Após o ataque iraniano, surge a pergunta: qual será a reposta de Israel? Um órgão multipartidário criado logo após o início da guerra em Gaza deve desempenhar um papel central nessa questão.
Os israelenses não reagiram até o momento e afirmaram que a reposta será "na forma e no momento certo". Seus aliados, inclusive os EUA, têm apelado para que os israelenses ajam com cautela. De acordo com o especialista em Israel Peter Lintl, do Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP), a resposta israelense, a depender da sua natureza, pode ter consequências de longo alcance para o futuro próximo do Oriente Médio.
Antes mesmo de os primeiros drones chegarem a Israel, o Irã se apressou em falar que a ofensiva seria limitada e que considerava o assunto "concluído". Alguns especialistas apontaram que o ineficiente ataque iraniano parece ter sido "performático", funcionando mais como uma advertência a Israel.
Nesta terça-feira (16/04), o gabinete israelense realizou sua quinta reunião desde o ataque iraniano. Aparentemente, ainda não houve um consenso entre o colegiado sobre como responder ao Irã.
Quem vai decidir qual será resposta de Israel?
As decisões decisivas devem ser tomadas pelo gabinete de guerra de Israel, um órgão multipartidário criado logo após o início da guerra entre Israel e o Hamas, em outubro. Sua tarefa é direcionar o curso da guerra, sendo legalmente subordinado ao gabinete de segurança israelense. O ataque iraniano está de certa forma ligado à guerra de Israel na Faixa de Gaza, pois o Irã é um apoiador e financiador aberto da organização terrorista Hamas.
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Quem são os membros do gabinete de guerra?
O gabinete de guerra é chefiado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, do partido conservador Likud. Os outros dois membros são o ministro da Defesa, Yoav Gallant, também do Likud, e Benny Gantz, da aliança partidária HaMahane HaMamlachti. O líder da oposição, Yair Lapid, recusou-se a participar.
O general reformado Gadi Eisenknot, o presidente do partido Shass, Arie Deri, e o ministro de Assuntos Estratégicos, Ron Dermer (Likud), foram nomeados observadores do colegiado. Embora não tenham direito a voto, eles participam das reuniões.
Por que o gabinete foi formado?
O atual gabinete regular de Netanyahu é considerado o governo mais direitista que Israel já teve. De acordo com o cientista político Peter Lintl, o fato de o gabinete de guerra ser mais equilibrado serve para legitimar melhor as decisões políticas e militares que vêm sendo tomadas durante a guerra contra o Hamas. "Netanyahu já havia perdido muito apoio devido à polêmica reforma judicial, e o ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro aumentou ainda mais a pressão", avalia Lintl.
Dessa forma, o primeiro-ministro avaliou que as decisões relativas à guerra não seriam executadas sem o apoio de uma ampla coalizão e que haveria pressão crescente para que ele renunciasse.
Qual é a posição do gabinete em relação ao ataque do Irã?
"Um contra-ataque militar é muito provável, a questão é quando, como e onde", supõe Peter Lintl. Os membros do gabinete têm opiniões diferentes sobre o que poderia ser um contra-ataque adequado. Reações simbólicas ou ataques cibernéticos também são concebíveis. "Só podemos ter a esperança que um contra-ataque israelense não seja imediato e tenha um escopo limitado para evitar uma escalada maior no conflito do Oriente Médio", avalia o cientista político.
A longa história do processo de paz no Oriente Médio
Por mais de meio século, disputas entre israelenses e palestinos envolvendo terras, refugiados e locais sagrados permanecem sem solução. Veja um breve histórico sobre o conflito.
Foto: PATRICK BAZ/AFP/Getty Images
1967: Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU
A Resolução 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada em 22 de novembro de 1967, sugeria a troca de terras pela paz. Desde então, muitas das tentativas de estabelecer a paz na região referiram-se a ela. A determinação foi escrita de acordo com o Capítulo 6 da Carta da ONU, segundo o qual as resoluções são apenas recomendações e não ordens.
Foto: Getty Images/Keystone
1978: Acordos de Camp David
Em 1973, uma coalizão de Estados árabes liderada pelo Egito e pela Síria lutou contra Israel no Yom Kippur ou Guerra de Outubro. O conflito levou a negociações de paz secretas que renderam dois acordos 12 dias depois. Esta foto de 1979 mostra o então presidente egípcio Anwar Sadat, seu homólogo americano Jimmy Carter e o premiê israelense Menachem Begin após assinarem os acordos em Washington.
Foto: picture-alliance/AP Photo/B. Daugherty
1991: Conferência de Madri
Os EUA e a ex-União Soviética organizaram uma conferência na capital espanhola. As discussões envolveram Israel, Jordânia, Líbano, Síria e os palestinos – mas não da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) –, que se reuniam com negociadores israelenses pela primeira vez. Embora a conferência tenha alcançado pouco, ela criou a estrutura para negociações futuras mais produtivas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Hollander
1993: Primeiro Acordo de Oslo
Negociações na Noruega entre Israel e a OLP, o primeiro encontro direto entre as duas partes, resultaram no Acordo de Oslo. Assinado nos EUA em setembro de 1993, ele exigia que as tropas israelenses se retirassem da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e que uma autoridade palestina autônoma e interina fosse estabelecida por um período de transição de cinco anos. Um segundo acordo foi firmado em 1995.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Sachs
2000: Cúpula de Camp David
Com o objetivo de discutir fronteiras, segurança, assentamentos, refugiados e Jerusalém, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, convidou o premiê israelense Ehud Barak e o presidente da OLP Yasser Arafat para a base militar americana em julho de 2000. No entanto, o fracasso em chegar a um consenso em Camp David foi seguido por um novo levante palestino, a Segunda Intifada.
