Como a Noruega se tornou líder em veículos elétricos
Nik Martin
15 de janeiro de 2025
Com subsídios e incentivos, país escandinavo está perto de alcançar sua meta de que todos os carros novos sejam elétricos. O que outros países podem aprender com os noruegueses?
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A Noruega se tornou a maior referência na transição dos veículos movidos a combustíveis fósseis para a eletromobilidade. No ano passado, estatísticas oficiais do governo mostraram que quase nove em cada dez automóveis vendidos eram elétricos.
Em 2023 – o ano mais recente para o qual há dados disponíveis – a taxa global de adoção de veículos elétricos foi de apenas 18%, de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE).
O país nórdico assumiu um compromisso notável com o combate às mudanças climáticas, impulsionado por fortes políticas governamentais, uma infraestrutura robusta e uma população cooperativa.
A meta da Noruega é que todos os automóveis de passeio comercializados no país sejam veículos com emissão zero até o fim de 2025, uma década antes da meta da União Europeia (UE), da qual não é um dos estados-membros.
Pioneirismo
A riqueza e o tamanho da Noruega desempenharam, sem dúvida, um papel nessa história de sucesso. O país tem uma população de 5,5 milhões e é uma das nações mais ricas do mundo graças as suas reservas substanciais de petróleo – as maiores da Europa depois da Rússia. No entanto, esses fatores por si só não explicam os notáveis progressos feitos.
O cientista Robbie Andrew, do Centro Internacional de Pesquisas sobre o Clima (Cicero), sediado em Oslo, avalia que o compromisso de décadas da Noruega com o desenvolvimento local de veículos elétricos foi um fator crítico.
"Na década de 1990, a Noruega se esforçou para criar uma empresa própria para fabricar veículos elétricos", explica Andrew, observando como a ausência de um lobby poderoso da indústria automobilística nacional facilitou essa iniciativa.
Embora as primeiras tentativas de produção de veículos elétricos tenham tido sucesso comercial limitado – apenas alguns milhares foram vendidos – elas promoveram a conscientização pública e a aceitação da eletromobilidade. Isso abriu caminho para a adoção generalizada de carros movidos a bateria produzidos por fabricantes globais, como Tesla e Volkswagen.
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Incentivos do governo
Além disso, políticas estatais favoráveis facilitaram a transição para os veículos elétricos. A Noruega não cobrava Imposto sobre Valor Agregado (IVA) ou taxas de importação sobre esses veículos, o que pode representar entre um terço e quase metade do custo de um carro novo.
Os veículos elétricos também eram isentos de pedágios e taxas de estacionamento. Eles podiam até usar faixas de ônibus dentro e no entorno de Oslo.
As classes sociais de renda mais alta foram as que mais se beneficiaram das isenções fiscais, e os veículos elétricos eram frequentemente o segundo carro da família.
Com a meta para 2025 quase alcançada, o governo recentemente reverteu alguns desses incentivos. O IVA agora é parcialmente aplicado a veículos elétricos grandes e luxuosos que custem mais de 500 mil coroas (R$ 265 mil). Consunidores de baixa renda ainda se beneficiam de muitos dos incentivos e da queda nos preços desses veículos.
O especialista Bjorne Grimsrud, diretor do centro de pesquisas de transporte TOI, sediado em Oslo, entende que os incentivos do governo têm sido "muito dispendiosos", mas pagáveis diante da riqueza do país e do desejo de ser climaticamente neutro até 2050.
"O governo costumava arrecadar 75 bilhões de coroas anualmente em impostos e pedágios sobre carros, mas isso foi cortado pela metade", observa Grimsrud.
Outras nações, como a Alemanha, são acusadas de retroceder em suas metas climáticas ao cortar subsídios para veículos elétricos novos muito antes de atingir seus objetivos. Recentemente a autoridade federal de transportes da Alemanha KBA revelou que o maior mercado automotivo da Europa registrou uma queda de 27,4% no número desses veículos.
Se a Alemanha, uma grande fabricante de carros elétricos, quiser atingir sua meta de ter 15 milhões de veículos elétricos nas ruas até 2030, precisará reavaliar decisões como essa.
Pontos de recarga domésticos
Outra vantagem no caso da Noruega é a sua matriz energética, uma das mais verdes e robustas do mundo. A energia hidrelétrica é responsável por mais de 90% da produção de eletricidade do país, normalmente produzindo um excedente de energia, o que ajudou a facilitar o carregamento de veículos elétricos nas residências.
Se a recarga é um desafio em outras partes da Europa, a maioria dos noruegueses pode carregar seus veículos elétricos em casa em vez de em pontos de recarga públicos.
Um estudo de 2022 da Associação Norueguesa de Veículos Elétricos descobriu que cerca de três quartos dos proprietários vivem em casas isoladas, o que torna mais fácil instalar pontos de recarga em suas moradias. Um relatório da empresa de consultoria LCP, sediada em Londres, revelou que 82% dos veículos elétricos na Noruega são carregados em casa, embora esse número seja menor nas áreas urbanas.
