Como startups na Alemanha buscam os melhores talentos
9 de setembro de 2019A Usercentrics, uma startup de confidencialidade de dados localizada em Munique, no sul da Alemanha, possui um calendário de trabalho totalmente diferente do de uma empresa comum. Toda sexta-feira, às 16h30min, os MacBooks são desligados e o som de latas de cerveja sendo abertas pode ser ouvido pelos corredores.
As quartas-feiras são reservadas para almoços informativos, nos quais o Chief Happiness Officer (CHO – um gestor de recursos humanos que aborda a felicidade dos funcionários), que detém um diploma na arte de ser feliz do Instituto Fritz-Schubert em Heidelberg, cozinha pratos vegetarianos e oferece sessões individuais de treinamento durante o horário de trabalho entre as reuniões.
Eventos em equipe, como manhãs com programas de bem-estar com ioga e granola, oferecem estímulos matinais, enquanto caminhadas para cervejarias ao ar livre compõem as tardes. E, de vez em quando, é preciso ter cautela quando colegas disparam armas com munições esponjosas.
"Há apenas alguns anos, isso seria inimaginável num ambiente de trabalho na Alemanha", disse Lisa Gradow, cofundadora da Usercentrics. "Mas acreditamos firmemente numa abordagem personalizada para cuidar de nossos funcionários e sabemos que isso será recompensando em longo prazo."
Essa mentalidade é o que incentiva startups como a Usercentrics a alocar uma grande parte de seu orçamento para incentivar um ambiente produtivo e saudável, mesmo onde outros possam argumentar que o dinheiro poderia ser gasto de forma diferente.
Os millennials decidem pelo equilíbrio
Gestão que se preocupa com o bem-estar de seus funcionários e, ao mesmo tempo, fornece uma plataforma para causar um impacto real nos negócios, foi o que levou Jürgen Weichert, ex-gerente sênior do Google, a trabalhar na Usercentrics.
Como chefe de desenvolvimento de parceiros estratégicos no setor Google DACH (responsável pelos mercados de Alemanha, Áustria e Suíça), Weichert foi responsável por gerar mais de 100 milhões de dólares em vendas de parceiros – habilidades que ele agora trouxe para sua nova função como vice-presidente de desenvolvimento de negócios da Usercentrics.
O atrativo: um equilíbrio saudável entre vida profissional e pessoal, algo que está se tornando um dos fatores determinantes mais importantes na escolha de onde trabalhar. Muitas empresas estabelecidas estão com problemas para contratar os melhores talentos porque não apenas os millennials desejam um ambiente de aprendizado rápido e desafiador, mas também querem ser capazes de manter o ritmo e se afastar de questões como burnout e depressão, que seriam mais custosos em termos de perda salarial em longo prazo.
"Embora o salário seja menos competitivo numa startup, eu sabia que queria trabalhar numa empresa que permite mudanças e impactos acelerados por meio de uma diretoria que realmente se preocupa em ter uma equipe feliz. As gerações Y e Z não são atraídas pelas empresas tradicionais, e trabalhar até as 2 da manhã todos os dias não é sustentável se você quiser crescer com uma empresa", afirmou Weichert.
"Há uma grande desconexão entre a maneira pela qual as empresas tradicionais e as modernas funcionam, com mais e mais millennials optando pela segunda opção", concluiu Weichert.
Melhor ética e criatividade no ambiente de trabalho
Pesquisas realizadas e publicadas recentemente em estudos da PwC e da McKinsey, duas das principais consultorias de gestão do mundo, determinaram que esse tipo de cultura empresarial promove melhor ética e criatividade no ambiente de trabalho, permitindo que as empresas mantenham seus melhores talentos.
Funcionários comprometidos e uma baixa taxa de rotatividade são fatores importantes para o sucesso de qualquer startup, como a Usercentrics, que recentemente assegurou outros milhões em outra rodada de capital de risco como uma das principais plataformas de gerenciamento de consentimento da União Europeia (UE).
Desde a sua fundação no final de 2017, a empresa cresceu vertiginosamente e já conta com pequenas e médias empresas e companhias listadas na classificação Global Fortune 500 entre seus clientes. Usercentrics é apoiada por investidores de capital de risco, incluindo Alstin, Reimann Investors e Calvary Ventures, e está visando expandir nos EUA e levar a cultura da empresa que provou ser muito bem-sucedida.
"Estamos muito animados em ver que uma startup é uma alternativa perfeitamente aceitável e ainda mais atraente nos dias atuais", disse Mischa Rürup, cofundador e presidente-executivo da empresa. "Isso me faz acreditar na minha decisão de alocar uma parte tão grande de nossos fundos para esse tipo de atividade."
Ao entrar na sala da Usercentrics e conversar com um funcionário ao lado da máquina de café, fica evidente que esse tipo de cultura empresarial da startup está, de fato, atraindo os profissionais mais inteligentes e comprometidos.
"É muito gratificante ver a escala e a variedade de talentos fazendo a troca [de empresas tradicionais para startups]", disse Gradow. "E estou empolgado em ver como essa mentalidade se desenvolverá em empresas de todos os tamanhos em todo o mundo."
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