Como os mercados repercutiram o ataque iraniano a Israel
Timothy Rooks
16 de abril de 2024
Economia global não se abalou com o bombardeio. Mercados importantes, como o de petróleo, já haviam precificado uma possível ofensiva de Teerã, enquanto o ouro e as bolsas sofreram apenas leves alterações.
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Muitos investidores estão prendendo a respiração após o ataque sem precedentes de drones e mísseis do Irã contra Israel ocorrido em 13 de abril. O bombardeio foi o primeiro ataque direto lançado do território iraniano e ocorreu no mesmo dia em que a Guarda Revolucionária do Irã deteve um navio de contêineres ligado a Israel perto do Estreito de Ormuz.
O ataque iraniano foi amplamente antecipado depois que o Irã culpou Israel pela destruição de parte do complexo da embaixada iraniana em Damasco, na Síria, em 1º de abril.
Se o conflito se alastrar pelo Oriente Médio, o maior risco para a economia global será a resposta dos mercados de energia, especialmente nos preços do petróleo.
"Um aumento nos preços do petróleo complicaria os esforços para trazer a inflação de volta à meta nas economias avançadas, mas só terá um impacto significativo sobre as decisões dos bancos centrais se preços mais altos de energia se infiltrarem no núcleo da inflação", escreveu Neil Shearing, economista-chefe do grupo da consultoria Capital Economics, em uma nota aos clientes.
Entretanto, os preços do petróleo não se moveram muito desde o ataque. Parece que o mercado já havia levado em conta a atual situação de instabilidade e não se assustou com o ataque iraniano no fim de semana.
Cotas de produção da OPEP+
De fato, os preços do petróleo bruto Brent subiram de 83 dólares por barril há um mês para mais de 90 dólares por barril na semana passada, onde permaneceram, "estimulados, em parte, por preocupações com os suprimentos e os riscos geopolíticos dos conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia", escreveu Shearing.
O economista destacou que outro motivo para a calma no mercado de petróleo é a pressão de alguns membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados (Opep+) para aumentar as cotas de produção. "Uma expansão na oferta de petróleo obviamente ajudará a limitar qualquer aumento em seu preço", seja devido às crescentes tensões ou a problemas na cadeia de suprimentos, como as perigosas rotas marítimas do Mar Vermelho.
Jorge Leon, vice-presidente sênior da empresa norueguesa de análise do ramo de energia Rystad Energy, concorda. Embora a Opep+ tenha uma tarefa complicada de coordenar e gerenciar o mercado de petróleo, é provável que ela reduza os cortes voluntários de produção em uma reunião em junho, escreveu ele em uma nota na segunda-feira. Isso poderia liberar 6 milhões de barris por dia em capacidade ociosa para limitar as pressões sobre os preços, já que é do interesse do grupo evitar uma crise energética global.
Se os preços do petróleo aumentarem e permanecerem altos, isso poderia alimentar a inflação global em uma época em que vários países sofrem com a inflação alta de longo prazo.
Isso poderia criar um dilema para os bancos centrais, como foi observado após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, argumentaram os analistas do Deutsche Bank em uma nota aos clientes. "Por um lado, existe o risco de que um choque geopolítico prejudique o crescimento, antecipando o momento dos cortes nas taxas", de acordo com o banco.
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Ouro como porto seguro
Quanto às bolsas de valores, quando os mercados abriram na segunda-feira, muitos índices de ações asiáticos, como o Nikkei, estavam em baixa. "Mas isso reflete, em parte, uma recuperação da venda que já havia ocorrido na sexta-feira após o fechamento, quando surgiram manchetes sugerindo que poderia ocorrer um ataque", escreveram os analistas do Deutsche Bank.
Por sua vez, os mercados europeus abriram em alta. De modo geral, os analistas não veem muitas mudanças entre os principais ativos desde sexta-feira, "com os investidores esperançosos de que qualquer escalada será contida".
