Comprovado o potencial do esporte no tratamento da depressão
Gudrun Heise
14 de setembro de 2023
Distúrbio psíquico exige tratamentos que vão de psicoterapia e medicamentos até eletrochoques. Estudo recente sugere que prática esportiva tem impacto positivo no combate à depressão – talvez até como terapia única.
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Em 2023 transcorrem pela primeira vez na Alemanha os Invictus Games, o torneio esportivo bianual para ex-combatentes. Mais de 500 soldados feridos e enfermos de guerra, assim como veteranos de 21 nações se enfrentam em dez modalidades, de 9 a 16 de setembro, na cidade de Düsseldorf.
Mais da metade dos atletas participante sofre sobretudo danos psíquicos, inclusive depressão. Vivências e conflitos muito drásticos, mas também estresse ou proclividade genética, podem nessa condição psíquica que restringe sensivelmente a qualidade de vida e com frequência resultam em outras doenças.
Psicoterapia e diversos medicamentos, em geral antidepressivos, estão entre as formas de tratamento mais comuns, porém nem sempre têm sucesso. No caso de resistência à terapia ou de distúrbios graves, recorre-se ainda à eletroconvulsoterapia (ECT), em que se aplicam eletrochoques. Trata-se do método de estimulação cerebral mais antigo, e na maioria dos casos é bastante eficaz. No entanto é uma intervenção severa, só executada sob estado de ligeira narcose.
Uma tendência atual é combinar as terapias antidepressão com atividades esportivas, com base em estudos e experiências de médicos. Mas será que o esporte sozinho também funciona, como uma espécie de monoterapia? Para os pacientes, isso significaria o fim de talvez anos de sessões com o psicoterapeuta ou psiquiatra, e o abandono dos antidepressivos.
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Corrida e ioga em vez de antidepressivos?
Há um bom tempo a ideia do esporte com antidepressivo é objeto de diversos projetos de pesquisa. Um dos mais recentes foi publicado no início de 2023 pela revista British Journal of Sports Medicine. Nele, especialistas em medicina social e preventiva da Universidade de Potsdam compilaram dados de diversas análises, em colaboração com pesquisadores do Brasil, Austrália, Bélgica, Reino Unido e Suécia.
Sua conclusão foi que esporte e movimento têm impacto extremamente positivo no combate à depressão, comparável ao da psicoterapia ou da medicação, com grande potencial de uso no tratamento da doença. O que não está ainda suficientemente comprovado é se a atividade física bastaria como tratamento exclusivo para depressões graves.
Tanto corrida, ciclismo quanto ioga liberam no cérebro endorfinas, os "hormônios da felicidade", que amenizam as oscilações de humor. Além disso, os esportes comprovadamente reduzem o estresse, tanto em indivíduos saudáveis quanto depressivos.
Devido a seu bom efeito sobre o sono, eles podem ainda aliviar a depressão, distraindo de pensamentos negativos e direcionando o foco para sensações mais positivas. Tudo isso contribui para uma melhoria adicional das funções cerebrais.
Mais ainda: a atividade esportiva ativa a plasticidade do cérebro. Essa capacidade do órgão de se modificar, adaptando-se a novos estímulos e informações, costuma ser fortemente limitada nos indivíduos depressivos.
Assim, pacientes que têm intolerância ou preferem evitar o tratamento medicamentoso podem, como alternativa, tentar praticar esporte de forma intensiva e consequente. As vantagens parecem óbvias, e os efeitos colaterais se restringem a um tornozelo luxado ou dores musculares. Importante é levar em consideração que ainda não está confirmada a eficácia desse método como terapia exclusiva, no longo prazo.
Mulheres pioneiras no esporte
Conheça algumas mulheres que fizeram história no esporte.
Foto: Imago Images/Sven Simon
Só para homens?
Alice Milliat não aceitou que a competição esportiva fosse uma atividade exclusiva do sexo masculino. Nascida na França em 1884, ela praticou hóquei, remo e corrida de carros. Em 1917, ela foi uma das fundadoras da Federação Francesa de Esportes Femininos FSFSF e da Federação Internacional de Esportes Femininos FSFI, que organizou os primeiros Jogos Mundiais Femininos em 1921.
