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Como a islamofobia afeta muçulmanos que vivem na Alemanha

16 de janeiro de 2024

Desde o brutal ataque terrorista do Hamas contra Israel, muçulmanos que vivem na Alemanha vêm notando aumento de assédio e ataques – trazendo à tona memórias do pós-11 de setembro.

Três mulheres usando véu andando em calçada
Nas últimas semanas, comunidade muçulmana na Alemanha relatou insultos e agressões contra mulheres que usam véusFoto: Monika Skolimowska/dpa/picture-alliance

"Revivi as semanas após o 11 de setembro. Sinto-me como se tivesse sido levado de volta para lá", diz Suleman Malik, um muçulmano que mora no estado da Turíngia, no leste da Alemanha, ao relembrar o ataque terrorista aos Estados Unidos ocorrido em 2001.

Malik sabe que muçulmanos em toda a Alemanha estão sofrendo mais recriminações desde o início da guerra de Israel contra o Hamas: mulheres sendo repreendidas por usarem lenços de cabeça, por exemplo, ou comunidades recebendo mensagens de ódio.

O paquistanês de 35 anos é, como se diz na Alemanha, um muçulmano bem integrado da comunidade Ahmadiyya, que começou como um movimento reformista no final do século 19. Malik fala alemão fluentemente, trabalha como consultor e é vice-prefeito do bairro de Reith, na cidade de Erfurt. Nos últimos anos, também se envolveu na construção de uma pequena mesquita nos arredores da cidade.

Muçulmanos como parceiros na luta contra o antissemitismo

Malik diz que as pessoas que sentem e expressam empatia pelo sofrimento de civis palestinos inocentes em Gaza são imediatamente "vistas como antissemitas, embora nem todo judeu ache que o governo israelense esteja agindo corretamente".

Ele condena o terror que o Hamas dirige a Israel e cita uma passagem do Alcorão que proíbe ataques a locais religiosos de outras pessoas. Também enfatiza que "os muçulmanos são obrigados a proteger a vida judaica" e que aqueles que não o fizeram não entenderam as lições do Islã. A sociedade alemã, diz, deveria ver os muçulmanos como parceiros na luta contra o antissemitismo.

Malik também falou à DW sobre seu estado, a Turíngia, e o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), cujo diretório local foi classificado pela inteligência interna alemã como uma organização extremista.

"Temos um partido que declarou a islamofobia como parte de seu programa político, e atualmente tem o apoio de quase um terço dos eleitores nas pesquisas de opinião", disse, acrescentando que extremistas de direita protestam em frente à mesquita de sua comunidade todas as semanas.

Estudo confirma sentimento antimuçulmano na Alemanha

Em junho de 2023, após anos de pesquisa, especialistas apresentaram um estudo abrangente intitulado Sentimento antimuçulmano – um balanço alemão. O governo federal alemão encarregou o Grupo de Especialistas Independentes sobre Sentimento Antimuçulmano (UEM) de elaborar o relatório após um ataque com motivação racial na cidade de Hanau, em fevereiro de 2020, no qual um extremista de direita matou nove pessoas de origem migratória.

O estudo ilustra o alcance do sentimento antimuçulmano na sociedade alemã, e mostra o quão pouco se sabe sobre ele. Durante muito tempo, por exemplo, os crimes de ódio contra muçulmanos raramente eram classificados como tal.

Além disso, o relatório deixa claro que "o sentimento antimuçulmano não é um fenômeno marginal na sociedade, mas está disseminado em grande parte da população alemã, e vem permanecendo em um nível consistentemente alto por muitos anos".

Mas, na esteira do sangrento ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023 contra Israel, e especialmente depois dos protestos nas ruas alemãs – alguns comemorando os ataques e até mesmo negando o direito de Israel de existir – o estudo foi pouco discutido.

Incêndio racista em Hesse?

Nas semanas que se seguiram ao ataque do Hamas, além do aumento de casos de antissemitismo, houve relatos de ataques a mesquitas, danos a propriedades e mensagens ameaçadoras contra muçulmanos na Alemanha.

O mais dramático desses casos ocorreu quando um edifício residencial em Wächtersbach, em Hesse, foi incendiado pouco antes do Natal. Grafites com os dizeres "fora estrangeiros!" foram escritos no prédio, levando as autoridades questionarem se o crime tinha motivação racial – uma investigação está em andamento. O local abrigava uma família do Paquistão que há muito tempo reside no vilarejo e cujos membros, como Malik, são bem integrados.

Malik disse estar frustrado com o fato de haver poucas estatísticas e poucos fatos quando se trata de ataques antimuçulmanos na Alemanha. Novas estatísticas sobre crimes contra muçulmanos nos últimos meses de 2023 ainda não foram publicadas, mas funcionários dos centros de informação dizem que houve um aumento significativo.

"Há uma população muçulmana considerável que vive feliz aqui na Alemanha e que compartilha os valores sociais do país", disse o ex-jornalista Suleyman Bag, em Berlim. "Estamos perdendo de vista essa normalidade."

Os muçulmanos são frequentemente apontados como o problema na sociedade alemã, mas os relatórios do Departamento Federal de Proteção da Constituição mostram que o extremismo de direita e de esquerda representa uma ameaça mais grave que o extremismo islâmico.

Uma forma de ódio não deve ocultar as outras

Talvez isso reflita também uma insegurança generalizada. Uma sociedade inquieta pela barbárie do terror e da guerra no Oriente Médio que, ao mesmo tempo, luta ela mesma contra tendências de radicalização e olha suas minorias com mais atenção.

Para Eren Güvercin, da Sociedade Alhambra, um grupo liberal fundado em 2017, não basta centrar-se em uma forma de racismo, como o sentimento antimuçulmano. Ele diz que, embora isso seja naturalmente uma "questão importante", precisamos evitar a "competição de vitimização", na qual a atenção a uma forma de ódio ignora as outras.

Güvercin afirma que, se a sociedade muçulmana não discutir abertamente seus próprios problemas, como os estereótipos antissemitas e o ódio aos judeus, ela não conseguirá ir além da discriminação que ela mesma sofre.

O mesmo, diz, vale para toda a Alemanha. "Os políticos e a sociedade precisam levar mais a sério a questão de como enfrentar o aumento do racismo". Disso deriva a importância do relatório de junho de 2023 sobre o sentimento antimuçulmano e as conclusões e sugestões que ele apresenta aos políticos – que têm uma responsabilidade maior para enfrentar o tema.

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