Um pequeno sinal de que os investidores estão procurando um investimento mais seguro é a alta do preço do ouro, que subiu 0,51% na segunda-feira, para pouco mais de 2.356 dólares (cerca de R$ 12.200) a onça.
Ainda é cedo, e o conflito pode se ampliar e atingir outros países, levar a mais sanções dos EUA contra o Irã ou danificar ou destruir a infraestrutura de petróleo. Algumas companhias aéreas ocidentais suspenderam temporariamente os voos para a região, enquanto outras redirecionaram rotas para evitar o espaço aéreo do Oriente Médio.
Se o Irã ou os rebeldes houthi continuarem a atacar navios ligados a Israel na importante rota comercial através do Estreito de Ormuz, "existe o risco de falsos alvos e danos colaterais", de acordo com a Ambrey, uma empresa de gerenciamento de riscos marítimos. Esse ou outro ataque aéreo poderia atrair ainda mais os EUA para o conflito, aumentar os custos globais de transporte e causar estragos na economia mundial.
A longa história do processo de paz no Oriente Médio
Por mais de meio século, disputas entre israelenses e palestinos envolvendo terras, refugiados e locais sagrados permanecem sem solução. Veja um breve histórico sobre o conflito.
Foto: PATRICK BAZ/AFP/Getty Images
1967: Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU
A Resolução 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada em 22 de novembro de 1967, sugeria a troca de terras pela paz. Desde então, muitas das tentativas de estabelecer a paz na região referiram-se a ela. A determinação foi escrita de acordo com o Capítulo 6 da Carta da ONU, segundo o qual as resoluções são apenas recomendações e não ordens.
Foto: Getty Images/Keystone
1978: Acordos de Camp David
Em 1973, uma coalizão de Estados árabes liderada pelo Egito e pela Síria lutou contra Israel no Yom Kippur ou Guerra de Outubro. O conflito levou a negociações de paz secretas que renderam dois acordos 12 dias depois. Esta foto de 1979 mostra o então presidente egípcio Anwar Sadat, seu homólogo americano Jimmy Carter e o premiê israelense Menachem Begin após assinarem os acordos em Washington.
Foto: picture-alliance/AP Photo/B. Daugherty
1991: Conferência de Madri
Os EUA e a ex-União Soviética organizaram uma conferência na capital espanhola. As discussões envolveram Israel, Jordânia, Líbano, Síria e os palestinos – mas não da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) –, que se reuniam com negociadores israelenses pela primeira vez. Embora a conferência tenha alcançado pouco, ela criou a estrutura para negociações futuras mais produtivas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Hollander
1993: Primeiro Acordo de Oslo
Negociações na Noruega entre Israel e a OLP, o primeiro encontro direto entre as duas partes, resultaram no Acordo de Oslo. Assinado nos EUA em setembro de 1993, ele exigia que as tropas israelenses se retirassem da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e que uma autoridade palestina autônoma e interina fosse estabelecida por um período de transição de cinco anos. Um segundo acordo foi firmado em 1995.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Sachs
2000: Cúpula de Camp David
Com o objetivo de discutir fronteiras, segurança, assentamentos, refugiados e Jerusalém, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, convidou o premiê israelense Ehud Barak e o presidente da OLP Yasser Arafat para a base militar americana em julho de 2000. No entanto, o fracasso em chegar a um consenso em Camp David foi seguido por um novo levante palestino, a Segunda Intifada.
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Edmonds
2002: Iniciativa de Paz Árabe
Após Camp David, seguiram-se encontros em Washington e depois no Cairo e Taba, no Egito – todos sem resultados. Mais tarde, em março de 2002, a Liga Árabe propôs a Iniciativa de Paz Árabe, convocando Israel a se retirar para as fronteiras anteriores a 1967 para que um Estado palestino fosse estabelecido na Cisjordânia e em Gaza. Em troca, os países árabes concordariam em reconhecer Israel.
