bilhões de dólares, ante 6,58 bilhões de dólares no mesmo período de 2021 - um aumento de 498%.
A Índia comprou "muito petróleo, converteu em produtos petrolíferos refinados e vendeu", disse o secretário de Comércio da Índia, Sunil Barthwal, ao portal Nikkei Asia.
"Gostaria de esclarecer que não pedimos às nossas empresas que comprem petróleo russo", disse o ministro das Relações Exteriores da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, ao Parlamento indiano em dezembro. "Pedimos que comprem a melhor opção. Agora, depende do que o mercado apresentar", destacou.
Como parte das sanções globais à Rússia, um novoteto de preço foi imposto ao petróleo russo, que entrou em vigor em 5 de fevereiro de 2023. Para a Índia, terceiro maior consumidor de petróleo do mundo, essa redução faz uma grande diferença.
Isso traz múltiplos benefícios para o governo. Como a Índia importa mais de 80% de seu petróleo bruto, o limite significa que ela pode reduzir os custos de energia. Além disso, ao recorrer ao petróleo russo, a Índia pode diminuir sua dependência do Oriente Médio, que costumava ser a fonte de cerca de 60% das importações de petróleo do país.
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Negociações de armas durante a Guerra Fria
A relação econômica e política entre a Rússia e a Índia, ambas potências nucleares, não se baseia apenas no interesse mútuo em relação ao petróleo. Também remonta a uma cooperação de longa data durante a Guerra Fria.
A então União Soviética (URSS) forneceu armas à Índia por décadas e treinou as forças indianas sobre como usá-las. A Índia obteve três quintos de suas armas da URSS entre 1955 e 1991, mostra a análise do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês).
De acordo com a Air University, instituição no estado americano do Alabama que fornece educação militar para a Força Aérea dos EUA, a cooperação militar entre Índia e Rússia continua significativa.
"A extensão do armamento russo no exército indiano criou dependências e confiança", diz um artigo no Journal of Indo-Pacific Affairs, publicado pela universidade. A dimensão e importância das contribuições russas para o arsenal militar indiano há muito têm sido subestimadas, escrevem os autores. A relação com os EUA, por outro lado, que fornecia armas ao Paquistão, um inimigo da Índia, era distante.
Além disso, por muitos anos, a economia soviética foi considerada pela Índia como um modelo de desenvolvimento econômico, anticolonialismo e de redução bem-sucedida da pobreza. Somente após o fim da URSS o país se abriu lentamente para a economia global.
Aproximação com os EUA
Em 2005, sob a presidência de George W. Bush, os EUA se referiram à Índia como um "aliado natural" com "valores compartilhados", que se tornaria "uma grande potência mundial no século 21" com o apoio americano.
É esta aspiração de ser um player global líder que explica porque a Índia, apesar de sua nova parceria com os EUA, tem continuado a cooperar com a Rússia como parte de várias instituições, como a Organização de Cooperação de Xangai (OCX), o Brics (composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e o agrupamento Rússia-Índia-China (RIC).
Parceria sólida
"A parceria russo-indiana continuará", escreveram Rajan Menon e Eugene Rumer, do think tank americano Carnegie Endowment for International Peace, em setembro do ano passado.
"Para a Índia, a Rússia continua sendo um importante fornecedor de armas. A Índia não aderiu às sanções do Ocidente contra a Rússia. Ao fazer isso, demonstrou sua política externa independente", destacaram.
"Aprimorar a cooperação comercial e econômica entre a Índia e a Rússia é uma prioridade fundamental para a liderança política de ambos os países", afirmou a embaixada da Índia em Moscou em um briefing de 2022 sobre as relações econômicas entre os dois países.
No entanto, também é verdade que, antes do aumento das importações de petróleo da Rússia, a cooperação econômica entre os dois países estava estagnada em um nível bastante baixo, com a Rússia raramente chegando ao top 25 dos parceiros comerciais da Índia entre 2012 e 2021. A Alemanha, em comparação, ficou em sexto lugar em 2012, mas caiu para a 11ª posição em 2021.
Um ano de guerra da Ucrânia: uma linha do tempo em imagens
Na manhã de 24 de fevereiro de 2022, a Rússia invadiu a Ucrânia. Em um ano de combates, milhares de soldados e civis perderam a vida. Relembre os fatos mais marcantes nesta linha do tempo.
