Em junho, um dos computadores do telescópio espacial parou de funcionar, após 31 anos de espetaculares imagens de galáxias distantes. Para reativá-lo, a Nasa precisou convocar quem presenciou os primórdios do projeto.
Anúncio
Parece coisa de Hollywood. Há 31 anos o telescópio Hubble orbita a Terra a cerca de 550 quilômetros de altura, fornecendo imagens fascinantes de estrelas e galáxias distantes. Originalmente, a missão da Nasa deveria durar apenas 15 anos, mas o espião sideral continua voando, já tendo enviado até agora 1,5 milhão de fotos para a Terra.
A arte por trás das imagens do telescópio Hubble
04:56
Até que, em 13 de junho de 2021, parou de funcionar o chamado computador de carga útil (payload computer), que controla e coordena os instrumentos científicos a bordo do observatório. Quando ele parou de enviar dados ao computador principal, este colocou automaticamente em estado de hibernação todo o equipamento científico. Todas as tentativas da equipe de solo de reinicializar a unidade desativada através do computador principal, fracassaram.
Em princípio, não havia motivo para pânico: afinal, justamente para casos extremos, todos os componentes importantes do Hubble existem em duplicata. Então, também o equipamento desativado tinha seu backup, que fora substituído durante a última missão de manutenção do Hubble, em 2009. Mas, em se tratando de um computador desses, não se pode simplesmente apertar o botão de ligar.
O que fazer com uma fita cassete e um disquete?
Como é possível que, na altamente tecnológica Nasa, ninguém mais saiba como os aparelhos funcionavam, antigamente? É como se alguém achasse uma velha caixa no porão cheia de lembranças de infância, entre as quais uma fita cassete com suas canções preferidas e um disquete. Enquanto a pessoa se pergunta quem ainda teria um gravador cassete e um leitor de disquete, seu netinho não tem a menor ideia de o que sejam aqueles estranhos cacarecos de plástico.
Anúncio
Esse exemplo banal serve para ilustrar a rapidez com que a tecnologia se transforma e, com ela, o conhecimento técnico para usá-la ou repará-la. E, no caso da operação de salvamento da Nasa, qualquer erro poderia ter significado o fim irreversível da missão Hubble.
Por via das dúvidas, Nzinga Tull, diretora da equipe de emergência do observatório, reuniu também antigos engenheiros que colaboraram no projeto. Afinal, como reconhece a Nasa, para consertar um telescópio espacial construído na década de 1980, eram necessários os conhecimentos de todos os envolvidos na história do Hubble.
"A cooperação foi inspiradora"
Mais de 50 indivíduos participaram da operação de salvamento de duas semanas. Primeiro, os antigos e novos membros da equipe estudaram juntos a lista dos possíveis pontos fracos, a fim de tentar delimitar o problema.
Alguns veteranos da Nasa, que colaboraram na construção do telescópio, ainda conheciam a velha unidade de processamento de comandos e dados do computador de carga útil. Outros aposentados encontraram na documentação original do Hubble, datando de 30 a 40 anos atrás, as instruções necessárias a contornar a pane.
"Essa é a vantagem de um programa que corre há mais de 30 anos: o incrível volume de experiência e conhecimento especializado", comenta Tull. "Foi inspirador cooperar tanto com a equipe atual como com os que passaram a outros projetos. Eles mostram tanta dedicação por seus colegas do Hubble, pelo observatório e a ciência!"
Passo a passo, a inicialização do computador foi calculada num simulador do centro de controle da Nasa. Unindo todas as forças, o computador de backup pôde ser ativado com sucesso em 15 de julho, após uma pausa de cinco semanas.
Dois dias mais tarde, os instrumentos voltaram a fornecer fascinantes imagens de pontos distantes do espaço sideral. Na primeira delas, veem-se duas galáxias que acabaram de se fundir na constelação de Capricórnio, com três braços – tudo graças à cooperação dos aposentados da Nasa.
Vinte e cinco anos do Hubble
Em um quarto de século a serviço da ciência, telescópio espacial forneceu milhares de imagens do cosmos que revolucionaram nossa concepção do universo e da criação.
