Como os judeus de Colônia se reergueram após Segunda Guerra
Stefan Dege
6 de abril de 2024
Seria possível ter uma vida judaica normal após o Holocausto? Os poucos sobreviventes da comunidade judaica em Colônia – a mais antiga da Alemanha – acreditaram que sim, e recomeçaram rezando nas ruínas de sua sinagoga.
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O radiologista Michael Rado tem uma memória vívida do salão no andar térreo do número 85 da Ottostrasse, em Colônia, com cerca de 15 fileiras de assentos para os fiéis e uma cortina separando as áreas masculina e feminina. Rado fez seu bar mitzvah ali quando tinha 13 anos, um importante ritual religioso para um menino judeu, comparável à crisma entre os católicos. Rado tem hoje 75 anos e é copresidente da comunidade judaica de Colônia, a mais antiga na Alemanha.
Em 1949, há 75 anos, no dia 6 de abril, a comunidade judaica de Colônia renasceu nesse local. O pequeno espaço de culto na Ottostrasse fazia parte do antigo Asilo Israelita, construído por volta de 1908 e que também incluía um hospital e uma casa de repouso. A Gestapo e a SS, unidades criminosas dos nazistas, deportaram os idosos e doentes em 1942, e bombas caíram sobre o complexo de edifícios.
Recomeço difícil
Mais de 11 mil judeus de Colônia morreram nos campos de extermínio nazistas. Após a Segunda Guerra e o assassinato sistemático de milhões de judeus, quem ainda fazia parte da comunidade judaica em Colônia?
"Havia apenas alguns", diz Rado, "um punhado". Quem, entre esses poucos, tinha fé na possibilidade de um recomeço nesse lugar, em um país cuja população havia marginalizado e perseguido os judeus durante anos? "Não posso lhe dizer isso", diz Rado, e permanece em silêncio por um tempo.
"A maioria de nós estava sentada sobre malas prontas", relata Rado, cujos pais felizmente conseguiram sair da Alemanha a tempo – para a região da Palestina, hoje Israel. "Todos perceberam que não se poderia ficar aqui", lembra, "cresci com essa certeza". Essa atitude persistiu entre os judeus de Colônia por muito tempo. Seus pais voltaram para a Alemanha com o filho de sete anos em 1952.
Rado mostra fotos antigas em preto e branco do álbum de família, com crianças jogando futebol e um rabino amigável e sorridente com seus protegidos. Memórias da vida da comunidade judaica que começou a florescer na Ottostrasse e seguiu se desenvolvendo em outros lugares.
História agitada
A comunidade estava crescendo. Ela decidiu reconstruir a antiga sinagoga na Roonstrasse, que havia sido incendiada pelos nazistas. Dez anos depois, em 20 de setembro de 1959, o local de culto foi consagrado. É o destaque mais recente nos 1.700 anos de história da comunidade judaica de Colônia, considerada a mais antiga da Europa ao norte dos Alpes e da Alemanha.
O imperador romano Constantino mencionou pela primeira vez uma comunidade judaica em Colônia em um decreto do ano 321. Os judeus viveram em Colônia até que a administração local os expulsou da cidade em 1423. Somente em 1798, sob ocupação francesa, eles tiveram permissão para retornar.
Várias sinagogas foram construídas pela comunidade, incluindo um grande complexo na Glockengasse em 1861 – perto do famoso fabricante da água de colônia 4711 – e a casa de cultos na Roonstrase em 1899, reconhecível por seu estilo neorromânico. Em 1933, no início do regime nazista, Colônia tinha a quinta maior comunidade judaica da Alemanha, com cerca de 18 mil membros. No entanto, todas as sinagogas e casas de culto na cidade da famosa Catedral de Colônia foram saqueadas em 1938 e depois incendiadas.
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Cultos em meio a ruínas
Em 1945, após o fim da Segunda Guerra, os poucos judeus sobreviventes de Colônia começaram a se reunir para os cultos nos escombros da Roonstrase, depois em uma sala de oração na Ottostrase e, finalmente, na pequena sinagoga reconstruída na Roonstrase.
Na sinagoga da Roonstrase, há também um centro com um salão, uma ala administrativa, um lar para jovens, um jardim de infância e uma casa de repouso. O então chanceler federal alemão Konrad Adenauer, prefeito de Colônia que havia sido deposto pelos nazistas, apoiou o projeto, e o estado da Renânia do Norte-Vestfália forneceu dinheiro para a reconstrução. Representantes da política, da religião e da cultura participam da inauguração, em setembro de 1959. "Junto com a alegria, certamente havia também as sombras do passado", reportou a rádio Domradio.
