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Como prevenir e combater a dengue?

Publicado 31 de janeiro de 2024Última atualização 11 de dezembro de 2024

Américas são palco da pior epidemia de dengue na região em 40 anos. Brasil tem 80% dos casos. Saiba quais são os recursos e medicamentos eficazes contra a dengue – e quais podem ser prejudiciais.

O mosquito Aedes aegypti sobre pele humana
O mosquito Aedes aegypti é o principal vetor da dengueFoto: CDC/BSIP/picture alliance

As Américas são palco atual da pior epidemia de dengue desde que começou o levantamento sistemático de casos da doença, em 1980. Entre janeiro e final de outubro de 2024, houve registro de quase 12,7 milhões de casos na região – quase o triplo do número do ano passado. A informação foi divulgada pela Organização Panamericana de Saúde (Opas).

O órgão afirma que pelo menos 7.700 pessoas morreram em consequência da doença viral este ano na região. O Brasil concentra 79% dos casos registrados junto à Opas, com 10,02 milhões. Juntamente com o México, a Colômbia e a Argentina, o país responde por 90% dos casos relatados pela organização.

O diretor-geral da Opas, Jarbas Barbosa, destacou que as crianças são o grupo que mais corre risco com a doença. "Em países como a Guatemala, 70% das mortes ligadas à dengue foram de crianças", alertou.

No mundo todo, houve 13 milhões de infecções por dengue e 8.500 mortes ligadas à doença, segundo diz o Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças (Ecdc, na sigla em inglês). No ano anterior, o número foi de seis milhões de infecções e de 6 mil mortes.

De acordo com um estudo da Universidade de Stanford, o aumento drástico do número de casos de dengue pode estar relacionado com o aumento da temperatura global. Cerca de 19% dos casos já são apontados em países especialmente afetados pelos efeitos das mudanças climáticas.

No Brasil, o início de 2024 foi marcado por um grave surto da doença. Até meados de fevereiro, o Ministério da Saúde tinha registrado mais de meio milhão de casos suspeitos de dengue – o equivalente um número quase quatro vezes maior do que o observado no mesmo período do ano passado.

Graves surtos de dengue vêm sendo registrados em diversos países da América Latina e da Ásia desde a segunda metade de 2023. Típica de regiões tropicais e subtropicais, a doença hoje já está presente também na Europa.

Como a dengue é disseminada?

Fortes chuvas e altas temperaturas favorecem o desenvolvimento do Aedes aegypti, um dos mosquitos que carregam o vírus da doença. Uma nova vacina passou a ser oferecida no Brasil este ano, com uma campanha de vacinação iniciada no país em fevereiro.

O Aedes aegypti se adapta particularmente bem a ambientes urbanos. O mesmo não acontece com o Aedes albopictus, espécie parente conhecida como mosquito-tigre-asiático devido às suas manchas pretas e brancas características. Ambas podem transmitir a dengue.

Os mosquitos do gênero Aedes são nativos de regiões tropicais e subtropicais. Entretanto, devido às mudanças climáticas e ao aquecimento global, eles encontram agora condições de vida cada vez melhores na Europa. Os mosquitos, afinal, adoram climas com muito calor e umidade.

Quais são os sintomas da dengue?

Ainda que casos graves ou mesmo mortes sejam raros, a dengue não é uma doença viral inofensiva. Os primeiros sinais, geralmente, aparecem dentro de quatro a dez dias após a picada de um mosquito infectado.

Os sintomas mais comuns incluem febre alta repentina, fortes dores de cabeça, dores articulares e musculares muito desagradáveis e erupções cutâneas que se espalham do tronco até os braços, pernas e rosto. Pessoas infectadas também reclamam de dores no fundo dos olhos, fraqueza e fadiga.

Em casos graves, um médico deve ser consultado imediatamente, pois podem ocorrer sangramentos e complicações potencialmente fatais.

Por que a dengue é com frequência tratada incorretamente?

Como muitos sintomas são semelhantes, a dengue é frequentemente confundida com gripe ou outras infecções virais, como a malária ou a doença do vírus Zika, levando assim a um tratamento incorreto.

Não existe nenhum teste rápido simples e barato capaz de detectar a dengue. Um diagnóstico confiável exige exames de sangue em laboratórios especializados.

Quais medicamentos ajudam e quais podem ser prejudiciais?

Dado que ainda não há uma terapia antiviral específica, como existe para a malária, o tratamento se limita ao alívio dos sintomas. É importante ficar atento para uma ingestão adequada de água, já que a doença pode provocar grande perda de líquidos, sobretudo por meio de febre e vômitos.

Medicamentos como paracetamol podem ser usados ​​para aliviar a febre e a dor. Já o uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), como o ibuprofeno, deve ser evitado, pois pode aumentar o risco de sangramento. Isso também se aplica a medicamentos que contêm o ingrediente ativo ácido acetilsalicílico, como a aspirina, porque ele afina o sangue.

Quem se infecta com a dengue adquire imunidade?

Existem quatro sorotipos diferentes do vírus da dengue, denominados DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. Quem é infectado por um determinado sorotipo geralmente fica imune a esse sorotipo específico – mas não aos outros. Além disso, a imunidade pode diminuir com o tempo.

Como se proteger do mosquito?

O Aedes aegypti e o Aedes albopictus preferem picar suas vítimas ao ar livre pela manhã e no fim de tarde. Eles evitam o sol escaldante e preferem ficar na sombra. Por isso, é importante passar repelente de mosquitos no corpo durante o dia e, se possível, vestir roupas compridas que cubram também os braços e as pernas.

Eles põem seus ovos em pequenos reservatórios de água parada, como vasos de flores, barris de chuva ou pneus de carros. Tais focos de propagação devem ser evitados e, se possível, removidos ou cobertos.

Existe vacina contra a dengue?

Atualmente, há duas vacinas aprovadas. Uma delas é a Dengvaxia da Sanofi Pasteur, que oferece proteção contra os quatro sorotipos do vírus e deve ser administrada em doses múltiplas para fornecer proteção suficiente. Essa vacina, no entanto, traz uma desvantagem: depois da vacinação com a Dengvaxia, há um maior risco de desenolver um quadro grave da doença no caso de uma infecção posterior por uma picada.

Se após a vacinação não são produzidos anticorpos suficientes para criar imunidade completa contra todos os quatro sorotipos do vírus da dengue, pode ocorrer o que é conhecido como "potencialização dependente de anticorpos" (ADE, na sigla em inglês). As partículas do vírus podem então entrar nas células e piorar a infecção em vez de combatê-la.

É por isso que a Dengvaxia praticamente não é usada na Europa. Na maioria das vezes, a vacina só é recomendada em áreas onde a dengue já é endêmica, ou seja, ocorre de forma constante e regular.

A segunda vacina, a Qdenga, da Takeda, causa menos efeitos colaterais e pode ser aplicada a partir dos quatro anos de idade. Essa nova vacina, porém, oferece eficácia confirmada de longo prazo na prevenção de hospitalização apenas contra três sorotipos de dengue (não foi confirmada para o sorotipo DEN-4 devido à menor incidência de casos no estudo de longo prazo). A Qdenga é o imunizaante utilizado na campanha de vacinação no Brasil, que passou a ser aplicada em parte da população de regiões endêmicas a partir de fevereiro de 2024.

ip/bl/rk (Agência Brasil, ots)

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