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Como Irã e Rússia escapam às sanções do Ocidente

Thomas Kohlmann
28 de abril de 2024

Teerã tem vivido sob embargo por quase 40 anos, e Moscou nunca enfrentou tantas restrições econômicas num prazo tão breve quanto agora. Apesar disso, medidas têm efeito limitado.

Um navio petroleiro russo visto de frente
"Frota fantasma" de navios russos, que navegam sem registro oficial, possibilitou à Rússia contornar sanções do Ocidente à sua indústria petroleira Foto: NTB via REUTERS

O Irã sabe, a China sabe e, aparentemente, os Estados Unidos também sabem: apesar das sanções atualmente vigentes contra a indústria petroleira da república islâmica, Teerã tem exportado volumes recordes da commodity a Pequim.

Colunista que cobre energia e comércio de matérias-primas para a agência de notícias americana Bloomberg, Javier Blas explica como isso acontece: "Se você acredita no que o governo chinês diz, eles não estão importando nenhum combustível do Irã. Zero. Nem um barril sequer. Ao invés disso, compram [petróleo] não refinado aos montes da Malásia – tanto que, segundo dados da alfândega chinesa, de algum jeito estão comprando mais que o dobro do que a Malásia de fato produz."

A revenda do petróleo iraniano fez da Malásia o quarto maior fornecedor do recurso em 2023, atrás apenas de Arábia Saudita, Rússia e Iraque.

Por muitos anos, o Irã tem usado os Emirados Árabes Unidos para se esquivar das sanções. Dubai, um dos sete emirados da monarquia, é o principal ponto de entrada de bens proibidos que suprem Teerã  – exceto petróleo. Há tempos, a República Islâmica modificou suas cadeias de suprimentos para obter quase tudo que for embargado pelos Estados Unidos ou pela União Europeia, através de polos comerciais e financeiros como Dubai.

Ásia Central é o novo hub comercial russo

Devido às sanções do Ocidente decorrentes da guerra na Ucrânia a Rússia estabeleceu rotas comerciais semelhante, a fim de assegurar o fornecimento contínuo de bens vitais para sua economia.

As antigas repúblicas soviéticas na Ásia Central têm se mostrado ideais para contornar os embargos, já que países como Cazaquistão e Quirguistão integram uma união aduaneira com Moscou. Além disso, as vastas distâncias – só o Cazaquistão compartilha uma fronteira de mais de 7.500 quilômetros com a Rússia – praticamente inviabilizam a aplicação das sanções.

Graças à estratégia russa de minar as sanções, a Armênia, por exemplo, viu em 2023 suas importações de carros alemães e componentes aumentarem quase 1.000%.

Sanções abundam, mas com efeitos tímidos

No papel, a Rússia é o país mais sancionado do mundo, segundo dados da base global Castellum.AI. Na prática, porém, a economia russa está longe do colapso: cresceu robustos 3,6% em 2023, e o ministro russo das Finanças Anton Siluanov declarou que a expectativa é que a taxa de 2024 se mantenha "no mesmo nível".

O prognóstico é apoiado pelo Fundo Monetário Internacional FMI), que projeta uma expansão de 3,2% do PIB russo – em parte devido aos altos níveis dos gastos públicos e investimentos relacionados à guerra na Ucrânia, mas também devido aos lucros com a exportação de petróleo.

Filial do banco russo Alfabank em Almaty, Cazaquistão: bancos russos na Ásia Central apoiam comércio ilegal do KremlinFoto: Anatoly Weisskopf/DW

No total, a Rússia encara mais de 5 mil sanções – mais do que o total imposto a Irã, Venezuela, Myanmar e Cuba juntos. Alvos desses embargos são políticos e funcionários do governo de Vladimir Putin, bem como oligarcas russos, grandes empresas, instituições financeiras e o complexo militar-industrial do Kremlin.

Sanções financeiras restringiram o acesso dos bancos russos a mercados financeiros internacionais, excluindo-os do sistema de pagamentos Swift, usado na maioria das transações internacionais.

Além disso, o Banco Central russo teve suas reservas bloqueadas nos países do G7 – Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Japão e Canadá.

A questão é que apenas sanções impostas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas têm força legal em todo o mundo. Além disso, diversos países, como Índia, China e Brasil – este último recentemente alçado à posição de maior importador de diesel russo –, não endossaram esses embargos.

Questão de coerência

Se é assim, por que nações do Ocidente continuam a emitir sanções que não têm capacidade de impor na prática?

"Se não houvesse sanções, seria quase como um apoio tácito. Ou como se não houvesse reação a esse ataque ilegal [da Rússia contra a Ucrânia]", explica Christian von Soest, especialista em sanções no Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga, na sigla em inglês).

Os EUA e a Europa precisam calibrar suas ações para "forçar a Rússia e o Irã a mudar de comportamento", opina o também autor do livro Sanctions: Powerful weapon or helpless maneuver? (Sanções: Armas poderosas ou manobra impotente?).

China na mira dos EUA

Segundo o diário americano The Wall Street Journal, Washington planeja também sancionar diversos bancos chineses para garantir que as restrições sejam eficazes. Segundo fontes anônimas ouvidas pelo jornal, o governo de Joe Biden quer excluir Pequim do sistema financeiro global, de modo a interromper o fluxo de capital que irriga a máquina de guerra russa.

Na UE, o irlandês David O'Sullivan foi nomeado em janeiro enviado para sanções. Cabe-lhe conduzir esforços diplomáticos que tornem eficazes as sanções do bloco europeu. Isso inclui negociações com ex-repúblicas soviéticas para persuadi-las a reforçar o cumprimento das sanções de forma mais rigorosa, segundo pesquisador Von Soest. Mas "o problema geral, que foi reconhecido, é que há formas de contornar essas sanções, tanto por parte da Rússia quanto do Irã".

Algum impacto, porém, já está sendo sentido: na Turquia, por exemplo. Lá, a ameaça dos americanos de sancionar empresas do mercado financeiro que negociem com a Rússia provocou a queda acentuada das exportações de Ancara a Moscou, que haviam explodido em 2023.