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Como os Alpes mudaram em 25 anos

Bob Berwyn as
19 de setembro de 2017

Em 1992, um grupo de pesquisadores atravessou as montanhas da Áustria até a França. Neste ano, eles repetiram a excursão: as mudanças foram tão grandes que eles tiveram que mudar o trajeto.

O glaciar de Aletsch, o maior dos Alpes.: permafrost, que mantém as áreas rochosas unidas, está derretendo
O glaciar de Aletsch, o maior dos Alpes.: permafrost, que mantém as áreas rochosas unidas, está derretendoFoto: picture-alliance/prisma/E. Gygax

É um engano pensar que todo cientista passa seus dias sentado em laboratórios e fazendo cálculos e análises complexas. Há também aqueles que passam longos tempos em saídas de campo. Os bergforscher (pesquisadores das montanhas) estão neste grupo. Neste verão europeu, uma equipe deles decidiu percorrer os Alpes, saindo da região de Viena, na Áustria, até Nice, no sul da França.

O mesmo grupo já havia feito essa viagem há 25 anos. Nesta reedição, chamada WhatsAlp, eles queriam descobrir como o meio ambiente e também o meio social nas montanhas e no entorno delas se modificou. Os resultados são, no mínimo, alarmantes.

No pé da montanha, a floresta está secando, e besouros que ameaçam as árvores estão se proliferando. Pomares são fortemente danificadas pelas condições climáticas extremas, com seus períodos iniciais quentes, seguidos de outros muito frios. No topo, algumas geleiras desapareceram. Em consequência, o permafrost, que mantém as áreas rochosas unidas, está derretendo.

O número de fenômenos extremos está aumentando. Chuvas fortes e tempestades causaram deslizamentos que mudam para sempre a aparência das montanhas. A influência desses fenômenos é tão forte que os cientistas tiveram que mudar o trajeto inicialmente planejado. Alguns caminhos que existiam há muito tempo não podem mais ser utilizados. Por outro lado, geleiras que derreteram neste ano expuseram cadáveres de montanhistas há muito desaparecidos.

Um biólogo que participa da excursão mostra efeitos das mudanças climáticas em folhas de plantasFoto: Bob Berwyn

"Tudo isso são sinais das mudanças climáticas", diz o geógrafo suíço Harry Spiess, um dos organizadores da excursão. "Todo mundo conhece o problema, mas ninguém realmente muda de postura para fazer algo contra isso. Os tempos são outros, o foco está em outros temas globais, como terrorismo e migração."

Desde que as fronteiras foram fechadas nos Bálcãs, impedindo refugiados de chegarem aos países do norte da Europa, os Alpes se tornaram uma rota alternativa. Há 25 anos seria impensável encontrar pessoas em fuga no alto das montanhas. Hoje é até mesmo provável em alguns caminhos da região de fronteira entre a França e a Itália. Isso faz com que esse tema preocupe mais as pessoas do que a proteção ambiental e as mudanças climáticas, afirma Spiess.

Turismo de massa da Ásia

No mundo globalizado e conectado de hoje, os Alpes não são mais uma região isolada e de difícil acesso. Há 25 anos, os cientistas também não podiam prever isso. Hoje, porém, o rápido crescimento das economias asiáticas influencia o turismo nas montanhas europeias.

O que surgiu foi um verdadeiro turismo de massa, com tudo o que ele significa: estradas de rápido acesso, hotéis e estacionamentos. Mas não há um projeto sustentável para o futuro, comenta o cientista.

"O turismo ainda não está em condições de destruir os Alpes, mas há um longo caminho pela frente até se alcançar as metas de desenvolvimento sustentável na região", diz Spiess.

O turismo, porém, já fez alguns vales alpinos ultrapassarem os limites da sua resistência. Nessas regiões, as consequências das mudanças climáticas já afetam a vida das pessoas. Segundo cálculos, a parte sul das montanhas deverá ser mais afetada por secas e ondas de calor e, ao mesmo tempo, por chuvas e nevascas. No norte, ao contrário, a neve será mais rara, e deverá haver mais inundações, trazidas por fortes tempestades da região do Atlântico.

Participantes da marcha, que chama a atenção para as mudanças nos Alpes em apenas 25 anosFoto: whatsalp.org

Agricultura sustentável e ecoturismo

O cientista Dominik Siegrist também participou da marcha de 1992. O suíço é especializado em planejamento de paisagens. Ele afirma que a nova marcha comprova como o engajamento local é importante para o futuro dos Alpes. Nesses 25 anos, uma estrutura surgiu na região, comenta.

"Há uma grande cena, uma grande comunidade dos moradores dos Alpes que se ocupa dos problemas existentes", diz Siegrist.

Trata-se de projetos de pesquisa, de agricultura sustentável, ecoturismo e a criação de áreas de proteção além-fronteiras. Ele cita como exemplo os ativistas que se empenham contra a construção de uma autobahn entre Munique e Viena, ou contra a ampliação das áreas de esqui para regiões mais altas e de gelo mais firme das montanhas.

Siegrist diz esperar que a marcha dos cientistas estimule mais pessoas a se tornarem ativistas. Por isso, os cientistas se voltam para as pessoas jovens, para quem escrevem um blog, e divulgam as atividades da excursão em redes sociais.

A própria excursão é um conceito que foi organizado de baixo e não de cima. Parte dos recursos foi obtida com crowdfunding. Além disso, cada pessoa que se sentir estimulada pelo projeto é convidada a participar do grupo e acompanhar a marcha sempre que quiser, incluindo a festa de encerramento, em 29 de setembro, em Nice. Também o intercâmbio entre ativistas foi uma constante na marcha, com mais de 110 encontros.

Um desses grupos é o coletivo Bergsteigerdörfer (vilas de alpinistas), uma união de vilarejos dos Alpes austríacos. O objetivo da organização é o turismo sustentável, que não prejudique a natureza e não utilize carros. Turistas também podem passar férias em casas de agricultores, conhecer de perto a agricultura orgânica e ver como os animais de criação podem viver no campo em harmonia com a natureza. Tudo sem prejuízos para a economia da região.

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