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EducaçãoBrasil

Como superei obstáculos e tive sucesso no Enem

Brasilianische Studentin Brenda Hellen Torquato Gomes mit Eltern
Brenda Hellen Torquato Gomes
16 de fevereiro de 2023

Para mim, nordestina e de origem humilde, desistir dos estudos nunca foi uma opção. Obter a nota quase máxima na redação do Enem é um grande passo para a realização de um sonho: ingressar na faculdade de Direito.

Brenda Hellen com os pais: "Sempre fui apoiada por meus pais em todas as jornadas. Por mais que não tivéssemos condições financeiras boas, investir na educação era o foco principal."Foto: privat

Estudante de escola pública no Ceará, de origem humilde. Uma vida repleta de obstáculos, mas também de determinação, que fez com que eu conquistasse 980 de 1.000 pontos na redação do Enem. Essa sou eu, Brenda Hellen, nordestina, guerreira e que sempre acreditou que a educação é a chave mais poderosa para abrir portas.

Minha vida nunca foi fácil, tive que passar por várias adversidades para a conquista de algo, mas sempre fui apoiada por meus pais em todas as jornadas. Por mais que não tivéssemos condições financeiras boas, investir na educação era o foco principal.

Em 2015, fui aprovada para entrar no Colégio da Polícia Militar, e isso foi motivo de muita alegria para mim e para os meus pais. Porém, com o início de toda fase, vêm novos desafios.

Todos os dias, eu tinha que pegar o ônibus para ir à escola, ia sozinha, e na volta para casa meu pai ia me buscar, porque ele se preocupava muito com a minha segurança. Como não tínhamos dinheiro para gastar com as passagens, tivemos que nos adaptar. Assim, no período da tarde, meu pai precisava percorrer o trajeto de 3 km para chegar à estação de trem mais próxima e caminhar mais 2 km para chegar até a minha escola. Quando eu chegava em casa, apesar de muito cansada, me dedicava ao máximo aos estudos, sendo essa a minha rotina durante seis anos.

Falta de internet e persistência

Com a chegada da pandemia, em 2020, tive que encarar outro grande desafio: a falta de internet para assistir às aulas online. Nunca tive acesso à internet na minha casa, sempre busquei aprender à maneira antiga, pesquisando nos livros. Porém, com o ensino à distância (EAD), eu necessitava desse acesso, mas como não tínhamos condições de pagar, precisei ir assistir às aulas na escola. Fui literalmente a única aluna no colégio, durante o ano, sempre com a mesma rotina de ida e volta da escola.

Todos os professores ficavam admirados com a minha persistência nos estudos, e, mesmo com inúmeras barreiras que poderiam levar à minha desistência, nunca faltei nenhum dia, durante todos os anos que estudei. Isso deve-se em grande parte ao esforço dos meus pais diariamente e à minha motivação de sempre querer dar orgulho e um futuro melhor a minha família.

Perder o meu pai foi como perder uma parte de mim mesma

No início de 2021, recebi a notícia de que os alunos das escolas iriam ganhar um chip de internet do governo, e isso me deixou muito feliz. Mas a alegria não durou muito na minha vida. Meu pai era técnico em eletrônica e, durante a pandemia, as coisas não iam bem, mas com o decorrer dos meses, o cenário econômico parecia que iria mudar. Contudo, no mês de abril, quando meu pai estava voltando do trabalho, recebi a notícia de que ele havia passado mal na rua e tinha sofrido um acidente. Receber essa notícia estando sozinha em casa não foi fácil.

Fiquei desesperada quando fui encontrá-lo e o vi desmaiado na rua perto de casa. O impacto da queda foi tão grande que, ao chegar ao hospital, ele teve uma parada cardíaca e faleceu. Perder o meu pai foi como perder uma parte de mim mesma, pois além de ser a base de tudo no meu dia a dia, ele era o meu professor, o meu companheiro de viagem e, principalmente, o meu melhor amigo.

A partir disso, eu e minha mãe passamos a ser o apoio uma da outra. Além do luto, enfrentamos uma péssima condição financeira, dependendo da ajuda de vizinhos e da família para sobreviver, até o momento em que conseguimos receber o auxílio do governo.

Desistir nunca foi uma opção

Apesar de tudo que estávamos passando, desistir dos estudos nunca foi uma opção para mim. Ao chegar ao 3º ano do Ensino Médio, já no modelo presencial, sofri com ansiedade, nervosismo e medo de não conseguir atingir as minhas metas. Eu me cobrava muito porque achava que, para ir bem no Enem, precisava de quantidade nos estudos, mas estava errada. 

Foi nesse momento que conheci o programa Salvaguarda e, assim, tive acesso a tutoria, corretores e monitores, de forma gratuita, que guiavam e direcionavam os estudos, mostrando que a qualidade e a constância eram o melhor caminho. Além desse apoio, também tinha o acompanhamento de professores de redação na escola, e a cada erro cometido, os estudava e tentava melhorar, começando a focar cada vez mais. Com o decorrer das correções, fui estabelecendo metas para mim mesma e superando as notas, uma a uma.

Na prova do Enem, apliquei tudo o que tinha aprendido, conforme a estratégia de texto que eu tinha. O resultado disso foi um surpreendente 980 na redação. Mérito esse que consegui a partir de foco, determinação e apoio durante a trajetória do último ano letivo.

Um grande passo para realizar um sonho

Obter essa nota representa mais do que uma conquista, mas também um grande passo para a realização de um sonho: ingressar na faculdade de Direito. Além de ser a prova de que com a educação é possível ultrapassar qualquer barreira social, independentemente das adversidades.

Portanto, digo aos alunos de escola pública como eu: não deixem que essas barreiras os impeçam de alcançar seus objetivos. Pois, as pessoas podem tirar tudo de você, menos o seu conhecimento – ideia que levo comigo todos os dias, assim como a minha história.

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Vozes da Educação é uma coluna quinzenal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do Salvaguarda no Instagram em @salvaguarda1

Este texto foi escrito por Brenda Hellen Torquato Gomes, de Fortaleza, e reflete a opinião da autora, não necessariamente a da DW. 

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Vozes da Educação

A coluna quinzenal é escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade.