Como tratar o legado de sobreviventes do Holocausto?
Julia Hitz
7 de julho de 2022
Testemunhas dos horrores do nazismo desempenham um papel importante até hoje. Exposição em Berlim discute como lidar de forma responsável com os preciosos relatos, também após sua morte.
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Eles experimentaram sofrimento e crueldade imensuráveis − e ainda assim sobreviveram ao Holocausto. E, como testemunhas desse triste capítulo da história, têm desempenhado um papel importante na Alemanha desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
Agora, os últimos sobreviventes estão morrendo de causas naturais, e a responsabilidade por seu legado está gradualmente passando para as mãos de várias instituições. Este não é um processo fácil: as testemunhas do Holocausto oferecem apenas uma das muitas perspectivas da história, mas podem servir como um importante lembrete.
"Nunca mais!", este juramento está esculpido em pedra em diferentes idiomas no memorial do antigo campo de concentração de Dachau. É um princípio orientador central da política interna e externa alemã, que estabelece como metas combater o antissemitismo, defender o direito de existência do Estado de Israel e lembrar os atos cruéis dos nazistas e dos muitos que os apoiam.
A exposição O Fim das Testemunhas, aberta nesta quinta-feira (07/07) na Nova Sinagoga de Berlim é dedicada à questão de como museus, memoriais e outras instituições podem lidar de forma responsável com os testemunhos literários e entrevistas em vídeo dos sobreviventes.
É o resultado de uma cooperação entre o Museu Judaico Hohenems, o memorial do campo de concentração de Flossenbürg e a Fundação Nova Sinagoga de Berlim. A exposição também coloca as testemunhas oculares em um contexto histórico: na Alemanha, os sobreviventes só começaram a se manifestar na década de 1980.
Importantes testemunhas nos julgamentos de Nurembergue
As testemunhas do Holocausto nem sempre estiveram tão presentes em público como nos últimos anos: a então jovem Anita Lasker-Wallfisch, por exemplo, foi uma das poucas sobreviventes a dar uma entrevista à BBC em 1945. A Comissão Central dos Judeus na Polônia, fundada em Lodz em 1944, fez um trabalho básico muito importante por volta do fim da guerra: entre 1944 e 1947, realizou centenas de entrevistas com sobreviventes e também criou instruções e questionários para lidar com os interlocutores traumatizados.
O horror dos campos de concentração no leste da Europa foi documentado principalmente pelo Exército Vermelho, as forças armadas da antiga União Soviética, que, entre outras coisas, libertaram o campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau.
Alguns fotojornalistas ocidentais também contribuíram com importantes documentos fotográficos. Muito conhecidas são as fotos tiradas por Eric Schwab e Meyer Levin para a agência de notícias francesa Agence France Presse após a libertação do campo de concentração de Buchenwald.
Mas as testemunhas e seus relatos fizeram parte principalmente da coleta de evidências legais até a década de 1960: seja nos julgamentos de Nurembergue, de 1945 a 1949, no julgamento de Majdanek, de 1944 a 1981, nos julgamentos em Jerusalém em 1961 ou nos julgamentos de Auschwitz em Frankfurt, de 1963 a 1968.
Testemunhas como autoridades morais
Enquanto na década de 1970 havia um grande foco nos perpetradores, foi a série de TV americana Holocausto: a história da família Weiss, de 1979, que abriu um amplo debate na sociedade como um todo na Alemanha.
A partir de então, as testemunhas contemporâneas passaram a ser mais ouvidas em público, mas também na historiografia. Tratava-se também de neutralizar uma falsa historicização do Holocausto por círculos de direita. Ao mesmo tempo, sobreviventes como Margot Friedländer, Anita Lasker-Wallfisch e Esther Bejerano se manifestaram – e se tornaram autoridades morais.
Nova responsabilidade das instituições
Historiadores estão cientes dos grandes desafios envolvidos ao lidar com sobreviventes: seus relatos contêm informações valiosas, classificações importantes, mas também alguns obstáculos. O conhecimento factual às vezes não condiz com as memórias das testemunhas da época.
Para combater interpretações errôneas, é necessário um conhecimento amplo. Esta é uma das razões pelas quais a exposição se dedica à questão do papel que a opinião pública ou as instituições atribuem aos sobreviventes. Ela olha para as intenções das testemunhas e, ao mesmo tempo, questiona como foram feitas as entrevistas, o papel dos entrevistadores e as expectativas sociais.
Para a exposição também foram feitas novas entrevistas com sobreviventes do Holocausto: além das faixas de áudio selecionadas, também é possível ouvir as conversas na íntegra e no áudio original, sem cortes. Dessa forma, a exposição tenta criar a consciência de que os excertos não podem representar o todo – e dependem fortemente da respectiva intenção de uso.
