Como a imprensa mundial reagiu ao anúncio de Merkel
21 de novembro de 2016
"Contra a maré do nacionalismo", "defensora dos valores liberais", "experiência necessária": decisão da chanceler federal alemã de concorrer a um quarto mandato foi destaque em jornais pelo mundo.
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O anúncio de Angela Merkel de que vai concorrer a um quarto mandato como chanceler federal da Alemanha, feito no último domingo (21/11), foi destaque na imprensa internacional.
Telegraph: Experiência necessária
"Tal como Margaret Thatcher, ela descobriu que renunciar a altos cargos é difícil, mesmo que seja aconselhável depois de 11 anos no poder. Nenhum chanceler alemão desde 1949 deixou o posto voluntariamente e, dado o clima antiestablishment entre eleitores ao redor do mundo, são grandes as chances de que ela perderá. Mas, ao contrário de muitos líderes, Merkel permanece popular em seu próprio país e fora dele. Ela é, de longe, a figura mais influente da Europa, e toda a sua experiência será necessária.”
Economist: Defensora dos valores liberais
"A eleição deste mês de Donald Trump como o próximo presidente americano pode ter contribuído em sua decisão. De uma hora para outra, o papel dos EUA como líder da ordem liberal pós-guerra foi posto em xeque. Outras potências ocidentais estão distraídas – o Reino Unido, por sua decisão de sair da União Europeia; e a França, pela ameaça de que Marine Le Pen, uma eurocética de direita, poderia ganhar a presidência no próximo ano. Merkel parece ser a última líder mundial de estatura a defender os valores liberais do Ocidente perante Vladimir Putin, da Rússia, e Recep Tayyip Erdogan, da Turquia.”
Spiegel Online:Sempre adiante, mas para onde?
"Agora está finalmente decidido, mas a nova candidatura de Angela Merkel apresenta riscos: para ela, para o partido – e para o país. Para todos aqueles, que nas aparições dela gritavam "Merkel tem que sair", a candidatura é uma provocação. Um novo mandato pode acirrar a divisão na Alemanha ainda mais. Sobretudo se, em caso de vitória, ela governe na chamada grande coalizão novamente."
El País: Líder séria e responsável
"A incerteza gerada pela saída do Reino Unido da UE e pela eleição de Donald Trump como presidente dos EUA antecipava sua continuidade. A Alemanha, o país europeu com a política mais estável, não permitirá experimentações. Merkel pode agora entrar na campanha mostrando-se a líder séria e responsável imprescindível em tempos tumultuosos."
Guardian: Trump, Brexit e refugiados
"Ela será procurada para dar respostas a desafios atuais, inclusive quanto à remodelação das relações entre Europa e os EUA de Donald Trump e como a União Europeia vai lidar com o Brexit e com a agressividade russa. O fluxo contínuo de refugiados à Europa, assim como a crise do euro, estão entre as principais questões da próxima gestão.”
New York Times: Baluarte dos valores liberais
"O papel de Merkel como baluarte dos valores liberais pode ser prejudicado pelo poder do populismo em outras partes da Europa, cuja unidade foi colocada ainda mais em dúvida desde que o Reino Unido, maior potência militar do continente, votou em julho para sair da União Europeia."
Washington Post: Contra a maré do nacionalismo
"Mas a metódica Merkel vai se ver nadando contra a maré de um nacionalismo ressurgente, inclusive na Alemanha. Embora impulsionada pela vasta força econômica do país, ela pode ver sua decisão no ano passado de acolher quase um milhão de refugiados do Oriente Médio se voltar contra ela. Merkel também terá que lidar com a apatia dos eleitores diante das elites políticas.”
Merkel a caminho do quarto mandato
Quem poderia pensar? Vista como líder interina de seu partido após saída de Helmut Kohl, Merkel chefia a CDU desde 2000 e, há 11 anos, a Chancelaria Federal. Confira momentos de uma carreira que ainda não chegou ao fim.
Foto: Getty Images/C. Koall
Primeiro juramento
"Eu quero servir a Alemanha". A promessa foi feita por Angela Merkel no dia 22 de novembro de 2005, quando tomou posse como chanceler. Depois da vitória apertada nas eleições gerais, ela se tornou a primeira mulher e a primeira alemã da antiga parte oriental a ocupar o cargo. Merkel se tornou a chefe de governo, comandado pela grande coalizão formada entre os partidos CDU, CSU e SPD.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Bergmann
Quem tem medo do cão de Putin?
