É provável que a Coreia do Norte tenha a capacidade técnica para criar e detonar uma bomba de hidrogênio, afirmam especialistas. Entenda o funcionamento dessa poderosa arma, que consiste em duas etapas.
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O processo de detonação uma bomba termonuclear – conhecida coloquialmente como bomba de hidrogênio – ocorre em duas etapas.
Primeiro, dentro da bomba, ocorre uma explosão atômica tradicional. Dispara-se uma espécie de bala de urânio ou plutônio altamente enriquecido sobre uma porção maior feita do mesmo material. Esse impacto desencadeia as chamadas reações de fissão, ou seja, a quebra dos núcleos dos átomos, gerando uma poderosa explosão nuclear.
Essa explosão preliminar, quando situada dentro de uma bomba termonuclear a uma curta distância de isótopos de hidrogênio, gera calor e pressão suficientes para dar início à segunda fase: a fusão nuclear.
"Essa arma termonuclear de dois estágios tem potências explosivas muito maiores do que as armas de fissão", diz Tariq Rauf, diretor do programa de desarmamento, controle e não proliferação de armas do Instituto de Pesquisa Internacional da Paz de Estocolmo (Sipri).
"Os estágios da fusão termonuclear podem ser desencadeados em sequência para gerar qualquer potência desejada", afirma o especialista. O processo de fusão envolve fundir dois átomos num só – no caso, os isótopos de hidrogênio deutério e trítio.
Dentro de um dispositivo termonuclear, a reação de fusão libera grandes quantidades de nêutrons e átomos de hélio, gerando, por fim, uma energia até 1,5 mil vezes maior que a gerada por uma arma tradicional à base de fissão atômica.
Mas detonações termonucleares não precisam ser necessariamente de grandes proporções. Segundo Rauf, esses tipos de bomba "podem ser menores e mais leves do que armas de fissão, mas tecnologicamente mais complexos".
Bomba H?
Afinal, a Coreia do Norte usou ou não um dispositivo termonuclear, (06/01)? "Bom, não teremos essa resposta por algum tempo", diz Rauf.
Sensores de monitoramento ao redor do mundo confirmarão, em breve, se há gases nobres como o xenônio no ar, assim como outros produtos da fissão. No entanto, esses dados só serão capazes de dizer se um dispositivo tradicional à base de fissão nuclear foi detonado. Ou seja, pode ser uma pequena bomba de hidrogênio ou uma bomba atômica comum.
"Os Estados Unidos têm um avião 'farejador' WC135 para esse propósito, assim como a China, a Rússia e o Japão", afirma Rauf, acrescentando que a Coreia do Norte tem tentado, sem grande sucesso, esconder seus testes criando uma série de até nove túneis com o formato da letra J, um após o outro, de modo que os materiais de teste entrem no ambiente e na atmosfera o mínimo possível.
Ainda não se sabe se os EUA ou outros países são de fato capazes de detectar explosões termonucleares. Entretanto, Rauf adverte contra as suposições de que as declarações da Coreia do Norte são puramente propaganda.
Embora fontes ocidentais estejam atualmente expressando ceticismo sobre a capacidade da Coreia do Norte de obter armas nucleares, o país de fato fez testes desse tipo em 2006, 2009 e 2013 – reconhecidos mais tarde, a contragosto, por esses países, aponta o especialista.
Como ex-chefe da política de segurança e verificação para a Coreia do Norte e outros países da Agência Internacional de Energia Atômica, Rauf afirma que o país é, sim, capaz de obter componentes para um dispositivo termonuclear – e que os inspetores sempre ficavam impressionados com a competência dos técnicos nucleares norte-coreanos.
"É um grande erro subestimar o programa de armas nucleares da Coreia do Norte", conclui o especialista.
Guerra da Coreia, 70 anos depois
Combates na península coreana duraram mais de três anos. De um lado, o sul, apoiado pela ONU. Do outro, o norte, reforçado por China e URSS. Guerra acabou em 1953, com milhões de mortos e a divisão das Coreias cimentada.
Foto: AP
Fronteira da Guerra Fria
Em 27 de julho de 1950, as tropas da comunista Coreia do Norte atravessam o Paralelo 38, iniciando uma verdadeira campanha de ocupação. Em poucos dias, praticamente todo o país estava sob seu controle. É o início de uma guerra que durará 37 meses, custando 4,5 milhões de vidas humanas, segundo certas estimativas.
Foto: AFP/Getty Images
Antecedentes
Depois de ser ocupada pelo Japão de 1910 a 1945, a Coreia estava dividida desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O território acima do 38º paralelo norte ficou sob controle soviético, o do sul, na mão dos EUA. Em agosto de 1948, Seul proclama a República da Coreia. Em reação, o general Kim Il-sung cria no norte a República Popular Democrática da Coreia, em 9 de setembro do mesmo ano.