A situação em Colônia naquela época estava longe de uma coexistência pacífica entre cidadãos judeus e não judeus de Colônia. O então rabino Zvi Asaria é citado como tendo dito: "Somos tolerados. Isso é tudo."
A história da comunidade judaica também inclui a visita do papa Bento 16 durante a Jornada Mundial da Juventude Católica de 2005, em Colônia. Hoje, a comunidade judaica da cidade tem cerca de 5 mil membros.
"Alguns deles têm a sensação de estar sentados em malas prontas novamente", diz Rado. A razão para isso é a crescente ameaça do extremismo de direita e do antissemitismo. No entanto, metade dos membros tem mais de 50 anos de idade, e há pouca inclinação entre eles para deixar a Alemanha e ir para Israel. "Pessoalmente, não me sinto ameaçado", diz Rado, "desde que este governo proteja os judeus o suficiente – e ele o faz."
Cronologia da Segunda Guerra Mundial
Em 1° de setembro de 1939, as Forças Armadas alemãs atacaram a Polônia, sob ordens de Hitler. A guerra que então começava duraria até 8 de maio de 1945, deixando um saldo até hoje sem paralelo de morte e destruição.
Foto: U.S. Army Air Forces/AP/picture alliance
1939
No dia 1° de setembro de 1939, as Forças Armadas alemãs atacaram a Polônia sob ordens de Adolf Hitler – supostamente em represália a atentados poloneses, embora isso tenha sido uma mentira de guerra. No dia 3 de setembro, França e Reino Unido, que eram aliadas da Polônia, declararam guerra à Alemanha, mas não intervieram logo no conflito.
1939
A Polônia mal pôde oferecer resistência às bem equipadas tropas alemãs – em cinco semanas, os soldados poloneses foram derrotados. No dia 17 de setembro, o Exército Vermelho ocupou o leste da Polônia – em conformidade com um acordo secreto fechado entre o Império Alemão e a União Soviética apenas uma semana antes da invasão.
Foto: AP
1940
Em abril de 1940, a Alemanha invadiu a Dinamarca e usou o país como base até a Noruega. De lá vinham as matérias-primas vitais para a indústria bélica alemã. No intuito de interromper o fornecimento desses produtos, o Reino Unido enviou soldados ao território norueguês. Porém, em junho, os aliados capitularam na Noruega. Nesse meio tempo, a Campanha Ocidental já havia começado.
1940
Durante oito meses, soldados alemães e franceses se enfrentaram no oeste, protegidos por trincheiras. Até que, em 10 de maio, a Alemanha atacou Holanda, Luxemburgo e Bélgica, que estavam neutros. Esses territórios foram ocupados em poucos dias e, assim, os alemães contornaram a defesa francesa.
Foto: picture alliance/akg-images
1940
Os alemães pegaram as tropas francesas de surpresa e avançaram rapidamente até Paris, que foi ocupada em meados de junho. No dia 22, a França se rendeu e foi dividida: uma parte ocupada pela Alemanha de Hitler e a outra, a "França de Vichy", administrada por um governo fantoche de influência nazista e sob a liderança do general Pétain.
Foto: ullstein bild/SZ Photo
1940
Hitler decide voltar suas ambições para o Reino Unido. Seus bombardeios transformaram cidades como Coventry em cinzas e ruínas. Ao mesmo tempo, aviões de caça travavam uma batalha aérea sobre o Canal da Mancha, entre o norte da França e o sul da Inglaterra. Os britânicos venceram e, na primavera europeia de 1941, a ofensiva alemã estava consideravelmente enfraquecida.
Foto: Getty Images
1941
Após a derrota na "Batalha aérea pela Inglaterra", Hitler se voltou para o sul e posteriormente para o leste. Ele mandou invadir o norte da África, os Bálcãs e a União Soviética. Enquanto isso, outros Estados entravam na liga das Potências do Eixo, formada por Alemanha, Itália e Japão.
1941
Na primavera europeia, depois de ter abandonado novamente o Pacto Tripartite, Hitler mandou invadir a Iugoslávia. Nem a Grécia, onde unidades inglesas estavam estacionadas, foi poupada pelas Forças Armadas alemãs. Até então, uma das maiores operações aeroterrestres tinha sido o ataque de paraquedistas alemães a Creta em maio de 1941.
Foto: picture-alliance/akg-images
1941
O ataque dos alemães à União Soviética no dia 22 de junho de 1941 ficou conhecido como Operação Barbarossa. Nas palavras da propaganda alemã, o objetivo da campanha de invasão da União Soviética era uma "ampliação do espaço vital no Oriente". Na verdade, tratava-se de uma campanha de extermínio, na qual os soldados alemães cometeram uma série de crimes de guerra.