Foto: NASA/ESA/B. Whitmore
De olho no universo
Desde 1990, o veterano da telescopia espacial encontra-se em órbita em torno da Terra, a 600 quilômetros de altura e a uma velocidade de 28 mil quilômetros por hora. O Hubble tem mais ou menos as medidas de um ônibus: 11 metros de comprimento e cerca de 11 toneladas.
Foto: NASA/Getty Images
Bolha cósmica
Uma estrela jovem e extremamente quente libera uma gigantesca esfera de gases. O Hubble tem ajudado a compreender o nascimento de estrelas e planetas, determinar a idade do universo e estudar a misteriosa matéria escura que provoca a expansão do universo.
Foto: AP
Photoshop cósmico
A nebulosa Carina é umas principais zonas onde nascem estrelas na nossa galáxia. As cores nesta incrível fotografia não são apenas belas, mas também revelam muito sobre as propriedades químicas dos gases componentes. Na verdade trata-se de "photoshopagem", elas são adicionadas por especialistas a posteriori, a partir das informações disponíveis. As fotos originais do Hubble são preto e branco.
Foto: picture-alliance/dpa/Eso/Ho
Cores diáfanas
As diversas tonalidades nesta foto revelam as várias substâncias presentes. O vermelho, por exemplo, indica a presença de enxofre, o verde representa hidrogênio e o azul, oxigênio.
No entanto, as primeiras fotos tiradas pelo telescópio espacial eram totalmente imprestáveis: o espelho principal, de 2,4 metros, havia sido polido de forma errada. Em 1993, a nave espacial Endeavour partiu em direção ao Hubble, que ganhou então uma lente corretiva –"óculos", em termos humanos. Ao todo já houve cinco missões de manutenção e atualização de equipamentos, a mais recente em 2009.
Foto: picture-alliance/dpa/Nasa
Creche do cosmo
Esta espetacular foto foi tirada em dezembro de 2009. Os pontos azuis são estrelas muito jovens, contando apenas uns poucos milhões de anos. Essa creche estelar se encontra na Grande Nuvem de Magalhães, uma outra galáxia da nossa Via Láctea.
Foto: picture-alliance/dpa/Nasa
Uma borboleta?
Flagrante no espaço: ninguém sabe muito bem o que o Hubble captou nesta imagem, mas ela dá asas à imaginação. Esta frágil e misteriosa aparição é um dos 30 mil objetos celestes que o telescópio registrou para a eternidade.
Foto: NASA/ESA/ Hubble Heritage Team
Aparição mística
Como a maioria das imagens do Hubble, esta – quase metafísica – é composta por diversas fotografias. A Galáxia do Sombreiro se localiza na constelação de Virgem, a meros 28 milhões de anos-luz de nosso planeta.
Foto: NASA/ESA/ Hubble Heritage Team
Hubble, pai
O telescópio espacial foi batizado em homenagem a Edwin Powell Hubble (1889-1953). O astrônomo americano foi quem descobriu que a maioria das galáxias vai se afastando da Via Láctea. Assim ele lançou as bases para a Teoria do Big Bang, defendida pela moderna cosmologia.
Foto: picture-alliance/dpa
Colunas da criação do universo
Estas estruturas em forma de coluna se localizam na Nebulosa da Águia, que fica cerca de 7 mil anos-luz distante da Terra. Fotografadas pelo Hubble, elas correram mundo sob o cognome de "Colunas da Criação".
Foto: NASA, ESA/Hubble and the Hubble Heritage Team
James Webb a postos
O Hubble ainda continuará prestando seus serviços por algum tempo. No entanto, sua órbita vem perdendo altura e pode ser que, em 2024, ele retorne à atmosfera terrestre, entrando em incandescência. Seu sucessor já está a postos: o James Webb ganha o espaço já em 2018, para orbitar a 1,5 milhão de quilômetros da Terra.
Foto: picture-alliance/dpa/Nasa/Chris Gunn
Carinha feliz
Até lá, o Hubble prossegue alegremente sua missão e, espera-se, continuará fornecendo outros fascinantes vislumbres do espaço sideral. Este é, aliás, seu mais recente instantâneo: um "smiley" no cosmos. Sem entrar em detalhes mais técnicos: a carinha feliz resulta de um fenômeno físico, a luz curva.