Foto: Getty Images/C. Kealy
2003: Mapa da Paz
Com o objetivo de desenvolver um roteiro para a paz, EUA, UE, Rússia e ONU trabalharam juntos como o Quarteto do Oriente Médio. O então primeiro-ministro palestino Mahmoud Abbas aceitou o texto, mas seu homólogo israelense Ariel Sharon teve mais reservas. O cronograma previa um acordo final sobre uma solução de dois estados a ser alcançada em 2005. Infelizmente, ele nunca foi implementado.
Foto: Getty Iamges/AFP/J. Aruri
2007: Conferência de Annapolis
Em 2007, o então presidente dos EUA George W. Bush organizou uma conferência em Annapolis, Maryland, para relançar o processo de paz. O premiê israelense Ehud Olmert e o presidente da ANP Mahmoud Abbas participaram de conversas com autoridades do Quarteto e de outros Estados árabes. Ficou acordado que novas negociações seriam realizadas para se chegar a um acordo de paz até o final de 2008.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thew
2010: Washington
Em 2010, o enviado dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, convenceu o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, a implementar uma moratória de 10 meses para assentamentos em territórios disputados. Mais tarde, Netanyahu e Abbas concordaram em relançar as negociações diretas para resolver todas as questões. Iniciadas em setembro de 2010, as negociações chegaram a um impasse dentro de semanas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Milner
Ciclo de violência e cessar-fogo
Uma nova rodada de violência estourou dentro e ao redor de Gaza no final de 2012. Um cessar-fogo foi alcançado entre Israel e os que dominavam a Faixa de Gaza, mas quebrado em junho de 2014, quando o sequestro e assassinato de três adolescentes em mais violência. O conflito terminou com um novo cessar-fogo em 26 de agosto de 2014.
Foto: picture-alliance/dpa
2017: Conferência de Paris
A fim de discutir o conflito entre israelenses e palestinos, enviados de mais de 70 países se reuniram em Paris. Netanyahu, porém, viu as negociações como uma armadilha contra seu país. Tampouco representantes israelenses ou palestinos compareceram à cúpula. "Uma solução de dois Estados é a única possível", disse o ministro francês das Relações Exteriores Jean-Marc Ayrault, na abertura do evento.
Foto: Reuters/T. Samson
2017: Deterioração das relações
Apesar de começar otimista, o ano de 2017 trouxe ainda mais estagnação no processo de paz. No verão do hemisfério norte, um ataque contra a polícia israelense no Monte do Templo, um local sagrado para judeus e muçulmanos, gerou confrontos mortais. Em seguida, o plano do então presidente dos EUA, Donald Trump, de transferir a embaixada americana para Jerusalém minou ainda mais os esforços de paz.
Foto: Reuters/A. Awad
2020: Tiro de Trump sai pela culatra
Trump apresentou um plano de paz que paralisava a construção de assentamentos israelenses, mas mantinha o controle de Israel sobre a maioria do que já havia construído ilegalmente. O plano dobrava o território controlado pelos palestinos, mas exigia a aceitação dos assentamentos construídos anteriormente na Cisjordânia como território israelense. Os palestinos rejeitaram a proposta.
Foto: Reuters/M. Salem
2021: Conflito eclode novamente
Planos de despejar quatro famílias palestinas e dar suas casas em Jerusalém Oriental a colonos judeus levaram a uma escalada da violência em maio de 2021. O Hamas disparou foguetes contra Israel, enquanto ataques aéreos militares israelenses destruíram prédios na Faixa de Gaza. A comunidade internacional pediu o fim da violência e que ambos os lados voltem à mesa de negociações.
Foto: Mahmud Hams/AFP
2023: Terrorismo do Hamas e retaliações de Israel
No início da manhã de 7 de outubro, terroristas do grupo radical islâmico Hamas romperam barreiras em alguns pontos da Faixa de Gaza, na fronteira com Israel, e, em território israelense, feriram e mataram centenas de pessoas, além de sequestrarem mais de uma centena. Devido a isso, Israel declarou "estado de guerra" e iniciou uma série de bombardeios, deixando partes da Cidade de Gaza em ruínas.