"A ubiquidade da recarga de nível 1 na Noruega provavelmente teve um impacto muito grande [na adoção de veículos elétricos]", diz Lance Noel, gerente de produtos da ONG Centro para Energia Sustentável, sediado em San Diego. O carregamento de nível 1 é a que usa tomadas convencionais, de menor potência, encontradas em residências, empresas e escolas.
Noel disse que outros países fariam bem em "pensar em maneiras mais baratas e visíveis de tornar os veículos elétricos integrados à sociedade", em vez de priorizar infraestruturas públicas de recarga rápida, conhecidas como níveis 2 e 3.
O mês de janeiro em imagens
Reveja alguns dos principais acontecimentos do mês
Foto: MATTHEW HINTON/AFP
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Foto: Jacquelyn Martin/AP Photo/picture alliance
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O número de mortos nos incêndios florestais que atingem a região de Los Angeles aumentou para 16, enquanto as equipes lutam para conter as chamas antes da chegada prevista de novas rajadas de ventos fortes capazes, potencialmente, de empurrar o fogo em direção a outras regiões da cidade. (12/01)
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Foto: EHL Media/IMAGO
Trump é sentenciado e será 1º presidente condenado dos EUA
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, foi sentenciado por sua condenação criminal decorrente do pagamento em dinheiro para silenciar uma atriz pornô. A penalidade, porém, não inclui multa, prisão ou liberdade condicional. O juiz aplicou ao republicano uma sentença de "dispensa incondicional", que reconhece a culpa do réu, mas não impõe uma pena específica. (10/01)
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Mujica, de 89 anos, revelou que o câncer em seu esôfago se espalhou para o fígado e que a progressão da doença não pode mais ser interrompida. "Não posso fazer nem um tratamento bioquímico nem uma cirurgia porque meu corpo não aguenta", disse. "O que eu peço é que me deixem em paz. O guerreiro tem direito ao descanso." (09/01)
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Incêndios deixam rastro de destruição na Califórnia
Incêndios florestais de enormes proporções atingiram a Califórnia e deixaram ao menos cinco mortos e dezenas de feridos. No condado de Los Angeles, cerca de 180 mil pessoas tiveram que deixar suas casas por ordem das autoridades, com as chamas consumindo uma área de 117 quilômetros quadrados. (08/01)
Foto: Ringo Chiu/REUTERS
Morre o extremista francês Jean-Marie Le Pen
Líder histórico da extrema direita francesa e pai da ultradireitista Marine Le Pen morreu aos 96 anos. Ele foi um dos fundadores do partido Frente Nacional, renomeado em 2018 para Reunião Nacional. Figura polarizadora na política francesa, Le Pen era conhecido por sua retórica inflamada contra a imigração e o multiculturalismo. (07/01)
Congresso dos EUA certifica vitória eleitoral de Trump
O Congresso dos EUA certificou Donald Trump como vencedor da eleição de 2024. A cerimônia aconteceu sem interrupções – em contraste à violência de 6 de janeiro de 2021, quando, com pelo menos aquiescência de Trump, uma multidão invadiu o Capitólio para impedir certificação de Joe Biden. Os legisladores se reuniram sob forte segurança para cumprir a data exigida pela lei eleitoral. (06/01)
Foto: Chip Somodevilla/Getty Images/AFP
Neve traz caos à Europa e aos Estados Unidos
Após um fim de ano com temperaturas relativamente amenas, nevou no Reino Unido e em outras partes da Europa. Pistas congeladas geraram transtorno nas estradas e levaram ao cancelamento de voos e fechamento de aeroportos, inclusive na Alemanha. Nos Estados Unidos, algumas áreas devem ter a pior nevasca da década. (05/01)
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Trens de longa distância operados pela alemã Deutsche Bahn batem recorde de atraso
Em 2024, 37,5% dos trens de longa distância registraram atraso superior a seis minutos – a maior taxa em 21 anos. Empresa atribuiu piora no desempenho à "infraestrutura ultrapassada e sobrecarregada", obras na rede ferroviária, aumento do tráfego, falta de mão de obra e eventos climáticos extremos, mas disse trabalhar em um plano de ação para melhorar sua pontualidade. (04/01)
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Milhares de alemães assinam petição contra uso de fogos de artifício
Mais de 270 mil alemães assinaram uma petição online pedindo a proibição de fogos de artifício particulares em todo o país, após um Ano Novo marcado por cinco mortes e dezenas de feridos pelo uso incorreto dos fogos. Em várias cidades, equipes de emergência foram atingidas pelos explosivos. Em Berlim, um policial ficou gravemente ferido e precisou ser operado. (03/01)
Foto: Christian Mang/REUTERS
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Uma centena de pessoas se reuniram em Seul para protestar contra o mandado de prisão imposto ao presidente deposto da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, acusado de insurreição. Apoiadores se posicionaram em frente à residência de Yoon, que se propôs a "lutar até o fim". Agentes já se posicionam no local para cumprir a ordem judicial. (02/01)
Foto: Philip Fong/AFP
Homem atropela multidão em Nova Orleans e deixa 10 mortos
Ataque ocorreu na Bourbon Street, uma rua turística com bares e clubes noturnos. Condutor do veículo morreu em confronto com policiais e FBI investiga "ato de terrorismo". Suspeito, um cidadão americano do Texas, carregava bandeira do Estado Islâmico. (01/01)