Foto: Anatolii Stepanov/AFP/Getty Images
Um dia sombrio para milhões
Na manhã de 24 de fevereiro de 2022, os ucranianos foram acordados por explosões como esta na capital, Kiev. A Rússia havia iniciado uma invasão em grande escala, marcando o maior ataque de um país contra outro desde a Segunda Guerra Mundial. A Ucrânia imediatamente declarou a lei marcial. Estruturas civis passaram a ser atacadas e logo começaram a ser relatadas as primeiras mortes.
Foto: Ukrainian President s Office/Zuma/imago images
Bombardeios impiedosos
O presidente russo, Vladimir Putin, insiste ainda hoje tratar-se de uma "operação militar especial" e que o objetivo é tomar as regiões de Donetsk e Luhansk, no leste da Ucrânia. Moradores de Mariupol se abrigaram em porões por semanas. Muitos morreram sob os escombros. Um ataque aéreo russo em março a um teatro da cidade onde centenas se refugiavam foi condenado por grupos de direitos humanos.
Foto: Nikolai Trishin/TASS/dpa/picture alliance
Êxodo em massa
A guerra na Ucrânia forçou uma emigração nunca vista na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. De acordo com a Acnur, a agência de refugiados da ONU, mais de 8 milhões de pessoas fugiram do país. Só a Polônia acolheu 1,5 milhão de pessoas, mais do que qualquer outro Estado da UE. Milhões de pessoas, principalmente do leste e do sul da Ucrânia, foram forçadas a fugir.
Foto: Anatolii Stepanov/AFP
Cenas de horror em Bucha
Após algumas semanas, o exército ucraniano conseguiu expulsar as forças russas de áreas no norte e nordeste do país. O plano da Rússia de sitiar Kiev fracassou. Depois que as regiões foram libertadas, a extensão das atrocidades tornou-se aparente. Imagens de civis torturados e assassinados em Bucha, perto de Kiev, deram a volta ao mundo. As autoridades relataram 461 mortes.
Foto: Carol Guzy/ZUMA PRESS/dpa/picture alliance
Devastação e morte em Kramatorsk
O número de vítimas civis em Donbass aumentou rapidamente. As autoridades pediram à população civil para recuar para áreas mais seguras, mas os mísseis russos também atingiram as pessoas enquanto tentavam escapar, inclusive em Kramatorsk. Mais de 61 foram mortos e 120 ficaram feridos na estação ferroviária da cidade em abril, quando milhares esperavam para fugir para um local mais seguro.
Durante os ataques aéreos russos, milhões de ucranianos buscaram refúgio em algum tipo de abrigo. Para as pessoas próximas às linhas de frente dentro do alcance da artilharia, os porões se tornaram segundos lares. Moradores de grandes cidades também buscaram abrigo dos mísseis. Em Kiev (foto) e em Kharkiv, as estações de metrô funcionam como locais seguros.
Foto: Dimitar Dilkoff/AFP/Getty Images
Alto risco nuclear em Zaporíjia
Nas primeiras semanas após a invasão, a Rússia ocupou uma grande área das regiões sul e leste da Ucrânia, inclusive as proximidades de Kiev. Os combates se espalharam para as instalações do complexo nuclear de Zaporíjia, no sudeste, que está sob controle russo desde então. A Agência Internacional de Energia Atômica enviou especialistas para a usina e pediu uma zona segura ao redor da instalação.
Foto: Str./AFP/Getty Images
Resistência desesperada em Mariupol
O exército russo manteve Mariupol sob cerco por três meses, impedindo o envio de munição e outros suprimentos. O complexo siderúrgico Asovstal era o último reduto ucraniano na cidade, abrigando milhares de soldados e civis. Depois de um ataque prolongado, em maio de 2022 milhares de soldados russos assumiram o controle da usina, capturando mais de 2 mil pessoas.
Foto: Dmytro 'Orest' Kozatskyi/AFP
Um símbolo de resistência
A Rússia conquistou a Ilha das Cobras, no Mar Negro, no primeiro dia da guerra. Um diálogo entre militares ucranianos e russos, na qual os ucranianos se recusaram a se render, se tornou viral. Em abril, os ucranianos afirmaram ter afundado o navio de guerra russo Moskva, uma das duas embarcações envolvidas no ataque à ilha. Em junho, a Ucrânia disse ter expulsado os russos da ilha.
