Como indústria da carne contribui para o aquecimento global
19 de julho de 2018
Juntas, brasileira JBS e quatro principais concorrentes já produzem mais gases do efeito estufa do que Exxon ou Shell. Se consumo de carne aumentar ainda mais, meta do Acordo de Paris está em risco, afirma estudo.
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Um estudo do Instituto de Agricultura e Política Comercial (IATP) e da organização ambientalista Grain, divulgado nesta quarta-feira (18/07), inclui a indústria de carne e laticínios entre os maiores responsáveis pelo aquecimento global.
Juntas, as cinco maiores empresas de carne e laticínios do mundo já são responsáveis por mais emissões de gases do efeito estufa do que as empresas petrolíferas isoladas, como Exxon-Mobil, Shell ou BP, segundo o estudo.
"O relatório mostra o papel fundamental que essas empresas desempenham na mudança climática", diz Shefali Sharma, diretora do IATP. Se a indústria da carne não alterar seu curso e continuar a crescer como previsto, sua participação nas emissões globais de gases de efeito estufa aumentará para 27% em 2030 e para quase 80% em 2050, avaliam os autores do estudo.
A brasileira JBS, maior empresa de carnes do mundo, lidera a lista dos maiores produtores de CO₂ do estudo, seguida por três corporações americanas: Tyson Foods, Cargill e Dairy Farmers. A maior empresa de laticínios da Alemanha, a DMK, está na posição 21, e a empresa de carnes Tönnies – também alemã – está em 24º lugar.
Contra o Acordo de Paris
Segundo o estudo, as metas de crescimento da JBS estão em desacordo com o objetivo do Acordo de Paris, de impedir que a temperatura média global suba mais de 2ºC. A gigante brasileira afirmou a seus acionistas que o consumo de carne global aumentará em 30%, de 37 quilos per capita anuais em 1999 para 48 quilos de carne por pessoa em 2030.
Estimativas do Greenpeace apontam que o consumo mundial de carne mundial teria que cair para 22 quilos anuais por pessoa até 2030 e até 16 quilos por pessoa até 2050 para impedir que as temperaturas mundiais subam para níveis perigosos.
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) também alerta já há algum tempo para as consequências ambientais negativas do alto consumo de carne e leite.
Sem interesse pelo clima
A IATP e a Grain acusam as principais companhias do ramo de não se interessarem pela proteção climática. A maioria das 35 maiores empresas de carne e laticínios listadas não revela suas emissões de gases de efeito estufa ou o faz apenas de forma parcial.
O estudo argumenta que a emissão de gases nocivos ao clima que ocorre, por exemplo, dentro da cadeia de fornecimento (correspondente por 80 a 90% das emissões totais, segundo o estudo) é frequentemente excluída dos cálculos dessas empresas.
Apenas quatro companhias divulgam estimativas abrangentes de suas emissões: Nestlé (Suíça), Danone (França), Friesland/Campina (Holanda) e NH Foods (Japão), afirma o estudo.
Já a JBS reporta que suas emissões anuais são equivalentes a 8,9 milhões de toneladas de CO2, mas, considerando toda a cadeia de produção, a cifra real seria 30 vezes maior: em torno de 280 milhões de toneladas, afirma o estudo.
As emissões humanas de gases do efeito estufa devem ser drasticamente reduzidas para que seja possível atingir a meta de aquecimento de 1,5ºC, estipulada no Acordo de Paris.
"A produção de carne e laticínios deve ser reduzida significativamente nos países em que os 35 maiores gigantes da carne são particularmente ativos", afirmou Devlin Kuyek, da Grain, se referindo aos países da União Europeia, EUA, Canadá, Brasil, Argentina, Austrália, Nova Zelândia e China.
As mudanças do clima global estão alterando a face do mundo, do derretimento do gelo polar e elevação do nível do mar à migração da vegetação. Quem quiser mostrar aos filhos como é uma geleira de verdade, que se apresse.
