Friedhelm Schachtschneider, dpa (af) 30 de setembro de 2015
Viajar para se divertir é um conceito amplamente popular hoje, mas nem sempre foi assim. O fascínio de Goethe pela Itália e o surgimento de barcos a vapor e trens colocaram as pessoas na estrada no século 19.
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"O mundo inteiro está viajando", escreveu o escritor alemão Theodor Fontane (1819 -1898) no seu ensaio "Modernes Reisen" (Viagens modernas, em tradução livre), há quase 150 anos. Ele estava certo. Só em 2014, mais de 1 bilhão de pessoas deixaram seu país para passar férias no estrangeiro.
Esse fenômeno de massa começou como o prazer seleto de poucos. "O turismo, ou seja, viajar com o objetivo de apreciar a viagem e nenhuma outra finalidade, começou durante o período do romantismo, no final do século 18", explica o professor Hasso Spode, diretor do Arquivo Histórico de Turismo da Universidade Técnica de Berlim.
Foi quando poetas e artistas descobriram a beleza da natureza. Uma mudança significativa, pois apenas alguns anos antes, Spode explica, em uma viagem para a Itália, o historiador de arte Johann Joachim Winckelmann (1717-1768) relatou insistentemente como as janelas de seu coche precisavam ser cobertas para poupá-lo da "paisagem horrível."
Influência de Goethe
Quando Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) visitou a Itália pela primeira vez, esse era um passatempo pelo qual poucos podiam pagar.
A teoria de Goethe de que "uma pessoa inteligente recebe a melhor educação ao viajar" é tida como os primórdios do turismo moderno. Naquela época, apenas jovens membros da nobreza passavam um ano ou mais em um grand tour. O objetivo das viagens dos cavalheiros de então era educar e refinar os seus costumes sociais.
Relatos de Goethe em Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister e descrições de outros viajantes despertaram um anseio nas demais pessoas a também se aventurarem no exterior. Um número crescente de membros da classe média alta empreendeu um petit grand tour, que os levava para destinos até então pouco atraentes, como os Alpes e o mar.
O guia de viagem
Enquanto viajam, eles dependiam, muitas vezes, da ajuda de estranhos, algo que o então jovem editor Karl Baedeker (1801-1859) usou a seu favor.
Ele comprou os direitos para a publicação, em 1828, de "Rheinreise von Mainz bis Köln, Handbuch für Schnellreisende" (Viagem pelo Reno de Mainz a Colônia, um guia viajantes rápidos, em tradução livre). Isso marcou o nascimento do guia de viagem moderno. Baedeker publicou muitos outros guias, incluindo a sua principal obra: "Deutschland und dem Österreichischen Kaiserstaat" (Alemanha e o Império Austríaco, em tradução livre).
Baedeker fez muitas viagens ele próprio e não poupava o que ele considerava serem dicas úteis. Seu conselho para a Suíça, por exemplo, era "nunca mais beber leite de vaca sem acrescentar conhaque ou rum".
Muitos desses trabalhos acadêmicos podem ser encontrados no Arquivo Histórico em Turismo da Universidade Livre de Berlim. Além da literatura de viagem do século 17, seus 70 mil materiais impressos incluem mapas, cartazes e coleções de fotos privadas.
O pacote turístico
Novos meios de transporte, como os barcos a vapor que começaram a passar pelo Reno em 1827, derrubaram o custo das viagens, tornando excursões e cruzeiros acessíveis para cerca de 10% da população.
O primeiro "pacote de férias" foi criado em 1841 pelo inglês Thomas Cook. Ele organizou uma viagem de trem para cerca de 500 ativistas abstêmios partindo de Leicester para Loughborough. O objetivo era eles participarem de um comício em uma comunidade abstêmia. O pacote "com tudo incluso" incluía música, sanduíches e chá, bem como palestras sobre os perigos do álcool.
"Mas Cook não inventou as viagens organizadas", reforça Spode. Ele simplesmente expandiu a ideia de um concorrente e transformou em um modelo economicamente bem sucedido. Isso incluía usar cartas de agradecimento de clientes famosos para gerar um efeito de marketing. Entre esses viajantes ávidos estavam o escritor Mark Twain (1835-1910) e o imperador alemão Guilherme 2º (1859-1941), diz o pesquisador.
Com a revolução dos transportes, que começou em 1850, mais lugares poderiam ser alcançados de forma mais barata por via férrea, tornando a viagem mais acessível e disponível para as classes médias.
"Na última parte do século 19, tornou-se uma marca de posição social para as classes médias sair de férias uma vez por ano," explica Spode.
Em 1870, o Reno foi o destino de viagem mais frequentado do mundo. Mesmo naquela época, nem todos ficaram satisfeitos com o turismo de massas: "Há 150 anos, as pessoas que viviam às margens do Reno já se queixavam de que os viajantes, devido aos barcos a vapor e às vias ferroviárias, estavama se espalhando como uma praga de gafanhotos", diz Spode.
