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Como cada país votou na eleição para o Parlamento Europeu

10 de junho de 2024

Resultados mostram avanço da ultradireita em países como Alemanha, França e Itália. Pleito europeu funciona como termômetro para eleição nacional.

Freiras votam nas eleições europeias em 9 de junho de 2024 em Pamplona, na Espanha
Os 27 países fizeram eleições para definir a composição do próximo Parlamento EuropeuFoto: Alvaro Barrientos/AP/picture alliance

Os resultados já conhecidos das eleições ao Parlamento Europeu consolidaram o esperado avanço da ultradireita na Europa, ainda que aquém do previsto, e a manutenção do centro (formado por conservadores, social-democratas e liberais) como a maior força.

A nova composição revela um parlamento mais fragmentado e expõe a divisão política interna em alguns dos 27 países-membros, como Alemanha e Itália. Na França, o avanço da ultradireita levou o presidente Emmanuel Macron a dissolver a Assembleia Geral e convocar nova eleição.

A contagem de votos é feita por cada país, que possui regras próprias para o pleito. Os cidadãos votam em partidos nacionais, que formam alianças com siglas transnacionais para formar as bancadas do legislativo de 720 assentos. Por isso, a eleição para o Parlamento Europeu é tomada como um termômetro para a disputa nacional.

A sigla de centro-direita dos conservadores cristãos Partido Popular Europeu (PPE) conquistou 185 assentos, seguida pela centro-esquerda Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D), com 137, e a coalizão liberal Renovar a Europa, com 79, segundo a contagem oficial preliminar do Parlamento Europeu divulgada nesta segunda-feira (10/06). 

Grupos compostos por partidos da ultradireita, como os Conservadores e Reformistas Europeus (ECR) e o Identidade e Democracia (ID), obtiveram 73 e 58 assentos, respectivamente. O grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia assegurou apenas 52 vagas no Parlamento e a Esquerda, 36. Candidatos independentes, não vinculados a nenhuma bancada, devem ficar com 100 assentos, o que inclui eleitos de partidos de ultradireita que não fazem parte de alianças, como a alemã AfD e o húngaro Fidesz.

A seguir os resultados em alguns países.

Países com maior número de assentos

Alemanha

Na Alemanha, os partidos conservadores União Democrata Cristã (CDU), da atual presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e União Social Cristã (CSU), saíram vitoriosos, engrossando com 29 cadeiras a bancada do grupo transnacional Partido Popular Europeu (PPE). Eles foram seguidos pela legenda de ultradireita  Alternativa para a Alemanha (AFD). O partido foi expulso do grupo Identidade e Democracia (ID) semanas antes das eleições após uma série de escândalos e, por isso, vai ocupar 15 cadeiras no parlamento de forma independente.

Ursula von der Leyen deve ser reconduzida à presidência da Comissão EuropeiaFoto: Fabian Immer/REUTERS

A coalizão do Grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia elegeu 16 deputados em aliança com 3 partidos nacionais. Já o Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D), composto na Alemanha pelo Partido Social Democrata (SPD), do chanceler federal Olaf Scholz, conquistou apenas 14 cadeiras.

A coalizão Renovar a Europa ficou com 8 cadeiras (sendo 5 do partido liberal FDP e 3 do Freie Wähler), e a Esquerda, com 4. Outros partidos independentes receberam 9 votos. O ID e o ECR não elegeram deputados na Alemanha.

Co-líderes Alice Weidel e Tino Chrupalla sorriem e se abraçam: na ultradireitista AfD, que teve o segundo melhor desempenho nas eleições europeias dentro da Alemanha, clima era de celebraçãoFoto: FILIP SINGER/EPA

França

Na França, a ultradireita saiu vitoriosa com a eleição de 30 nomes do grupo Identidade e Democracia. É a maior bancada conquistada pela coalizão de ultradireita em todos os países cujos resultados preliminares foram divulgados. Já o S&D conquistou os mesmos 13 lugares na França que o Renovar a Europa, seguidos pela Esquerda, com 9 eleitos, e pelo PPE, com 6. O Grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR) e os Verdes elegeram 5 eurodeputados cada.

A vitória expressiva do ID, impulsionada pelos votos no partido de ultradireita Reagrupamento Nacional (RN), de Marine Le Pen, fez o presidente Emmanuel Macron anunciar a dissolução da Assembleia Nacional  e convocar uma eleição legislativa antecipada. É a primeira vez que isso acontece no país desde 1997. Macron defendeu a medida como forma de "devolver a escolha" dos futuros parlamentares franceses à população. "Partidos de ultradireita (...) estão progredindo em todo o continente. É uma situação à qual não posso me resignar", disse.

O RN ganhou as eleições europeias de domingo com 31,37% dos votos, seguindo-se a coligação do partido de Macron, com 14,60%, e a coligação dos socialistas, com 13,83%. 

Macron dissolve Parlamento francês e anuncia novas eleiçõesFoto: Stephane Lemouton/Bestimage/IMAGO

Espanha

Com 66 vagas no Parlamento Europeu, a eleição na Espanha resultou num maior equilíbrio entre os grupos de centro. O grupo PPE obteve um número estimado de 22 vagas, seguida pelo S&D, com 20. O ECR, que inclui o partido espanhol de extrema direita Vox, fez 6 cadeiras. Os verdes elegeram 4 deputados, a Esquerda, 3, e o Renovar a Europa, apenas 1. Independentes somaram 5 lugares.