Foto: Getty Images
1942
No começo, o Exército Vermelho apresentou pouca resistência. Aos poucos, no entanto, o avanço das tropas alemãs chegou a um impasse na Rússia. Fortes perdas e rotas inseguras de abastecimento enfraqueceram o ataque alemão. Hitler dominava quase toda a Europa, parte do norte da África e da União Soviética. Mas no ano de 1942 houve uma virada.
1942
A Itália havia entrado na guerra em junho de 1940, como aliada da Alemanha, e atacado tropas britânicas no norte da África. Na primavera de 1941, Hitler enviou o Afrikakorps como reforço. Por muito tempo, os britânicos recuaram – até a segunda Batalha de El Alamein, no outono de 1942. Ali a situação mudou, e os alemães bateram em retirada. O Afrikakorps se rendeu no dia 13 de maio de 1943.
Foto: Getty Images
1942
Atrás do fronte leste, o regime de Hitler construiu campos de extermínio, como Auschwitz-Birkenau. Mais de seis milhões de pessoas foram vítimas do fanatismo racial dos nazistas. Elas foram fuziladas, mortas com gás, morreram de fome ou de doenças. Milhares de soldados alemães e da SS estiveram envolvidos nestes crimes contra a humanidade.
Foto: Yad Vashem Photo Archives
1943
Já em seu quarto ano, a guerra sofreu uma virada. No leste, o Exército Vermelho partiu para o contra-ataque. Vindos do sul, os aliados desembarcaram na Itália. A Alemanha e seus parceiros do Eixo começaram a perder terreno.
1943
Stalingrado virou o símbolo da virada. Desde julho de 1942, o Sexto Exército alemão tentava capturar a cidade russa. Em fevereiro, quando os comandantes desistiram da luta inútil, cerca de 700 mil pessoas já haviam morrido nesta única batalha – na maioria soldados do Exército Vermelho. Essa derrota abalou a moral de muitos alemães.
Foto: picture-alliance/dpa
1943
Após a rendição das tropas alemãs e italianas na África, o caminho ficou livre para que os Aliados lutassem contra as potências do Eixo no continente europeu. No dia 10 de julho, aconteceu o desembarque na Sicília. No grupo dos Aliados estavam também os Estados Unidos, a quem Hitler havia declarado guerra em 1941.
Foto: picture alliance/akg
1943
Em setembro, os Aliados desembarcaram na Península Itálica. O governo em Roma acertou um armistício com os Aliados, o que levou Hitler a ocupar a Itália. Enquanto os Aliados travavam uma lenta batalha no sul, as tropas de Hitler espalhavam medo pelo resto do país.
No leste, o Exército Vermelho expulsou os invasores cada vez mais para longe da Alemanha. Iugoslávia, Romênia, Bulgária, Polônia... uma nação após a outra caía nas mãos dos soviéticos. Os Aliados ocidentais intensificaram a ofensiva e desembarcaram na França, primeiramente no norte e logo em seguida no sul.
1944
Nas primeiras horas da manhã do dia 6 de junho, as tropas de Estados Unidos,Reino Unido, Canadá e outros países desembarcaram nas praias da Normandia, no norte da França. A liderança militar alemã tinha previsto que haveria um desembarque – mas um pouco mais a leste. Os Aliados ocidentais puderam expandir a penetração nas fileiras inimigas e forçar a rendição de Hitler a partir do oeste.
Foto: Getty Images
1944
No dia 15 de agosto, os Aliados deram início a mais um contra-ataque no sul da França e desembarcaram na Provença. As tropas no norte e no sul avançaram rapidamente e, no dia 25 de agosto, Paris foi libertada da ocupação alemã. No final de outubro, Aachen se tornou a primeira grande cidade alemã a ser ocupada pelos Aliados.
Foto: Getty Images
1944
No inverno europeu de 1944/45, as Forças Armadas alemãs reuniram suas tropas no oeste e passaram para a contra-ofensiva em Ardenne. Mas, após contratempos no oeste, os Aliados puderam vencer a resistência e avançar inexoravelmente até o "Grande Império Alemão" – a partir do leste e do oeste.
Foto: imago/United Archives
1945
No dia 8 de maio de 1945, os nazistas se renderam incondicionalmente. Para escapar da captura, Hitler se suicidou com um tiro no dia 30 de abril. Após seis anos de guerra, grande parte da Europa estava sob entulhos. Quase 50 milhões de pessoas morreram no continente durante a Segunda Guerra Mundial. Em maio de 1945, o marechal de campo Wilhelm Keitel assinava a ratificação da rendição em Berlim.