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Direitos humanosAfeganistão

Como a suspensão da ajuda dos EUA põe Afeganistão em risco

Masood Saifullah
7 de fevereiro de 2025

Governado pelo Talibã, país asiático carece de recursos para fornecer serviços básicos a seu povo. Especialistas alertam que um corte permanente da ajuda americana pode ter consequências devastadoras para os afegãos.

Uma faixa da Usaid vista em Herat, Afeganistão, em 2010.
Usaid tem financiado projetos no Afeganistão que auxiliam com serviços públicos essenciaisFoto: Jalil Rezayee/EPA/dpa/picture alliance

A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de suspender a assistência americana ao desenvolvimento estrangeiro e, ao mesmo tempo, restringir as operações da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) ameaça ter grande impacto no Afeganistão, que depende de ajuda externa para a manutenção de serviços essenciais.

Apesar de terem retirado suas tropas e outras autoridades do Afeganistão em agosto de 2021, os EUA são o maior doador do país. De acordo com um relatório do Gabinete do Inspetor Geral Especial para a Reconstrução do Afeganistão (Sigar), Washington "destinou ou disponibilizou mais de US$ 21 bilhões [R$ 121,3 bilhões] em assistência ao Afeganistão e aos refugiados afegãos" desde que o Talibã assumiu o controle total do país.

Os EUA afirmam que os fundos humanitários são direcionados ao povo afegão, com salvaguardas para impedir que os fundamentalistas islâmicos no poder tenham acesso a eles.

Talibã "à beira do caos"

O Talibã, porém, tem se beneficiado indiretamente do fluxo de dólares americanos, que ajudaram a estabilizar a moeda afegã e a mitigar o risco de inflação excessiva. A suspensão da ajuda americana ameaça derrubar esse frágil equilíbrio. "A suspensão da assistência americana, incluindo o financiamento da Usaid, provocou caos entre os talibãs," confirma o ex-diplomata afegão Ghaus Janbaz.

Diversos especialistas argumentam que a assistência estrangeira ao Afeganistão, incluindo as centenas de milhões de dólares fornecidos anualmente pelos EUA, acabaram inadvertidamente ajudando o Talibã a manter seu controle. Com o fluxos de verbas secando, o Talibã pode sucumbir às demandas internacionais ou enfrentar uma oposição mais forte dentro do próprio país.

"Nos últimos três anos, os talibãs não conseguiram estabelecer uma economia autossustentável, o que os tornou altamente dependentes desse tipo de ajuda", acrescenta Janbaz.

Povo afegão pagará o preço, dizem ativistas

Desde que recuperaram o controle do Afeganistão, os talibãs têm sistematicamente negado às mulheres direitos básicos, como educação e trabalho fora de casa. O regime lhes proíbe mostrar o rosto ou mesmo falar em público. A questão dos direitos femininos continua sendo um grande obstáculo para qualquer país que estabeleça relações oficiais com o regime. Em consequência, nenhum Estado reconheceu formalmente o Talibã como governo afegão legítimo.

O grupo tampouco conseguiu estabelecer um governo inclusivo ou introduzir um processo para que os cidadãos afegãos participassem da vida pública. Embora os apelos por uma pressão maior sobre o Talibã tenham se intensificado, há receios de que cortar a ajuda vital só acarretará mais sofrimento para o povo afegão.

"Segundo relatórios da ONU, 26 milhões de cidadãos do Afeganistão dependem de ajuda estrangeira para sobreviver," informa a ativista afegã de direitos das mulheres Wazhma Frogh, que mora no exterior e trabalha com organizações humanitárias que ainda operam no Afeganistão. "Se as organizações humanitárias perdem acesso a esses fundos, serão incapazes de fornecer até mesmo a assistência mais básica."

"Os talibãs não têm nenhuma agenda de apoio ou desenvolvimento para o povo. A única assistência vem da ONU, de agências internacionais e de ONGs afegãs." Frogh alerta que a decisão de Trump de cortar a ajuda humanitária irá piorar significativamente as condições para o afegão comum.

Nenhum plano de Trump para o Afeganistão?

A diminuição da assistência ao Afeganistão é resultado das ordens executivas abrangentes do presidente americano, que não foram direcionadas especificamente contra o país asiático, mas à ajuda ao desenvolvimento como um todo.

O Afeganistão parece ter ficado à margem da atual agenda de política externa de Trump, com os conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia no centro das atenções.

Durante uma coletiva de imprensa conjunta com o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, em 4 de fevereiro, Trump foi questionado por uma jornalista afegã sobre seus planos para o Afeganistão. Ele respondeu que não conseguia entender "seu lindo sotaque". Não ficou claro se ele realmente não compreendeu a pergunta, ou se a estava evitando.

"Não acho que o governo Trump tenha um plano para o Afeganistão ainda", conclui Frogh. No entanto, o presidente tem falado abertamente sobre suas demandas ao Talibã: a devolução do equipamento militar deixado pelos EUA, e o controle sobre a base aérea de Bagram, que Trump alega estar agora sob influência chinesa – o que o Talibã nega.

De acordo com o ex-diplomata Janbaz, essas observações não refletem uma estratégia concreta dos EUA em relação ao Afeganistão, mas são parte da retórica da campanha trumpista: "O tempo dirá como Trump lida com o Afeganistão, mas está claro que sua abordagem não será a mesma do primeiro mandato."

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