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E o que acontecerá depois?
A exposição também não pode dar essa resposta. Mas deixa claro o quanto a memória e seu respectivo contexto social estão conectados. A lembrança de hoje do Holocausto é alimentada por perspectivas muito diferentes, algumas das quais a exposição também mostra. Entre outras coisas, ela permite que jovens de hoje se manifestem em entrevistas.
Artur Bakaev, de 31 anos, natural do Tajiquistão e morador de Berlim, por exemplo, critica o fato de que os judeus ainda sejam retratados como vítimas. Para Bakaev, a memória é instrumentalizada: "Ela deve servir a um propósito, de alguma forma aliviar a Alemanha ou o que quer que seja, e as pessoas não olham ou ouvem realmente de que tipo de pessoa se trata."
Assim, a exposição também aponta para um futuro incerto: embora as novas gerações ouçam as vozes dos falecidos, elas ainda terão que encontrar suas próprias respostas.
Cronologia da Segunda Guerra Mundial
Em 1° de setembro de 1939, as Forças Armadas alemãs atacaram a Polônia, sob ordens de Hitler. A guerra que então começava duraria até 8 de maio de 1945, deixando um saldo até hoje sem paralelo de morte e destruição.
Foto: U.S. Army Air Forces/AP/picture alliance
1939
No dia 1° de setembro de 1939, as Forças Armadas alemãs atacaram a Polônia sob ordens de Adolf Hitler – supostamente em represália a atentados poloneses, embora isso tenha sido uma mentira de guerra. No dia 3 de setembro, França e Reino Unido, que eram aliadas da Polônia, declararam guerra à Alemanha, mas não intervieram logo no conflito.
1939
A Polônia mal pôde oferecer resistência às bem equipadas tropas alemãs – em cinco semanas, os soldados poloneses foram derrotados. No dia 17 de setembro, o Exército Vermelho ocupou o leste da Polônia – em conformidade com um acordo secreto fechado entre o Império Alemão e a União Soviética apenas uma semana antes da invasão.
Foto: AP
1940
Em abril de 1940, a Alemanha invadiu a Dinamarca e usou o país como base até a Noruega. De lá vinham as matérias-primas vitais para a indústria bélica alemã. No intuito de interromper o fornecimento desses produtos, o Reino Unido enviou soldados ao território norueguês. Porém, em junho, os aliados capitularam na Noruega. Nesse meio tempo, a Campanha Ocidental já havia começado.
1940
Durante oito meses, soldados alemães e franceses se enfrentaram no oeste, protegidos por trincheiras. Até que, em 10 de maio, a Alemanha atacou Holanda, Luxemburgo e Bélgica, que estavam neutros. Esses territórios foram ocupados em poucos dias e, assim, os alemães contornaram a defesa francesa.
Foto: picture alliance/akg-images
1940
Os alemães pegaram as tropas francesas de surpresa e avançaram rapidamente até Paris, que foi ocupada em meados de junho. No dia 22, a França se rendeu e foi dividida: uma parte ocupada pela Alemanha de Hitler e a outra, a "França de Vichy", administrada por um governo fantoche de influência nazista e sob a liderança do general Pétain.
Foto: ullstein bild/SZ Photo
1940
Hitler decide voltar suas ambições para o Reino Unido. Seus bombardeios transformaram cidades como Coventry em cinzas e ruínas. Ao mesmo tempo, aviões de caça travavam uma batalha aérea sobre o Canal da Mancha, entre o norte da França e o sul da Inglaterra. Os britânicos venceram e, na primavera europeia de 1941, a ofensiva alemã estava consideravelmente enfraquecida.
Foto: Getty Images
1941
Após a derrota na "Batalha aérea pela Inglaterra", Hitler se voltou para o sul e posteriormente para o leste. Ele mandou invadir o norte da África, os Bálcãs e a União Soviética. Enquanto isso, outros Estados entravam na liga das Potências do Eixo, formada por Alemanha, Itália e Japão.
1941
Na primavera europeia, depois de ter abandonado novamente o Pacto Tripartite, Hitler mandou invadir a Iugoslávia. Nem a Grécia, onde unidades inglesas estavam estacionadas, foi poupada pelas Forças Armadas alemãs. Até então, uma das maiores operações aeroterrestres tinha sido o ataque de paraquedistas alemães a Creta em maio de 1941.
Foto: picture-alliance/akg-images
1941
O ataque dos alemães à União Soviética no dia 22 de junho de 1941 ficou conhecido como Operação Barbarossa. Nas palavras da propaganda alemã, o objetivo da campanha de invasão da União Soviética era uma "ampliação do espaço vital no Oriente". Na verdade, tratava-se de uma campanha de extermínio, na qual os soldados alemães cometeram uma série de crimes de guerra.
