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Como o Brexit afetaria também a América Latina

Pablo Kummetz (lpf)21 de junho de 2016

A poucos dias de referendo, especula-se sobre consequências de uma saída do Reino Unido da UE para economia latino-americana, levando em conta volumes de importação e exportação e acordos comerciais com o bloco europeu.

Porto de Santos
Porto de Santos: Brasil depende pouco das trocas comerciais com o Reino UnidoFoto: imago

Às vésperas do referendo que deve decidir o futuro do Reino Unido na União Europeia (UE), o mundo aguarda com grande expectativa o desfecho da votação. Também na América Latina teme-se que um Brexit (saída do Reino Unido da UE) tenha consequências.

Em primeiro lugar, os acordos de livre-comércio vigentes entre o bloco europeu e México, Chile, Peru e Colômbia deixariam de valer no Reino Unido. Ou seja, os britânicos não teriam mais nenhum tratado comercial com países latino-americanos.

Como negociações comerciais costumam se estender por muito tempo, no curto prazo, as trocas com os países da América Latina poderiam diminuir. No longo prazo, a negociação de acordos com cada país poderia ser mais difícil do que com a UE como bloco. Por outro lado, os governos latino-americanos poderiam exigir do Reino Unido mais concessões do que as que conseguiriam obter da União Europeia.

Nos países com os quais o bloco europeu não tem acordos comerciais, incluindo Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, um Brexit poderia ter efeito no caso de uma desvalorização da libra em relação ao dólar, prevista por economistas e que poderia baratear as exportações britânicas. Por outro lado, nos muitos países latino-americanos que desvalorizaram suas moedas frente ao dólar, o efeito seria menor.

Comércio exterior

Outro aspecto importante das relações comerciais entre Reino Unido e América Latina são os volumes em jogo, independentemente da existência ou não de trados de livre-comércio com a União Europeia. Peguemos como exemplo as duas maiores economias latino-americanas, Brasil e México.

Para o Brasil – com quem a UE não tem acordo de livre-comércio, por exemplo – o Reino Unido exporta 4 bilhões de dólares em bens e serviços por ano, e importa outros 4,2 bilhões de dólares. Antes da crise, em 2014, as exportações totais do Brasil somaram 225 bilhões de dólares, e as importações, 229 bilhões de dólares. Isso significa que a participação do Reino Unido nas exportações brasileiras é de apenas 1,6%, e nas exportações, de 1,8%.

Já para o México – com quem a UE tem acordo de livre comércio –, o Reino Unido exporta cerca de 2,2 bilhões de dólares por ano em bens e serviços, e os importa do México por cerca de 1,8 bilhão de dólares. Em 2014, as exportações totais do país americano somaram 410 bilhões de dólares, e as importações, 400 bilhões de dólares. Ou seja, a participação do Reino Unido nas importações mexicanas é de apenas 0,5%. Como destino das exportações mexicanas, a participação britânica é ainda menor, de 0,4%.

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A parcela representada pelo Reino Unido no comércio exterior com esses dois países é, portanto, pequena, e, por isso, um Brexit passaria praticamente despercebido nas duas grandes economias latino-americanas. Nos demais países da região, os volumes de exportação e importação britânicos são ainda menores.

Novas prioridades

Para evitar alterações nos fluxos comerciais hoje decisivos para a economia britânica, o Reino Unido deverá negociar acordos com a UE e com países não pertencentes ao bloco, como Estados Unidos, Índia, China, Japão e Austrália.

É provável que essas negociações tenham prioridade para o Reino Unido, e não a América Latina. Isso porque mais da metade do comércio britânico é realizado com a UE, e o comércio com outros 60 países estão regulamentado por acordos fechados por meio do bloco europeu.

Fato é que, dado o volume pequeno de comércio entre o Reino Unido e os países latino-americanos, é improvável que estes fiquem mais relevantes para os britânicos no caso de um Brexit. Afinal, os tempos em que o Reino Unido tinha um grande peso econômico na América Latina ficaram há muito tempo no passado.

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