Itália

Já a Itália viu o partido ultradireitista Irmãos da Itália, da primeira-ministra Giorgia Meloni, conquistar a maior bancada para o ECR, com 24 assentos – é o maior número de eleitos para a coalizão em um único país.

Segundo os resultados preliminares, os Irmãos da Itália venceram o pleito com 28,8% dos votos, contra 24,1% do Partido Democrático (PD, centro-esquerda), que se confirma como a grande força da oposição. Em 2022, os Irmãos de Itália venceram as eleições nacionais com 26% dos votos, permitindo a Meloni tornar-se a primeira mulher a governar a Itália, à frente de um governo de coalizão de direita e extrema direita que é formado também pela Liga e a Força Itália. 

Partido da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, saiu vitorioso nas eleições para o Parlamento EuropeuFoto: GIUSEPPE LAMI/ANSA/EPA

A Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D) conquistou 20 vagas e o PPE, 9. A ultradireita também avançou com outras 8 cadeiras obtidas pelo ID. Eleitos não-vinculados a grupos do Parlamento Europeu somam 12 assentos, e os verdes chegaram a 3 deputados.

Polônia

A Polônia também consolidou o avanço da direita. ECR e PPE empataram com 20 deputados cada. Renovar a Europa e S&D também empataram com 3 assentos conquistados por partido. Outras siglas somaram 8 vagas para o país no Parlamento Europeu.

Países com menor número de assentos:

Portugal

Em Portugal, as urnas deram larga vitória para os grupos de centro. Foram 8 vagas obtidas pelo S&D e 7 para o PPE. A iniciativa liberal Renova a Europa, a Esquerda e o grupo de extrema direita Chega elegeram 2 deputados cada. Portugal tem 21 cadeiras no Parlamento Europeu.

O Partido Socialista (PS) venceu as eleições com 32,09% dos votos, à frente da coalizão de centro-direita Aliança Democrática (AD), liderada pelo primeiro-ministro Luís Montenegro, que obteve 31,12% dos votos. Em terceiro lugar ficou o partido de ultradireita Chega, com 9,79%, seguido pela Iniciativa Liberal (IL), com 9,07%. Essa é a primeira vez que ambos conseguem representação no Parlamento Europeu. Logo atrás deles ficaram o Bloco de Esquerda (4,25%) e o Partido Comunista (4,12%), ambos com um eurodeputado. 

Hungria

Os resultados preliminares na Hungria confirmam a vitória do partido nacionalista do primeiro-ministro Viktor Orbán, com 43,8%. A legenda Fidesz-KDNP levou, sozinha, 10 deputados ao Parlamento Europeu, onde vão atuar de forma independente. O grupo do Partido Popular Europeu (PPE) ficou com 8 vagas e o S&D, com 2. Outros partidos elegeram apenas um deputado para o Parlamento.

De acordo com os resultados parciais, o Fidesz perdeu uma quantidade significativa de votos em comparação com as eleições europeias de 2019, quando obteve 52,5%.

Bélgica           

Os resultados na Bélgica até o momento mostram uma disputa equilibrada entre os grupos políticos. A centro-esquerda do S&D e a centro-direita do PPE receberam 4 assentos cada. Renovar a Europa também elegeu 4 deputados, seguida pelo ECR, com 3, Verdes, com 2 e a Esquerda, também com 2.

Logo após os primeiros resultados, o primeiro-ministro Alexander De Croo anunciou a sua renúncia devido ao desastre eleitoral do seu partido, o liberal flamengo Open Vld, nas eleições. Ele felicitou os vencedores, o partido nacionalista flamengo N-VA (3 assentos) e o partido de extrema direita Vlaams Belang (também 3 assentos), bem como o partido socialista flamengo Vooruit, que obteve 2 assentos. Os maus resultados do partido liberal flamengo contrastam com o bom desempenho alcançado pelos liberais francófonos do MR (3 assentos) em Bruxelas e na Valônia.

Grécia

Os conservadores do PPE venceram o pleito na Grécia, conquistando 7 vagas no Parlamento. É o único país em que a Esquerda ocupa o segundo lugar isolado até agora, com 4 eleitos pelo Syriza, o partido que governou sob o comando do então primeiro-ministro Alexis Tsipras durante a grave crise financeira de 2010 a 2018. O S&D ficou com 3 assentos e o ECR, com 2. Independentes vão ocupar 5 vagas. 

Outros

Áustria e Holanda também são países que saem divididos das eleições europeias.

Os austríacos cederam 6 votos para o Grupo Identidade e Democracia, com votação obtida pela legenda nacionalista Partido Austríaco da Liberdade (FPÖ). Os democratas-cristãos do PPE obtiveram 5 cadeiras, bem como o S&D. Renovar a Europa e os Verdes ficaram com 2 assentos cada.

Já a Holanda registrou um dos melhores desempenhos dos liberais do Renovar a Europa, com 7 deputados eleitos. O grupo Identidade e Democracia elegeu 6, seguido por PPE, com 5 e S&D, também com 5 eleitos. Verdes conquistaram 4 assentos, enquanto o ECR e a Esquerda levaram um deputado cada ao Parlamento. Outros partidos elegeram 2 deputados.