Pontos turísticos mais visitados da Europa
Cerca de 582 milhões de turistas visitaram a Europa em 2014. Igrejas, palácios e museus espalhados pelo continente reúnem séculos de história e encantam viajantes de todo o mundo.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Thissen
Catedral de Notre Dame, Paris
A catedral gótica no coração da capital francesa ficou famosa em todo mundo através do romance "O corcunda de Notre Dame", de Victor Hugo. Napoleão Bonaparte foi coroado imperador da França na igreja, e nela foram depositados os restos mortais de Luis 14º, o "Rei Sol". A catedral acomoda até 10 mil pessoas.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Thissen
Museu do Louvre, Paris
Com cerca de 1,8 milhão de fãs no Facebook, o Louvre é hoje mais popular que o Museu de Arte Moderna de Nova York, o qual liderava o ranking no começo de 2015. Um dos motivos talvez seja o fato de o museu francês oferecer tours virtuais em seu site. Apesar da alternativa digital, 9,26 milhões de pessoas visitaram o local pessoalmente no ano passado.
Foto: Thomas Coex/AFP/Getty Images
Sagrada Família, Barcelona
A catedral catalã deverá ter oito torres quando a construção for finalmente concluída. A Sagrada Família está em obras desde que seu criador, Antoni Gaudí, começou a erguê-la em 1882. O arquiteto, ícone na Catalunha, morreu antes que a igreja fosse finalizada. Milhares de turistas visitam o local por dia.
O palácio e fortaleza é um belo exemplo da arquitetura moura na península ibérica. Entre os destaques está o Pátio dos Leões, com suas fontes e jardins luxuosos. Governantes muçulmanos começaram a erguer o Alambra no século 13, e hoje o palácio é um dos destinos turísticos mais populares da Espanha.
Foto: Getty Images
Basílica de São Pedro, Vaticano
Oficialmente, ela é chamada de "Basílica papal de São Pedro no Vaticano" e é uma das maiores igrejas do mundo, com capacidade para 20 mil pessoas. Artistas famosos como Michelangelo decoraram o interior da Basílica. Ela foi construída para marcar o local do enterro do apóstolo Pedro. Mais tarde, muitos papas foram enterrados no local.
Foto: picture-alliance/dpa
Coliseu, Roma
Quem pensa nos 2 mil anos de história deste antigo estádio romano não imagina que ele já foi palco de tantas atrocidades. Além dos gladiadores que feriam uns aos outros com espadas, pessoas eram jogadas pelos imperadores para serem comidas por animais selvagens. Durante séculos, os shows de horror no maior anfiteatro do mundo atraíram até 50 mil espectadores.
Foto: Fotolia/scaliger
Museu Britânico, Londres
Quando o British Museum foi inaugurado, em 1753, ele era o primeiro museu nacional público do mundo. Nas salas de leitura adicionadas mais tarde, Karl Marx e Lênin reuniram argumentos para questionar o sistema capitalista. Até hoje a entrada é gratuita para todos os visitantes.
Foto: picture-alliance/dpa/Kalker
Galeria Nacional, Londres
A National Gallery abriga uma coleção de mais de 2.300 pinturas datadas do século 13 até o 19. Com entrada gratuita na maioria dos dias do ano, ela permite aos visitantes admirarem obras de grandes mestres da pintura, como Van Gogh, Albrecht Dürer e Rembrandt.
Foto: picture-alliance/dpa
Catedral de Colônia
A construção da Catedral de Colônia, obra-prima da arquitetura gótica, começou em 1248. Quando ela finalmente ficou pronta, em 1880, era o maior edifício do mundo. O local, que há séculos embeleza a cidade às margens do rio Reno, foi agraciado com o título de Patrimônio Mundial da Unesco e recebe atualmente cerca de 6 milhões de visitantes por ano.
Foto: picture-alliance/dpa/O.Berg
Castelo de Neuschwanstein, Baviera
O rei Ludwig 2º da Baviera ansiava por construir um castelo de contos de fadas em estilo medieval, mas não viveu o suficiente para vê-lo finalizado, em 1886. O castelo se tornou um ímã para turistas de todo o mundo. Localizado sobre uma área rochosa na região do Allgäu, o Neuschwanstein foi inspirado no Castelo de Wartburg, no estado alemão da Turíngia.
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Palácio de Topkapi, Istambul
Construído logo após a conquista de Constantinopla, em meados do século 15, o Palácio de Topkapi se tornou uma base de poder do Império Otomano. O complexo é dividido em quatro partes, cada uma delas servindo a diferentes propósitos. Cerca de 5 mil pessoas trabalhavam e viviam no local, que hoje é um importante ponto turístico da cidade turca.
Foto: picture-alliance/ZB/B. Settnik
Basílica de Santa Sofia, Istambul
O imperador bizantino Justiniano 1º mandou construir a magnífica basílica cristã, também conhecida como Hagia Sophia, em 1532. Após a conquista da capital bizantina pelo Império Otomano, em 1453, a igreja foi transformada em mesquita. Hoje, o local é um museu.