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Como os presidenciáveis dos EUA usam e abusam da música

Dagmar Schönowsky | Silke Wünsch
11 de setembro de 2024

Uso de jingles em campanhas remonta a George Washington e pop entrou em cena com Reagan. Mas nem todos os artistas gostam de ser associados a candidatos - como a banda The White Stripes, que está processando Trump

Donald Trump e, ao lado, foto da banda The White Stripes
Mais um conflito com artistas envolvendo o ex-presidente e atual candidato à presidência dos Estados Unidos Donald Trump. Agora, com a banda The White Stripes Foto: David Dee Delgado/REUTERS/Vince Fedoroff/The Canadian Press/AP/picture alliance

Assim como um boxeador precisa de uma música para o aquecimento, todo candidato à presidência dos EUA precisa de um "playlist de campanha". Isso pode ser uma honra para bandas e músicos, mas nem sempre. Como, por exemplo, com a banda americana The White Stripes que está tomando medidas legais contra o candidato republicano à Presidência Donald Trump, após o ex-presidente usar o super hit do grupo Seven Nation Army sem autorização. Com essa ação, o grupo quer garantir que a música não possa ser mencionada ou tocada pelos republicanos. Jack White, vocalista e guitarrista da banda, publicou uma foto do processo no Instagram.  

Em agosto, a cantora canadense Céline Dion anunciou que não toleraria que sua música My Heart Will Go On fosse usada para a campanha eleitoral de Trump. Nos EUA, os músicos têm a oportunidade de tomar medidas legais contra o uso de suas músicas em palanques políticos, diferentemente de países como a Alemanha, onde  várias reclamações semelhantes de artistas alemães não dão em nada. Já no Brasil, até paródias de músicas em jingles políticos sem autorização dos compositores originais estão proibidas nas eleições 2024. 

Nos EUA, a música tem uma longa tradição em campanhas eleitorais, começando com o primeiro presidente dos Estados Unidos:

George Washington: God Save Great Washington

George Washington foi o primeiro presidente dos EUA, de 1789 a 1797 Foto: akg-images/picture alliance

God Save Great Washington é considerado o hino pessoal do primeiro presidente dos Estados Unidos. A melodia do hino britânico "God Save The King” foi adotada e reescrita de modo que "Great Washington" se encaixasse. Isso foi um golpe contra a coroa britânica - afinal, George Washington liderou os EUA na luta pela independência dos britânicos.

John F. Kennedy 1960: High Hopes, de Frank Sinatra

John F. Kennedy e Frank Sinatra também foram amigos

A canção premiada com o Oscar High Hopes, de 1959, de Frank Sinatra, recebeu uma nova letra de Sammy Cahn para a campanha eleitoral de John F. Kennedy, em 1960, e se tornou o jingle oficial da campanha.

Ronald Reagan 1984: Born In The U.S.A., de Bruce Springsteen

A música de Springsteen deu mais sorte a Reagan do que a democrata Hillary Clinton

A música escolhida para a campanha eleitoral do republicano Ronald Reagan, em 1984, é considerada o maior erro da história das músicas escolhidas para campanhas. Born In The U.S.A. ("nascido nos EUA") não é nada patriótica. Na música, Bruce Springsteen se distancia da Guerra do Vietnã e critica o governo dos EUA da época e o tratamento dado aos veteranos de guerra. Mas, para Reagan, deu certo e ele foi reeleito.

Já na campanha eleitoral de 2016 nos EUA, o  apoio de Springsteen à democrata Hillary Clinton, não deu muita sorte. Ela, que concorria contra Donald Trump, foi derrotada.

Reagan ainda fez uso em 1984 da mais patriótica God Bless the U.S.A. (“Deus abençoe os EUA, também conhecida como "Proud to Be an American"), que foi ainda reaproveitada pela campanha do republicano George H. Bush em 1988.

Bill Clinton 1992: Don't Stop, de Fleetwood Mac

Bill Clinton ganhou a eleição. Será que teve também o voto de Stevie Nicks, do Fleetwood Mac?

A seguinte tática está por trás da escolha da música: Don't Stop (Thinking About Tomorrow) foi lançada em 1977 e tinha um número particularmente grande de fãs jovens nos EUA na época. 15 anos depois, os fãs do Fleetwood Mac daquela época se tornaram eleitores de meia-idade, ou seja, a geração com um comparecimento particularmente alto às urnas. Com isso, a equipe de Bill Clinton esperava vencer a eleição. A matemática deu certo, Clinton venceu.

George W. Bush 2000: I Won't Back Down, de Tom Petty 

O músico Tom Petty (†2017) não gostou de ver sua música na campanha de George W. Bush

Tom Petty protestou contra o uso de sua música e proibiu o republicano George W. Bush de usá-la. Houve problemas novamente em 2020. O então presidente em exercício dos EUA, Donald Trump, tocou a música em uma apresentação de campanha em Tulsa (Oklahoma). Os herdeiros do músico, já falecido, enviaram a Trump uma carta exigindo a suspensão do uso da música.

Barack Obama 2008: Signed, Sealed and Delivered, de Stevie Wonder

Músicos, como Stevie Wonder, ficaram felizes em subir no palanque para Barack ObamaFoto: picture-alliance/dpa

A música de Stevie Wonder foi tocada regularmente após os discursos de Barack Obama durante a campanha eleitoral de 2008. Obama contava com o apoio de grandes setores da cultura pop: Bruce Springsteen, Beyoncé e Katy Perry estavam entre eles. O rapper e produtor will.i.am, do Black Eyed Peas, produziu a faixa "Yes We Can” em sua homenagem.

Donald Trump 2020: conflitos com os Rolling Stones e outros artistas

Mick Jagger não quer que suas músicas sejam usadas na políticaFoto: Toby Melville/REUTERS

Bem diferente foi a situação na campanha eleitoral presidencial de 2020: Donald Trump usou a música You Can't Always Get What You Want dos Rolling Stones em várias ocasiões. O vocalista dos Stones, Mick Jagger, quis acabar com isso e, junto com seu guitarrista Keith Richards, assinou uma carta aberta na qual os artistas se recusaram a ser atrelados a campanhas políticas. Elton John, Lionel Richie, a banda Pearl Jam e Sheryl Crow estavam entre os que assinaram a carta.

Seguindo o exemplo, a banda White Stripes promete não deixar barato o uso de sua música nas eleições deste ano. Resta saber qual será a trilha sonora substituta de Trump.