Como ruiu um dos maiores impérios da economia alemã
Rolf Wenkel | Malte Rohwer-Kahlmann av
6 de março de 2017
De magnata a comerciante falido: começando no sul da Alemanha, Anton Schlecker construiu uma rede europeia de drogarias com faturamento de 7 bilhões de euros. Entre fraudes e escândalos, agora ele pode ir para prisão.
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Quanto mais alto o coqueiro, maior a queda: Anton Schlecker, um dos mais bem-sucedidos comerciantes da Alemanha e proprietário de milhares de drogarias, vai agora a julgamento. Ele é acusado de haver desviado, para os bolsos de seus familiares, mais de 20 milhões de euros dos credores, antes que sua cadeia varejista entrasse em falência, em 2012.
Caso os juízes do tribunal de Stuttgart o considerem culpado, o alemão de 72 anos poderá ter que cumprir pena de até dez anos de prisão. Sua esposa, Christa, e os dois filhos, Meike e Lars, respondem a processo por terem supostamente ajudado o patriarca na fraude. E tudo aponta para o melancólico fim de uma saga comercial alemã.
Schlecker abriu sua primeira drogaria em 1975, em Kirchheim unter Teck, próxima a Stuttgart. A partir do sul da Alemanha, ele partiu então para erguer um império varejista sem precedentes: após dois anos, possuía 100 lojas, em 1984 já eram mil.
Pouco mais tarde, o empresário mirou mercados mais amplos, levando seus negócios para o exterior. Em 2007, a cadeia Schlecker já atravessava 13 países europeus, com mais de 52 mil funcionários e um faturamento anual de 7 bilhões de euros. Na Alemanha, era a campeã de mercado.
Mas tal ascensão não foi impecável. Em 1998, Anton e sua esposa foram condenados, por fraude, a dez meses em liberdade condicional. Segundo o Tribunal Regional de Stuttgart, o casal fizera falsamente crer a seus empregados que os pagava de acordo com os acordos salariais coletivos.
Escândalos em série
Em 2010, Schlecker voltou a gerar manchetes negativas ao ser revelado que sua gerência instalara ilegalmente câmeras para monitorar os funcionários. Paralelamente veio à tona que, mais uma vez, a empresa estava pagando menos do que deveria.
Ela se aproveitara de uma brecha na lei originalmente destinada a proteger os trabalhadores temporários, encerrando os contratos de seu pessoal para em seguida reempregá-lo através de uma agência de emprego fundada pelo próprio Schlecker.
Isso permitia à firma negociar um novo acordo salarial que, na prática, quase reduzia à metade a hora de trabalho, de 12 para 6,5 euros. Embora a prática fosse legal, e as autoridades não pudessem intervir, a imagem da cadeia sofreu consideravelmente com o escândalo.
Em reação ao consequente afastamento da freguesia, a diretoria decidiu reformar as lojas e lançou uma grande campanha de marketing para recuperar sua imagem. No entanto, as despesas acabaram por selar o destino da companhia já debilitada: em vez da esperada volta por cima, em 2012 a Schlecker abriu falência.
Devido à forma legal sob a qual operavam, Anton e toda sua família eram pessoalmente responsáveis pela bancarrota. Na época, declararam não possuir "ativos privados substanciais".
Agora, o tribunal em Stuttgart decidirá se isso era verdade ou se os Schlecker foram simplesmente rápidos o suficiente para colocar suas últimas economias fora do alcance dos credores.
As dez maiores empresas familiares alemãs
Volks, BMW e Bosch são empresas nas mãos de famílias. Em 2015, as 50 maiores empresas familiares da Alemanha geraram juntas mais de um trilhão de euros. Conheça as dez maiores.
Foto: picture-alliance/dpa/C. Seidel
Volkswagen
As famílias Porsche e Piëch controlam a maior montadora da Europa, com 610 mil funcionários distribuídos pelo mundo. Apesar do escândalo das emissões dos veículos a diesel, no ano passado, o volume de vendas do grupo Volkswagen foi de 213 bilhões de euros.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Jensen
BMW
Em segundo lugar vem outro fabricante de automóveis. A BMW faturou 92 bilhões de euros em 2015. Os irmãos Stefan Quandt e Susanne Klatten detêm 46,7% da empresa com sede em Munique.
Foto: picture alliance/dpa
Lidl & Cia
O volume de vendas do Grupo controlado pelos descendentes de Dieter Schwarz, das redes Kaufland e Lidl, de Neckarsulm, cresceu em mais de 5 bilhões de euros no ano passado, para 79,3 bilhões de euros. Em 2018, deverão ser abertas as primeiras filiais de supermercados Lidl nos Estados Unidos.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Kalaene
Bosch
O produtor de peças para veículos comprou em 2015 a fábrica de eletrodomésticos BSH e a ZF Sistemas de Direção, impulsionando seu faturamento em 44%, o que representa mais de 70 bilhões de euros. Devido ao envolvimento no escândalo das emissões da VW, a empresa com sede em Stuttgart e controlada pelos sucessores de Robert Bosch reserva mais de 500 milhões de euros para cobrir potenciais riscos.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Kahnert
Metro
O gigante do ramo atacadista Metro, com sede em Düsseldorf, tem mais de 200 mil funcionários distribuídos por filiais em vários países. As principais empresas do grupo são Media Markt, Saturn, Real e Kaufhof. Os principais acionistas são as famílias Haniel, Schmidt-Ruthenbeck e Beisheim.
Foto: picture-alliance/dpa
Continental
E mais uma fornecedora de peças para veículos aparece na lista. No ano passado, a Continental aumentou em 14% seu volume de vendas, para 39,2 bilhões de euros. A empresa com sede em Hannover pertence à holding Schaeffler. Maria-Elisabeth Schaeffler e seu filho Georg detêm 46% da fabricante de pneus.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Stratenschulte
Aldi
As duas cadeias de supermercados Aldi Süd e Aldi Nord, chefiadas pelas famílias dos irmãos Albrecht, tiveram juntas um volume de vendas de 28 bilhões de euros em 2015.
Foto: picture-alliance/dpa
Fresenius
Em oitavo lugar aparece a Fresenius, empresa dedicada aos cuidados de saúde, com um faturamento de 27,6 bilhões de euros no ano passado. Isso corresponde a um crescimento de 19% em relação a 2014. O Grupo Fresenius tem sede em Bad Homburg e possui quatro segmentos independentes. O mais conhecido é Fresenius Medical Care. Acionista majoritária é a fundação Else Kröner-Fresenius.
Foto: picture-alliance/dpa
Phoenix
A distribuidora de produtos farmacêuticos Phoenix, com sede em Mannheim, é a maior do ramo na Alemanha. A empresa, que pertence ao Grupo Merckle, da família de mesmo nome, movimentou 22,6 bilhões de euros no ano passado.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Anspach
Henkel
A empresa de Düsseldorf fabrica produtos químicos, de limpeza, cosméticos e adesivos. A família Henkel detém 61% das ações da empresa, que faturou 18 bilhões de euros em 2015.