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Edmonds
2002: Iniciativa de Paz Árabe
Após Camp David, seguiram-se encontros em Washington e depois no Cairo e Taba, no Egito – todos sem resultados. Mais tarde, em março de 2002, a Liga Árabe propôs a Iniciativa de Paz Árabe, convocando Israel a se retirar para as fronteiras anteriores a 1967 para que um Estado palestino fosse estabelecido na Cisjordânia e em Gaza. Em troca, os países árabes concordariam em reconhecer Israel.
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2003: Mapa da Paz
Com o objetivo de desenvolver um roteiro para a paz, EUA, UE, Rússia e ONU trabalharam juntos como o Quarteto do Oriente Médio. O então primeiro-ministro palestino Mahmoud Abbas aceitou o texto, mas seu homólogo israelense Ariel Sharon teve mais reservas. O cronograma previa um acordo final sobre uma solução de dois estados a ser alcançada em 2005. Infelizmente, ele nunca foi implementado.
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2007: Conferência de Annapolis
Em 2007, o então presidente dos EUA George W. Bush organizou uma conferência em Annapolis, Maryland, para relançar o processo de paz. O premiê israelense Ehud Olmert e o presidente da ANP Mahmoud Abbas participaram de conversas com autoridades do Quarteto e de outros Estados árabes. Ficou acordado que novas negociações seriam realizadas para se chegar a um acordo de paz até o final de 2008.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thew
2010: Washington
Em 2010, o enviado dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, convenceu o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, a implementar uma moratória de 10 meses para assentamentos em territórios disputados. Mais tarde, Netanyahu e Abbas concordaram em relançar as negociações diretas para resolver todas as questões. Iniciadas em setembro de 2010, as negociações chegaram a um impasse dentro de semanas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Milner
Ciclo de violência e cessar-fogo
Uma nova rodada de violência estourou dentro e ao redor de Gaza no final de 2012. Um cessar-fogo foi alcançado entre Israel e os que dominavam a Faixa de Gaza, mas quebrado em junho de 2014, quando o sequestro e assassinato de três adolescentes em mais violência. O conflito terminou com um novo cessar-fogo em 26 de agosto de 2014.
Foto: picture-alliance/dpa
2017: Conferência de Paris
A fim de discutir o conflito entre israelenses e palestinos, enviados de mais de 70 países se reuniram em Paris. Netanyahu, porém, viu as negociações como uma armadilha contra seu país. Tampouco representantes israelenses ou palestinos compareceram à cúpula. "Uma solução de dois Estados é a única possível", disse o ministro francês das Relações Exteriores Jean-Marc Ayrault, na abertura do evento.
Foto: Reuters/T. Samson
2017: Deterioração das relações
Apesar de começar otimista, o ano de 2017 trouxe ainda mais estagnação no processo de paz. No verão do hemisfério norte, um ataque contra a polícia israelense no Monte do Templo, um local sagrado para judeus e muçulmanos, gerou confrontos mortais. Em seguida, o plano do então presidente dos EUA, Donald Trump, de transferir a embaixada americana para Jerusalém minou ainda mais os esforços de paz.
Foto: Reuters/A. Awad
2020: Tiro de Trump sai pela culatra
Trump apresentou um plano de paz que paralisava a construção de assentamentos israelenses, mas mantinha o controle de Israel sobre a maioria do que já havia construído ilegalmente. O plano dobrava o território controlado pelos palestinos, mas exigia a aceitação dos assentamentos construídos anteriormente na Cisjordânia como território israelense. Os palestinos rejeitaram a proposta.
Foto: Reuters/M. Salem
2021: Conflito eclode novamente
Planos de despejar quatro famílias palestinas e dar suas casas em Jerusalém Oriental a colonos judeus levaram a uma escalada da violência em maio de 2021. O Hamas disparou foguetes contra Israel, enquanto ataques aéreos militares israelenses destruíram prédios na Faixa de Gaza. A comunidade internacional pediu o fim da violência e que ambos os lados voltem à mesa de negociações.
Foto: Mahmud Hams/AFP
2023: Terrorismo do Hamas e retaliações de Israel
No início da manhã de 7 de outubro, terroristas do grupo radical islâmico Hamas romperam barreiras em alguns pontos da Faixa de Gaza, na fronteira com Israel, e, em território israelense, feriram e mataram centenas de pessoas, além de sequestrarem mais de uma centena. Devido a isso, Israel declarou "estado de guerra" e iniciou uma série de bombardeios, deixando partes da Cidade de Gaza em ruínas.