Companhia de dança de Pina Bausch completa 40 anos
8 de setembro de 2013Pina Bausch nunca planejou liderar a divisão de dança da companhia de teatro de Wuppertal, mas foi convencida a assumir o cargo. Assim, ela transformou o balé de um teatro municipal em uma revolucionária companhia de dança. O Tanztheater Wuppertal se tornou um dos mais renomados patrimônios culturais de exportação da Alemanha.
Hoje, a companhia é dirigida por Lutz Förster, aos 60 anos. Ele também teve dificuldades em aceitar o cargo. Sua tarefa é mais do que complexa: manter o legado lendário da companhia e, ao mesmo tempo, criar espaço para o novo. "Primeiramente, eu rejeitei completamente a ideia", disse. "Mas não porque estava com medo, mas porque nunca tinha considerado essa hipótese".
Förster, que também atua como professor na Universidade de Arte de Folkwang, em Essen, se juntou à companhia como bailarino em 1975. Agora, é responsável pela temporada de aniversário da companhia, que inclui uma retrospectiva do trabalho de Pina Bausch. A temporada começou com Palermo Palermo, de 1989, uma das muitas peças que Bausch criou no exterior. O espetáculo foi inspirado na cidade italiana de Palermo e em seus habitantes.
Escândalo em Wuppertal
"Não estou interessada na maneira como as pessoas se movem, mas no que move as pessoas". Uma das frases mais famosas de Pina Bausch fica evidente nesta obra, que agora é recriada sob a direção de Förster. Com um trabalho sempre muito distante da elegância artificial do balé clássico, Bausch sempre buscou o que inspirava ou deprimia as pessoas. Quando os bailarinos marcham curvados ao longo dos escombros de um muro no palco, dá para perceber que a peça fala mais sobre a deformação interna do que externa, dos corpos dos indivíduos.
Um dia antes da estreia da temporada, Lutz Förster não tem muito que corrigir durante o último ensaio de Palermo Palermo – diferente de Pina Bausch. Muitas vezes, ela mudava pouco antes da estreia. Mas Förster trabalha de uma outra maneira. "Não sou coreógrafo. Eu estou aqui para estudar essas peças ou continuar ensaiando com elas, para mantê-las vivas e manter a companhia viva", disse.
Como bailarino, Förster foi testemunha de como a esbelta e contida Pina Bausch liderou sua revolução artística. Ela era persistente em apresentar seu trabalho inovador para a plateia conservadora de Wuppertal. Ela provocou escândalos, como na encenação de Blaubart (Barba Azul), uma orgia de pesadelo e destruição, que aparecia no programa do teatro ao lado de dignas óperas e inofensivas operetas. "Era um escândalo. Levou tempo até que um tipo de público diferente viesse ver os espetáculos – um público da área do teatro", lembra Förster.
Sucesso internacional
Segundo Förster, a recepção da companhia era muito diferente no exterior. "Era emocionante! Éramos incrivelmente bem recebidos e presenciamos reações bonitas e emocionantes da plateia". A companhia era convidada para os mais importantes festivais internacionais, onde artistas de vanguarda se encontravam e onde o público era mais aberto a experimentos.
Mas essa não era a única razão pela qual o mundo além das fronteiras alemãs se tornou tão importante para Pina Bausch. "Ela se interessava em conhecer outras culturas", diz Förster. "Ela se interessava nas pessoas de um modo geral e, por isso, se interessava também por todas as pessoas, em diversos contextos culturais. Ela tinha menos necessidade de visitar museus ou teatros do que de ir a lugares onde pudesse ver as pessoas".
Bausch desenvolveu uma série de peças ligadas a locais fora da Alemanha: Palermo, Roma, São Paulo, Santiago, Saitama, Istambul, Hong Kong e Los Angeles. Isso também contribuiu para seu sucesso internacional. "Eu admiro Pina cada vez mais. Ela criou algo universal que cativa o público de todo o mundo", afirma Förster.
Também durante a temporada de aniversário, o Tanztheater Wuppertal vai excursionar pelo mundo: diversos países europeus, Japão, Coreia, Hong Kong, Canadá. Quatro anos após a morte de Bausch, vítima de câncer, a companhia da pequena cidade de Wuppertal ainda é tão popular internacionalmente, que não dá conta de atender todas as solicitações ao redor do globo.
Bailarinos dos 20 aos 60 anos
Isso é, ao mesmo tempo, uma maldição e uma benção. A companhia poderia continuar a excursionar pelo mundo, por anos, com as peças criadas por Pina Bausch, sem ver a demanda diminuir. Mas eles não querem manter a companhia apenas como um santuário para o trabalho da artista. A temporada de aniversário, sob o título de Pina 40, mantém o foco no legado de Bausch. Mas o futuro não pode se limitar apenas a retrabalhar antigas peças.
"Temos bailarinos de 20, 30, 40, 50 e 60 anos. Isso não acontece em nenhuma outra companhia", ressalta o diretor. "Isso é fantástico em muitos aspectos, mas também traz problemas". A companhia tem que se rejuvenescer para os novos bailarinos, mas não há verba suficiente.
Orçamento apertado
Uma reorientação artística é um grande desafio. Förster não gosta de dizer publicamente como ela será realizada, mas apenas que seu objetivo é "encontrar o equilíbrio entre manter o legado de Pina e ao mesmo tempo levar a companhia por um novo caminho, não se esquecendo do começo de Pina e de sua coragem em inovar".
Mas isso também exige coragem político-cultural. Quando Pina Bausch começou, ela tinha um apoio que hoje parece impensável: tempo e recursos para convencer as pessoas certas. Agora, a cidade de Wuppertal não tem mais fundos suficientes para dedicar à companhia, e hoje há quem cobre que o governo federal destine fundos à companhia. Considerando tudo que o Tanztheater Wuppertal já fez pela reputação da arte alemã ao redor do globo, não deveria ser difícil que isso acontecesse.