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Reforço da ONU
Seguindo o avanço dos norte-coreanos sobre o Paralelo 38, a partir de julho de 1950 as Nações Unidas decidem dar apoio militar à Coreia do Sul, por pressão dos EUA. São enviados para a península 40 mil soldados de mais de 20 países, entre os quais 36 mil norte-americanos. A sorte parece ter virado: logo os Aliados conseguem ocupar quase todo o país.
Foto: AFP/Getty Images
Codinome Operação Chromite
Em 15 de setembro de 1950, tropas ocidentais sob o comando do general Douglas MacArthur desembarcam perto da cidade portuária de Incheon, no sudoeste, capturando uma base central de suporte do Norte. Pouco depois, Seul está novamente na mão dos Aliados, que em outubro também ocupam Pyongyang. O fim da guerra parece próximo. Mas aí a China envia tropas de apoio aos norte-coreanos.
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Ajuda de Mao
Em meados de outubro iniciava-se a intervenção chinesa. De início, a ajuda parte apenas de unidades de pequeno porte. No final do mês ocorre a primeira mobilização em grande escala na Coreia do Norte do "exército de voluntários" de Mao. Em 5 de dezembro, Pyongyang – única capital comunista ocupada por tropas ocidentais durante a Guerra Fria – está novamente nas mãos de norte-coreanos e chineses.
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Pró e contra a bomba atômica
Em janeiro de 1951 começa uma grande ofensiva da Coreia do Norte, com apoio chinês. Cerca de 400 mil chineses e 100 mil norte-coreanos forçam as tropas aliadas a recuar fortemente. Em abril, o general MacArthur é destituído de seu posto, depois que o presidente Harry Truman lhe ordenara usar bombas atômicas contra a China. Seu sucessor é o general Matthew B. Ridgway.
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Guerra de exaustão
Em meados de 1951, mais ou menos na altura da linha de demarcação que separava o Norte e o Sul antes da guerra, as forças oponentes chegam a um impasse. A partir daí, começa uma encarniçada guerra de exaustão, que durará até o fim das operações de combate, dois anos mais tarde – embora as negociações de paz já tivessem sido iniciadas em julho de 1951.
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Batalha de ideologias
O conflito entre as Coreias é considerado a primeira "guerra por procuração" entre o Ocidente capitalista e o Oriente comunista. A maior parte dos soldados lutando nas tropas da ONU vinha dos Estados Unidos. No lado oposto, os norte-coreanos contaram com o reforço de centenas de milhares de chineses e russos.
Foto: AFP/Getty Images
Coreia do Norte em ruínas
Desde o início, foi uma guerra de ataques aéreos e bombardeios. Durante os três anos de combates, as forças aéreas das Nações Unidas realizaram mais de 1 milhão de operações. Ao todo, os americanos lançaram cerca de 450 mil toneladas de bombas, inclusive de napalm, sobre a Coreia do Norte. A destruição foi extensa: ao fim da guerra, quase todas grandes cidades estavam arrasadas.
Foto: AFP/Getty Images
Estimativas conflitantes
Quando, em 1953, as tropas aliadas se retiram da península coreana, o saldo é de milhões de mortos. Os dados sobre o número de soldados caídos são conflitantes. Calcula-se que morreram cerca de meio milhão de militares coreanos, assim como 400 mil chineses. Os Aliados registram 40 mil vítimas, 90% delas americanos.
Foto: Keystone/Getty Images
Troca de prisioneiros
Ainda durante os combates, de meados de maio a início de abril de 1953, ocorreu a primeira troca de presos entre os dois lados. Até o fim do ano, mais detentos seriam repatriados. A ONU devolveu mais de 75 mil norte-coreanos e quase 6.700 chineses. O outro lado soltou 13.500 pessoas, entre as quais 8.300 sul-coreanos e 3.700 soldados dos EUA.
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Cessar-fogo
Após mais de dois anos, as negociações de cessar-fogo iniciadas em 10 de julho de 1951 culminam no Armistício de Panmunjom. A divisão da península está sedimentada: o 38º paralelo norte é definido com fronteira entre as Coreias do Norte e do Sul. Mas como um tratado de paz nunca foi assinado, do ponto de vista do direito internacional os dois países se encontram até hoje em estado de guerra.
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Terra de ninguém
O idílio na cidade fronteiriça de Panmunjom é enganoso. Até hoje, a fronteira ao longo do Paralelo 38 é a mais rigorosamente vigiada do mundo. Ao longo da linha estipulada no acordo de armistício de 1953, o Norte e o Sul são separados por uma zona desmilitarizada de cerca de 250 quilômetros de extensão e 4 quilômetros de largura. Aqui, soldados de ambos os lados se defrontam diariamente.