Merkel é conhecida por sempre ser racional e se manter calma. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, quis aparentemente testar os nervos da chanceler quando a recebeu na residência presidencial em Sochi, em 2007. Putin conseguiu revelar o ponto fraco de Merkel: ela tem medo de cães. Isso não impediu que o presidente russo deixasse o labrador Koni farejar os sapatos da chanceler.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Astakhov
Resgate financeiro
Em situações de crise, Merkel age com frieza. Quando os mercados financeiros entraram em colapso em 2008 e ameaçaram prejudicar a economia alemã, a chanceler se empenhou na proteção do euro e na criação de fundos de resgate para as economias mais fracas do bloco europeu. Ela se destacou como eficiente gestora de crises, mas não escapou de receber críticas de países como Grécia e Espanha.
Foto: picture-alliance/epa/H. Villalobos
Caminho para o segundo mandato
Apesar do pior desempenho da aliança conservadora na história, Merkel venceu as eleições de 27 de setembro de 2009. Depois de se aliar ao Partido Social-Democrata (SPD), a chanceler estava pronta para iniciar o segundo mandato ao lado de outro parceiro, o Partido Liberal Democrático (FDP).
Foto: Getty Images/A. Rentz
Resposta rápida
Merkel que, como física, é conhecida por pensar de forma objetiva, não previu a catástrofe nuclear de Fukushima, no Japão. Defensora da política nuclear na Alemanha, Merkel mudou de posição em tempo recorde. A extensão do prazo de funcionamento das usinas foi suspenso e a Alemanha iniciou o processo de colocar fim ao uso da energia nuclear.
Foto: Getty Images/G. Bergmann
O homem ao seu lado
Quem o reconheceria? Quem conhece sua voz? Há dez anos, o marido de Merkel, Joachim Sauer, professor de Química da Universidade Humboldt, em Berlim, se mantém discreto. Eles estão casados desde 1998.
Foto: picture alliance/Infophoto
Amizade em crise
As escutas de comunicações de políticos alemães por parte da Agência de Segurança Nacional (NSA), dos Estados Unidos, abalaram as relações da Alemanha com a Casa Branca. Até o celular de Merkel foi alvo de espionagem. Uma frase da chanceler ficou famosa: "Não é aceitável que países amigos espiem uns aos outros".
Foto: Reuters/F. Bensch
O paciente grego
O clube de fãs de Merkel é extenso, mas na Grécia é provavelmente menor. A hostilidade contra a chanceler alemã nunca foi tão grande como em 2014, no auge da crise da dívida grega. A imagem de velha inimiga ressurgiu, mas Merkel se manteve firme em relação à política de austeridade que previu cortes e reformas a serem cumpridos por Atenas.
Foto: picture-alliance/epa/S. Pantzartzi
Emotiva, às vezes
Tipicamente reservada, Merkel quebrou os protocolos durante a final da Copa do Mundo de 2014 no Rio de Janeiro. A chanceler federal alemã celebrou a vitória da Alemanha sobre a Argentina ao lado do presidente alemão, Joachim Gauck. Ela estava no auge de sua popularidade, assim como a seleção vitoriosa.
Foto: imago/Action Pictures
"Nós podemos fazer isso!"
Para Merkel, o direito de asilo a refugiados não pode ser limitado. "Nós podemos fazer isso" se tornou o credo da chanceler sobre a política alemã de acolhida aos migrantes que fogem de guerras e perseguições. Se o país dará conta da enorme demanda, isso já é uma pergunta ainda em aberto.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe
"E agora, Merkel?"
Sexta-feira 13 – um massacre em novembro. A França está em situação de emergência e Merkel ofereceu "toda a assistência" ao país vizinho. O medo do terrorismo se espalha. Não há dúvidas de que esse é o maior desafio de Merkel em dez anos no poder.
Foto: picture-alliance/dpa/B. von Jutrczenka
Barulho na coalizão
Foi o castigo máximo para a chanceler federal. No congresso da CSU, em novembro de 2015, Horst Seehofer a repreendeu. O líder da legenda-irmã do partido de Merkel na Baviera criticou que a política migratória da chefe alemã de governo fez com que o país perdesse o controle de suas próprias fronteiras. Uma humilhação que Merkel teve que suportar de pé e sem oportunidade de resposta.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Hoppe
Será que ele não poderia ficar?
Seria um alívio para Merkel continuar a lidar com Obama. Mas, no início, ela era bastante cética quanto a ele. O monitoramento do celular da chanceler federal, no contexto do escândalo de espionagem da NSA, parecia abonar a sua postura reservada. Mas, agora, um parceiro previsível sai de cena e dá lugar a Donald Trump. O jornal "New York Times" já a chama de "defensora do Ocidente liberal".
Foto: Reuters/F. Bensch
Merkel mais uma vez
Finalmente, após meses de intensas especulações em torno de sua candidatura à reeleição, Merkel confirma a sua intenção de concorrer a um quarto mandato. Durante entrevista coletiva em 20/11, ela diz à liderança de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), estar preparada para chefiar a legenda na eleição parlamentar alemã, prevista para setembro ou outubro de 2017.