Foto: Reuters/Mariana Bazo
Mundinho pequeno
Mesmo se conseguirmos manter o aquecimento global abaixo de 2°C, 2015 poderá ser o ano mais quente já registrado desde a era pré-industrial. O risco de o nível do mar subir mais de um metro e submergir Amsterdã persiste. Se continuarmos a emitir dióxido de carbono na velocidade atual, até 2100 a Terra terá se aquecido em 4°C – e Nova York estará sob o mar.
Foto: CC BY 2.0 Duncan Hull
Recifes de coral por um fio
Mergulhar na Austrália para admirar os belos recifes de coral pode ser um prazer com dias contados, pois o aquecimento global vai destruindo esses ecossistemas submarinos. As águas cada vez mais quentes causam a descoloração dos corais, e um aumento de 2°C pode dissolvê-los. O acréscimo de CO2 torna a água dos oceanos mais ácida, impedindo o crescimento normal das estruturas calcárias.
Foto: picture-alliance/ dpa
Alpes sem esqui
O aquecimento nos Alpes é "três vezes a média global", segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. O nível de neve diminui a cada ano e a vegetação conquista montanhas mais altas. Estações de esqui nas zonas inferiores estão ameaçadas de falência. Alguns resorts até cobrem a neve com material reflexivo durante os meses mais quentes, na tentativa de deter o derretimento.
Foto: picture-alliance/chromorange
Veneza – beleza submersa?
A italiana Veneza é apenas uma entre as cidades ameaçadas de desaparecer com a subida do nível do mar. Ou de se tornar inabitável, devido a inundações e tempestades cada vez mais fortes. O mesmo medo atinge Miami, Nova York, Santo Domingo, Bangkok, Barranquilla, Hong Kong, Cidade de Ho Chi Minh, Palembang, Tóquio, Mumbai, Alexandria, Amsterdã: todas elas correm risco.
Foto: picture-alliance/dpa
Passagem Noroeste
O derretimento das geleiras está permitindo que navios cortem caminho entre a Europa e a Ásia pela historicamente intransitável Passagem Noroeste. Em 2007, a Agência Espacial Europeia anunciou que o trecho estava "inteiramente navegável". Embora ainda não esteja suficientemente livre para navios de carga, os cruzeiros agora já oferecem uma rota antes reservada aos aventureiros e exploradores.
Foto: DW/I.Quaile
Elefantes em perigo
O aumento populacional e as mudanças climáticas afetam os animais. Eles lutam para se ajustar às secas cada vez mais frequentes e intensas, ondas de calor, tempestades e o aumento do nível do mar. A organização de proteção ambiental WWF incluiu o elefante africano na lista das espécies e lugares atingidas pelas mudanças climáticas, juntamente com as tartarugas, tigres, golfinhos e baleias.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
Seca californiana
As mudanças climáticas são claramente visíveis no estado americano da Califórnia, que é afetado por fortes períodos de seca. Os últimos três anos foram os mais quentes de todos os tempos. Quem quiser passear pelas plantações de amêndoas na Califórnia, as de café no Brasil ou os campos de arroz no Vietnã, é agora ou nunca.
Foto: Reuters/L. Nicholson
Escalando as últimas geleiras
A lista do Patrimônio Mundial da Humanidade inclui numerosas belezas naturais, mas com um aquecimento global de 3°C, 136 dessas 700 maravilhas serão afetadas. Entre elas o Glacier National Park, nos EUA, onde os efeitos das mudanças climáticas estão sendo estudados. Das 150 geleiras existentes aqui no século 19, sobravam 24 em 2010. A previsão é que em 2030 o parque estará privado de todas elas.
Foto: gemeinfrei
Mudança climática a domicílio
Se depois de todas essas imagens, você ainda não teve vontade de conhecer nenhum desses lugares, pode ficar onde está. As mudanças climáticas poderão vir bater à sua porta, sem que você sequer precise se levantar do sofá. A Climate Central acredita que mais de 150 milhões de pessoas moram em áreas que serão submersas ou estarão sujeitas a inundações constantes até 2100. Ou mesmo bem antes disso.