Meu nome é Keila, tenho 22 anos e sou natural de Serro, Minas Gerais. A primeira vez que me inscrevi no Enem foi em 2017, como treineira. Eu tinha 16 anos, estava no segundo ano do ensino médio e sonhava em ingressar o quanto antes na faculdade de medicina para me tornar uma neurocirurgiã. Lembro-me de estar muito animada antes de começar a avaliação, afinal eu era uma boa aluna na escola, e de sentir uma enorme frustração durante a prova ao perceber que não havia recebido a devida instrução sobre o que realmente o Enem era.
Não sabia da concorrência por vagas, modelo das questões, redação, sistema de correção, cursinhos preparatórios, nada. Sempre tirei as melhores notas no ensino médio, mas nada que me ajudasse a conseguir a classificação para meu curso desejado. Após uma prova tão complexa e que demandava muita interpretação e raciocínio lógico, me senti lesada, e veio o choque de realidade: eu teria que me esforçar bem mais para concorrer pela tão sonhada vaga na universidade e possivelmente não poderia contar com a escola, pelo menos não somente com ela.
Logo de cara me propus a me inscrever em um cursinho e a seguir um cronograma de estudos monitorado, para que eu pudesse conciliar meu trabalho com os estudos. Porém, algum tempo depois, percebi que isso não seria o suficiente, e que havia me esquecido do mais importante em uma preparação para vestibulares: o meu psicológico.
A pressão que eu sentia, por achar que não iria dar tempo de estudar todo o conteúdo e que eu não daria conta, me deixou exausta psicologicamente, sem motivação. Eu me sentia totalmente incapaz e acabava procrastinando e sofrendo por antecipação. Esses problemas prejudicaram meu desempenho nas provas, e foi aí que percebi que precisava de ajuda para trabalhar isso em mim.
Falta de direcionamento nas escolas e despreparo mental
Procurei encaixar exercícios físicos e momentos de lazer nos intervalos dos meus estudos. Essa foi a virada de chave de que eu precisava para manter o foco em meu objetivo. Continuei buscando meios de obter o maior número de informações e conhecimentos necessários para ir bem nas provas, mas também busquei me manter saudável e feliz.
Felizmente, na edição atual do Enem, não senti muita dificuldade, e isso se deve à familiarização com a estrutura do exame, pois eu já sabia o que esperar. Foi muita preparação, estudo, análise das questões e de estratégias que me trouxeram essa inteligência emocional para lidar com a situação. Dessa forma, minha experiência com o Enem 2022 foi razoavelmente positiva.
No entanto, lembro de quando fiz o exame pela primeira vez e sinto muito por todos aqueles que não tiveram, pelo menos não ainda, acesso às mesmas informações, suporte e ajuda que hoje eu tenho. Entendo que para eles, infelizmente, a percepção não tenha sido a mesma que a minha e que provavelmente tiveram muita dificuldade.
Comparando minha primeira à minha atual experiência com o exame, percebi, portanto, dois grandes problemas: a falta de direcionamento nas escolas e o despreparo mental dos jovens estudantes.
O Enem vem se modificando ao longo dos anos e tem deixado de lado seu principal objetivo, que é avaliar o desempenho do estudante ao final do ensino básico. Especificamente, nesta edição de 2022, vejo que o aluno que não estivesse realmente preparado física e psicologicamente, teria dificuldade em resolver a prova. Questões extensas e com alto grau de interpretação foram escolhidas para fazer parte das 180 que compõem o exame, cada vez mais exaustivo, levando o candidato a se sentir pressionado. E aí muitos acabam errando questões por falta de atenção, tendo assim, infelizmente, seu desempenho prejudicado.
Outro grande problema do exame são os temas de redação abordados, que muitas vezes são bastante complexos e completamente desconhecidos dos estudantes. Temas que geralmente não são abordados nas escolas, o que evidencia um nítido descaso governamental perante esse problema. Desse modo, muitos jovens sofrem com a pressão psicológica, ficando ansiosos e desesperados, o que os leva muitas vezes a optar por deixar em branco sua redação, zerando sua nota e consequentemente reduzindo as chances de ingressar em uma universidade.
Conhecimento ninguém tira
Se eu tivesse a oportunidade de conversar com a Keila de 2017, eu diria que é essencial que ela se preparasse melhor e estudasse mais para ter um excelente desempenho nos vestibulares e na vida acadêmica, não se esquecendo de cuidar da sua saúde mental.
De acordo com o World University Rankings 2023, da consultoria britânica Times Higher Education, o Brasil possui 62 das melhores universidades do mundo, e, caros leitores: uma delas é para você. Estude, acredite, tenha foco e perseverança em seus objetivos que você terá êxito. Não se deixe abater pelo cansaço, desânimo, sensação de insuficiência, falta de apoio de familiares e amigos ou pela falta de ajuda do Estado.
O caminho até a aprovação pode parecer difícil, mas tenho certeza que valerá todo o esforço depositado em você. O conhecimento é a única coisa que ninguém pode lhe roubar, então continue tentando vencer enquanto lhe for permitido se inscrever para a seleção do ensino superior brasileiro, porque será isso que irei fazer até concretizar o meu objetivo.
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Vozes da Educação é uma coluna quinzenal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do Salvaguarda no Instagram em @salvaguarda1
Este texto foi escrito pela estudante Keila Cristina Meireles Silva, de Serro (MG), e reflete a opinião da autora, não necessariamente a da DW.