Foto: Getty Images
1942
No começo, o Exército Vermelho apresentou pouca resistência. Aos poucos, no entanto, o avanço das tropas alemãs chegou a um impasse na Rússia. Fortes perdas e rotas inseguras de abastecimento enfraqueceram o ataque alemão. Hitler dominava quase toda a Europa, parte do norte da África e da União Soviética. Mas no ano de 1942 houve uma virada.
1942
A Itália havia entrado na guerra em junho de 1940, como aliada da Alemanha, e atacado tropas britânicas no norte da África. Na primavera de 1941, Hitler enviou o Afrikakorps como reforço. Por muito tempo, os britânicos recuaram – até a segunda Batalha de El Alamein, no outono de 1942. Ali a situação mudou, e os alemães bateram em retirada. O Afrikakorps se rendeu no dia 13 de maio de 1943.
Foto: Getty Images
1942
Atrás do fronte leste, o regime de Hitler construiu campos de extermínio, como Auschwitz-Birkenau. Mais de seis milhões de pessoas foram vítimas do fanatismo racial dos nazistas. Elas foram fuziladas, mortas com gás, morreram de fome ou de doenças. Milhares de soldados alemães e da SS estiveram envolvidos nestes crimes contra a humanidade.
Foto: Yad Vashem Photo Archives
1943
Já em seu quarto ano, a guerra sofreu uma virada. No leste, o Exército Vermelho partiu para o contra-ataque. Vindos do sul, os aliados desembarcaram na Itália. A Alemanha e seus parceiros do Eixo começaram a perder terreno.
1943
Stalingrado virou o símbolo da virada. Desde julho de 1942, o Sexto Exército alemão tentava capturar a cidade russa. Em fevereiro, quando os comandantes desistiram da luta inútil, cerca de 700 mil pessoas já haviam morrido nesta única batalha – na maioria soldados do Exército Vermelho. Essa derrota abalou a moral de muitos alemães.
Foto: picture-alliance/dpa
1943
Após a rendição das tropas alemãs e italianas na África, o caminho ficou livre para que os Aliados lutassem contra as potências do Eixo no continente europeu. No dia 10 de julho, aconteceu o desembarque na Sicília. No grupo dos Aliados estavam também os Estados Unidos, a quem Hitler havia declarado guerra em 1941.
Foto: picture alliance/akg
1943
Em setembro, os Aliados desembarcaram na Península Itálica. O governo em Roma acertou um armistício com os Aliados, o que levou Hitler a ocupar a Itália. Enquanto os Aliados travavam uma lenta batalha no sul, as tropas de Hitler espalhavam medo pelo resto do país.
No leste, o Exército Vermelho expulsou os invasores cada vez mais para longe da Alemanha. Iugoslávia, Romênia, Bulgária, Polônia... uma nação após a outra caía nas mãos dos soviéticos. Os Aliados ocidentais intensificaram a ofensiva e desembarcaram na França, primeiramente no norte e logo em seguida no sul.
1944
Nas primeiras horas da manhã do dia 6 de junho, as tropas de Estados Unidos,Reino Unido, Canadá e outros países desembarcaram nas praias da Normandia, no norte da França. A liderança militar alemã tinha previsto que haveria um desembarque – mas um pouco mais a leste. Os Aliados ocidentais puderam expandir a penetração nas fileiras inimigas e forçar a rendição de Hitler a partir do oeste.
Foto: Getty Images
1944
No dia 15 de agosto, os Aliados deram início a mais um contra-ataque no sul da França e desembarcaram na Provença. As tropas no norte e no sul avançaram rapidamente e, no dia 25 de agosto, Paris foi libertada da ocupação alemã. No final de outubro, Aachen se tornou a primeira grande cidade alemã a ser ocupada pelos Aliados.
Foto: Getty Images
1944
No inverno europeu de 1944/45, as Forças Armadas alemãs reuniram suas tropas no oeste e passaram para a contra-ofensiva em Ardenne. Mas, após contratempos no oeste, os Aliados puderam vencer a resistência e avançar inexoravelmente até o "Grande Império Alemão" – a partir do leste e do oeste.
Foto: imago/United Archives
1945
No dia 8 de maio de 1945, os nazistas se renderam incondicionalmente. Para escapar da captura, Hitler se suicidou com um tiro no dia 30 de abril. Após seis anos de guerra, grande parte da Europa estava sob entulhos. Quase 50 milhões de pessoas morreram no continente durante a Segunda Guerra Mundial. Em maio de 1945, o marechal de campo Wilhelm Keitel assinava a ratificação da rendição em Berlim.