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Como mulheres afegãs resistem ao novo regime talibã

14 de setembro de 2021

Desde que o grupo tomou o poder no Afeganistão, decretos e medidas repressoras sinalizam como será difícil a vida para as mulheres sob os talibãs. Elas prometem lutar por seus direitos – e pedem ajuda internacional.

Mulheres afegãs com cartazes
Ativistas dos direitos das mulheres estão à frente dos protestos anti-Talibã no AfeganistãoFoto: Hoshang Hashimi / AFP/Getty Images

"Por razões de segurança, manifestações estão proibidas no Afeganistão a partir de agora", diz o primeiro decreto oficial emitido pelo Ministério do Interior afegão sob o novo regime talibã.

A declaração acrescenta que qualquer ato de protesto requer um pedido de permissão oficial e que as agências de segurança devem ser informadas de todos os detalhes, como o tipo de slogans que serão usados ​​durante as manifestações.

O ministério, agora liderado por Sirajuddin Haqqani, que é procurado pelos Estados Unidos por acusações de terrorismo, alertou que os manifestantes enfrentarão "graves consequências jurídicas" em caso de violação das novas regras.

A proibição parece ter como alvo principal mulheres ativistas, que estão na linha de frente dos protestos anti-Talibã desde que o grupo fundamentalista islâmico tomou o poder no país no mês passado.

"Continuaremos as manifestações por nossos direitos, mesmo sem permissão oficial", diz Mahbobe Nasrin Dockt, ativista dos direitos das mulheres em Cabul, capital afegã. "O Ministério do Interior liderado pelo Talibã nem mesmo começou seu trabalho adequadamente. A quem devemos pedir permissão? Também é óbvio que eles não nos darão permissão assim que souberem por que queremos nos reunir."

Desde o início de setembro, Nasrin Dockt vem organizando manifestações em Cabul contra os novos governantes. Em um protesto recente, ela foi presa. "Eles inseriram meus dados em um sistema e me avisaram para não organizar mais nenhuma manifestação. Mas não serei intimidada. Se não lutarmos, perderemos."

Caminho difícil para as mulheres afegãs

Desde a tomada de poder pelos extremistas, as mulheres afegãs temem represálias e novas restrições de seus direitos. Quando o Talibã esteve no poder entre 1996 e 2001, o regime baniu as mulheres da educação e da vida pública. Desta vez, o grupo se comprometeu a respeitar o progresso feito em relação aos direitos das mulheres, mas apenas de acordo com sua interpretação estrita da sharia, a lei islâmica.

Um breve resumo da história do Talibã

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Os talibãs também aboliram imediatamente o Ministério dos Assuntos da Mulher, sinalizando o difícil caminho que elas têm pela frente. O governo interino anunciado recentemente pelo Talibã é todo composto por membros homens do grupo. Mesmo no Ministério da Educação, as mulheres estão ausentes

"O Ministério do Ensino Superior do Talibã consultou apenas professores e alunos do sexo masculino sobre a retomada das funções das universidades", disse uma professora à agência de notícias AFP no final de agosto. Segundo ela, que trabalhou em uma universidade de Cabul sob o governo deposto, isso mostra "a prevenção sistemática da participação das mulheres na tomada de decisões" e "uma lacuna entre os comprometimentos e ações do Talibã".

Mas desta vez as mulheres terão permissão para estudar, embora em classes separadas dos homens, afirmou recentemente Abdul Baqi Haqqani, ministro interino do Ensino Superior no regime talibã.

Ele disse que o grupo pretende desenvolver "um currículo islâmico razoável de acordo com os valores islâmicos, nacionais e históricos".

Valores do Talibã "não são nossos valores"

Mulheres e meninas já foram proibidas de praticar esportes. Em uma entrevista à emissora australiana SBS, o vice-chefe da comissão cultural do Talibã, Ahmadullah Wasiq, disse que o esporte feminino não é considerado apropriado nem necessário.

"Não acho que as mulheres serão autorizadas a jogar críquete porque não é necessário que mulheres o joguem", disse Wasiq. "No críquete, elas podem se deparar com uma situação em que o rosto e o corpo não estejam cobertos. O islã não permite que as mulheres sejam vistas assim."

"Os valores deles não são os nossos", afirma Basira Taheri, da cidade de Herat, à DW. "Os combatentes do Talibã viveram toda a vida em lugares remotos, longe da civilização, e só aprenderam a lutar. Eles mal sabem ler ou escrever. Muitos deles não têm ideia da vida em uma cidade. A sociedade afegã mudou nos últimos 20 anos. Não permitiremos que o Talibã tire nossos direitos."

Em Herat, Taheri organiza manifestações pelos direitos das mulheres. Em um protesto recente, ela foi ferida por combatentes extremistas e disse ter tido sorte de não ser atingida por uma bala.

"Foi um ato pacífico. Várias mulheres fizeram discursos curtos. À nossa frente, um talibã estava parado com armas nas mãos, nos observando. De repente, começaram a atirar, primeiro no ar e depois em nós. Sei que várias mulheres ficaram gravemente feridas", conta.

Importância do apoio internacional

Protestos e críticas de ativistas dos direitos das mulheres irritam o Talibã. Jornalistas que cobrem manifestações femininas e temas relacionados às mulheres estão sendo brutalmente espancados. Recentemente, dois funcionários do importante jornal Etilatrus foram presos por combatentes extremistas e duramente espancados.

"Isso é apenas uma pequena parte do que o Talibã fez aos redatores do jornal", disse o editor Saki Darjabai. Um vídeo mostra um jornalista incapaz de andar, enquanto outro mostra um repórter sozinho, que mal consegue falar.

"Precisamos do apoio e da solidariedade da comunidade internacional", afirma uma ativista dos direitos das mulheres de Cabul, que pediu para não ser identificada.

Ela não acredita que as mulheres afegãs possam se organizar de forma rápida e eficaz contra o Talibã. O choque com a conquista de Cabul pelos islâmicos ainda é profundo, diz a ativista, apontando que o novo regime também cortou as conexões de telefone e internet.

"O Talibã quer reconhecimento global. Portanto, a comunidade internacional deve defender a nós e nossos direitos. Sob pressão de fora, eles cederão", enfatiza.

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