Foto: Ukraine's border guard service/AFP
Número de mortos incerto
O número exato de mortos na guerra permanece incerto. Segundo a ONU, pelo menos 7.200 civis foram mortos e outros 12 mil, feridos – mas os números reais podem ser muito maiores. A quantidade exata de soldados ucranianos tombados também é incerta. Em dezembro, o conselheiro presidencial da Ucrânia, Mykhailo Podolyak, estimou o número em até 13 mil. Estatísticas imparciais não estão disponíveis.
Foto: Raphael Lafargue/abaca/picture alliance
Divisor de águas para a Ucrânia
O envio de armas ocidentais à Ucrânia tem sido um assunto polêmico desde o começo da guerra, mas elas demoraram a chegar a Kiev. Os lançadores de foguetes Himars, fabricados nos EUA, foram uma ajuda decisiva. Eles permitiram que os militares ucranianos cortassem o abastecimento de munição para a artilharia russa e provavelmente também contribuíram para as contraofensivas bem-sucedidas da Ucrânia.
Foto: James Lefty Larimer/US Army/Zuma Wire/IMAGO
Alívio a cada libertação
No início de setembro, os militares ucranianos conduziram uma contraofensiva bem-sucedida em Kharkiv, no nordeste do país. Os russos, surpreendidos, recuaram rapidamente, deixando para trás equipamentos, munições e até evidências de supostos crimes de guerra. Os militares ucranianos também conseguiram libertar Kherson, no sul, e seus moradores comemoraram a chegada dos soldados ucranianos.
Foto: Bulent Kilic/AFP/Getty Images
Explosão na ponte da Crimeia
No início de outubro, ocorreu uma grande explosão na ponte que a Rússia construiu sobre o Estreito de Kerch, ligando à Crimeia, península ucraniana que Moscou ocupa desde 2014. A ponte foi parcialmente destruída. A Rússia afirma que um caminhão da Ucrânia carregado de explosivos causou os danos, mas as autoridades em Kiev não assumiram a responsabilidade pelo ataque.
Foto: AFP/Getty Images
Ataques maciços à infraestrutura de energia
Poucos dias após a explosão na ponte da Crimeia, a Rússia começou a atacar em grande escala a infraestrutura de energia da Ucrânia. Quedas de energia ocorreram de Lviv a Kharkiv. Desde então, esses ataques se tornaram rotina. Devido aos enormes danos às usinas de energia e outras infraestruturas civis, as pessoas na Ucrânia enfrentam quedas de energia e escassez de água quase diariamente.
Foto: Genya Savilov/AFP/Getty Images
Apoio do mundo ocidental
Mensagens diárias por vídeo do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, em que ele relata a situação no país e sobre a guerra em andamento, são vistas por milhões de pessoas. Zelenski não só conseguiu unificar a população de seu país, mas também ganhou o apoio do Ocidente. A integração europeia progrediu muito sob a sua liderança, e a Ucrânia está a caminho da adesão à UE.
Foto: Kenzo Tribouillard/AFP
Esperando por tanques Leopard 2
A defesa da Ucrânia depende muito da ajuda externa. Um grupo de países liderado pelos EUA ofereceu um pacote de bilhões de dólares em ajuda humanitária, financeira e militar. O envio de artilharia pesada foi muito debatido no Ocidente, em grande parte devido a preocupações com a reação da Rússia. Mas a Ucrânia acabará recebendo tanques ocidentais, em sua maioria Leopard 2, de fabricação alemã.
Foto: Ina Fassbender/AFP/Getty Images
Uma cidade em ruínas
Há meses, batalhas sangrentas acontecem em Bakhmut, na região de Donetsk. Desde que as tropas ucranianas perderam o controle do vilarejo de Soledar no início de 2023, defender a cidade tornou-se ainda mais difícil. Em janeiro, o serviço secreto da Alemanha relatou perdas diárias de três dígitos do lado ucraniano. Mas acredita-se que o número de mortos na Rússia seja ainda maior.