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EducaçãoBrasil

Como professores se sentem no dia em sua homenagem

Vinícius de Andrade
Vinícius De Andrade
17 de outubro de 2024

No Dia do Professor, conversei com vários desses profissionais das cinco regiões do país e trago neste texto suas vozes, percepções e incômodos.

Dia do Professor é comemorado em 15 de outubro no BrasilFoto: picture-alliance/dpa/M. Murat

Professor, o que você já está cansado de ouvir no Dia do Professor?

"Que minha profissão é importante, e que sem ela não existiria as outras. Eu sei, a torcida do Corinthians também sabe. Muito mais do que escutar frases clichês, queremos o reconhecimento através de ações que moralizem e fortaleçam nossa classe, como por exemplo, concurso público (estabilidade e plano de carreira), melhores condições de trabalho (salas menos lotadas e climatizadas, computadores adequados, bom acesso à internet, etc.)", diz Guilherme Lima, professor de história na rede pública paulista.

No Dia do Professor, as frases clichês pautaram quase todas as homenagens. Eu mesmo, confesso, até alguns anos atrás sempre compartilhava frases do tipo, inclusive escrevi uma coluna com esse teor há alguns anos. Na época, fui bem repreendido por professores nos comentários e entendi completamente o incômodo causado.

Ainda que não tenha sido intencional, estava corroborando com uma narrativa romântica e até mesmo um pouco hipócrita, sobretudo dado o contexto educacional no Brasil e a imensa desvalorização que acomete, em todos os níveis possíveis, esses profissionais.

Entendo que minha forma de ajudar, principalmente através da minha posição em um veículo de comunicação, é oferecendo um espaço para as vozes desses profissionais. Assim, para este texto, falei com 52 professores das cinco regiões do país.

Desvalorização social X salarial

Para 66% dos professores com quem conversei, a desvalorização social é pior do que a salarial. No entanto, todos frisam que as duas são ruins, além de estarem correlacionadas.

Maria, professora em Sergipe, faz parte do grupo que acredita que a desvalorização social tenha um maior peso, mas reforça: "Não significa que a salarial não existe. Na verdade, penso que ela seja uma consequência, um reflexo da desvalorização social do professor enquanto profissão. A desvalorização chega a um ponto no qual o trabalho não pago não é nem minimamente ocultado, quando frequentemente somos colocados em posições para exercer além dos nossos compromissos, mas sempre sem remuneração referente a isso".

Já para Alexandra, professora de história na rede amazonense, o contexto faz com que demandas extras e alheias ao colégio caiam nos ombros dos professores. "Sempre se fala na desvalorização salarial, mas a social é gritante. A cada ano que passa podemos ver como as responsabilidades afetivas, emocionais e educacionais estão sendo relegadas aos professores e isso tem um peso enorme sobre nós."

Por fim, ainda no contexto das consequências da desvalorização, Ana, professora há 13 anos, lamenta: "Há alguns anos nossa profissão e carreira estão sendo descaracterizadas e estamos sendo criminalizados, distorcidos, vilipendiados e tratados como criminosos e despreparados, o que não é verdade. Por vezes, nos sentimos seres de terceira categoria".

O que mais desmotiva?

Já li comentários dizendo que professores são reclamões, que ganham bem e que "choram" de barriga cheia. O pano de fundo é uma absurda desvalorização e poucas vezes esses profissionais têm suas falas verdadeiramente ouvidas e respeitadas.

Para Raul, professor no Amapá, o que mais desmotiva é a desvalorização, as condições de trabalho, a carga de trabalho excessiva, a falta de apoio e os desafios comportamentais com os estudantes.

Anna, professora no Ceará, também sente inclusive um movimento de colocar os jovens contra os professores.

Já Maria, professora em Sergipe, lamenta: "As pessoas esquecem que o trabalho de um professor vai além das salas de aula. Produzir material didático, avaliações, fazer as correções, entre outros projetos e atividades. Bem, é óbvio dizer isso, mas não é possível dar conta de todas essas atividades em sala de aula. Infelizmente, os professores ainda levam muito trabalho para casa".

E o que motiva?

Ainda há uma grande quantidade de excelentes profissionais que seguem resistindo. Há razões para isso que claramente não se pautam no alto salário ou em uma plena valorização. O que os mantém motivados então?

Para Erica, professora em Santa Catarina, são as "micro, mas importantes revoluções cotidianas. Orientar os jovens para uma vida em sociedade, de maneira que pensem no coletivo e o quanto suas condutas são importantes no todo social".

Já para a Ana, é "aquele estudante, que no final da aula, está ali, me olhando, com os olhos brilhantes. Aquele que se desafia e no final do processo vem agradecer. Aquele que depois de muitos anos te procura para te dizer o quanto aquela aula, aquele abraço, aquele sorriso que eu dei, mudou o dia dele, e foi importante para que ele pudesse seguir".

Professor, trabalhe com amor e não por amor

Houve um ponto na fala de alguns que me chamou muito a atenção: trabalhar com amor e não por amor. "O romantismo de que ‘trabalhamos por amor' atrapalha a evolução da carreira. Visto que em nenhuma profissão trabalha apenas por amor, mas sim para se sustentar e conseguir seus objetivos pessoais. A profissão de professor não tem porquê ser diferente", diz Alex, professor na rede mineira.

Para concluir a coluna, eu mesmo, o autor, quero deixar algumas palavras.

Professor, te agradeço por resistir. Sei que não é fácil e que, sobretudo hoje em dia, resistir têm sido um desafio cada vez maior. É uma pena que seja a realidade que nos encontramos, mas eu, assim como tenho certeza que você também, acredito que a educação seja o único caminho para mudar o Brasil. Portanto, tomarei a liberdade de lhe pedir que siga resistindo. Você, embora às vezes pareça, não está só.

Te desejo que siga trabalhando com muito amor, mas sabendo que não precisa ser por amor. Afinal, está exercendo uma profissão e não um sacerdócio como, estrategicamente, tentam embutir em você.

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Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação.

Este texto foi escrito por Vinícius de Andrade e reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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A coluna quinzenal é escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade.