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Como Trump em dois anos mudou os EUA

Michael Knigge ip
20 de janeiro de 2019

Com o mandato pela metade, já é possível identificar série de medidas de alto impacto, tanto dentro dos EUA como fora. Somadas ao comportamento errático, elas configuram um presidente único na história do país.

O presidente americano, Donald Trump, numa coletiva de imprensa na Casa Branca
Donald Trump fala durante uma coletiva de imprensa na Casa Branca Foto: REUTERS

Em seus dois primeiros anos no cargo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tirou o país do importante acordo internacional sobre armas nucleares com o Irã, do acordo climático global e do pacto comercial histórico com a Ásia, a chamada Parceria Transpacífico (TPP).

Ele iniciou uma contundente guerra comercial com a China, impôs tarifas a aliados europeus e ordenou uma retirada imediata de todas as forças americanas da Síria.

Ainda assinou uma das maiores revisões de impostos da história recente, instituiu uma repressão radical aos imigrantes ilegais e desencadeou a mais longa paralisação de governo na história dos EUA.

E ele está em meio a um processo de renovação dos tribunais americanos, nomeando mais juízes da Suprema Corte do que qualquer um de seus antecessores recentes no mesmo período.

E esses são apenas alguns exemplos marcantes do impacto palpável de Trump. E é importante observar que todas essas medidas, embora muitas vezes adotadas de forma errática, não deveriam ser surpresa para ninguém, afinal todas foram promessas de campanha do republicano.

Juntas, elas já mudaram a forma como os EUA são vistos no exterior.

"Creio que Trump teve um efeito muito negativo sobre a política externa americana e certamente sobre o soft power americano ao redor do mundo", diz Joseph Nye, o eminente estudioso de relações internacionais da Universidade de Harvard que cunhou o termo soft power para designar a influência de um país sobre outras nações por meios culturais, midiáticos ou pela simpatia que gera.

Devido às potenciais consequências negativas a longo prazo sobre os esforços internacionais de combate ao aquecimento global, Nye coloca a retirada dos EUA do acordo climático de Paris entre as decisões políticas mais nocivas de Trump até o momento.

Já a saída de Washington do acordo nuclear com o Irã, o que azedou as relações com os aliados europeus, e a postura cada vez mais dura do governo Trump contra Teerã estariam, segundo Nye, entre as decisões de curto prazo mais prejudiciais até agora.

Essas polêmicas decisões políticas, somadas ao jeito temperamental de Trump e a sua propensão a dizer falsidades, o tornam um presidente sem igual, diz Nye. "Nós tivemos presidentes perigosos e difíceis, como Richard Nixon ou Lyndon Johnson. Mas ninguém tão imprevisível ou tão falso quanto Trump."

Os dois primeiros anos de Trump no cargo provaram que ele é um caso único entre os presidentes americanos, concorda Barbara Perry, diretora de estudos presidenciais no Miller Center da Universidade da Virgínia. "Eu diria apenas que ele é o presidente sem precedentes. Ele é completamente fora do padrão", afirma. "Ele não se parece com nada que já tenhamos visto."

Embora os EUA já tenham tido sua parcela de demagogos, Perry observa que eles nunca chegaram à Casa Branca, mas foram impedidos de alcançar o mais alto cargo com a ajuda do sistema eleitoral americano, que não é uma democracia direta.

Ela acrescenta que a eleição de Trump – que ganhou no Colégio Eleitoral, mas não no voto popular – foi um sinal preocupante de falha nesse sistema. "Os fundadores [dos EUA] queriam que o Colégio Eleitoral fosse justamente uma barreira contra esse tipo de pessoa – um demagogo na Casa Branca, na presidência."

O que distingue Trump de antigos agitadores é o seu acesso à internet e sua afinidade com as redes sociais, o que lhe permite comunicar suas mensagens sem filtros a milhões de seguidores, comenta Perry.

Questionado sobre o que esperar para a segunda parte do mandato – e mais quatro anos de Trump caso ele seja reeleito –, Nye aconselha estar preparado para ainda mais imprevisibilidade e surpresas desagradáveis.

Perry é ainda mais direta: "Meu receio é que possamos sobreviver a quatro anos, mas não a oito."

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