Foto: akg images/picture alliance
Favorita da torcida
A ciclista Alfonsina Strada se inscreveu para o Giro d'Italia em 1924 como Alfonsin Strada. Os organizadores pensaram que ela era um homem. Quando a viram antes da prova, decidiram que mesmo assim ela poderia competir. A italiana fracassou depois de algumas etapas, mas permaneceu na corrida porque o público a aclamava. Ela é a única mulher a já ter competido em um Grand Tour masculino.
Foto: Imago Images/Leemage
A primeira mulher na Fórmula 1
Maria Teresa de Filippis foi a primeira mulher a correr na Fórmula 1. A italiana começou a competir em 1948, aos 22 anos, para a equipe Maserati. Em 1958, ela participou de várias corridas no Campeonato Mundial de Automobilismo, hoje Mundial de F1. Quando um amigo próximo morreu em um acidente um ano depois, ela encerrou sua carreira.
Foto: LATPhotographic/picture alliance
Apesar de todas as adversidades
Embora o furioso diretor de corrida da Maratona de Boston (de casaco preto) tenha tentado arrancar o número dela, Kathrine Switzer foi a primeira mulher a correr uma maratona em 1967 e também a completou. Ela havia se inscrito secretamente. A maior distância permitida para as mulheres na época eram 800m. Alguns anos depois, passou a ser permitido a mulheres participar de provas de longa distância.
Foto: picture alliance/dpa/UPI
Por prêmios iguais
No início dos anos 1970, Billie Jean King lutou por prêmios iguais em dinheiro para profissionais de tênis masculinos e femininos. Em protesto, a 12 vezes vencedora do Grand Slam criou em 1970 com outras jogadoras uma série própria de torneios, que mais tarde virou a Women's Tennis Association WTA. Em 1973, veio o sucesso: o prêmio em dinheiro do US Open foi igual para mulheres e homens.
Foto: Imago Images/Sven Simon
Pelo direito de voar
Até início dos anos 1990, o salto de esqui feminino não era permitido pela associação mundial. Eva Ganster só podia competir com homens. Em 1997, a austríaca foi a primeira mulher a saltar de uma rampa de esqui. Seus esforços surtiram efeito: desde 2011, há a modalidade feminina na Copa do Mundo, e desde 2014 a modalidade feminina é olímpica.
Foto: Imago Images/WEREK
Com frequência "a primeira"
Em 2003, Meredith Michaels-Beerbaum se tornou a primeira e única mulher a liderar o ranking mundial de saltos. Ela também é a primeira mulher da equipe alemã de hipismo a participar de um grande campeonato e, assim, abriu portas para jovens amazonas. "Quando vim para a Alemanha, ficou muito claro que as mulheres tinham um papel secundário no meu esporte", disse Meredith, nascida nos EUA.
Foto: Rau/Imago Images
Respeitada no apito
A suíça Nicole Petignat foi a primeira mulher a apitar um jogo masculino da Uefa em 2003: na qualificação para a Copa da Uefa entre AIK Solna e Fylkir Reykjavik. Petignat também é árbitra de jogos da Primeira Divisão masculina na Suíça e na Áustria, mas apita principalmente jogos femininos. Os destaques foram a final do Campeonato Europeu de 2001 e a final da Copa do Mundo de 1999.
Foto: picture-alliance/Pressefoto ULMER
Autoridade reconhecida
Mas demorou mais de duas décadas para uma mulher arbitrar um jogo masculino da Copa do Mundo. A francesa Stéphanie Frappart foi escalada pela Fifa na partida entre Alemanha e Costa Rica na Copa do Catar. Ela já apitou jogos masculinos na Liga das Nações, na Liga dos Campeões e nas eliminatórias da Copa do Mundo, mas continua sendo uma exceção em sua área.
Foto: Stanley Gontha/PRO SHOTS/picture alliance
Vencendo preconceitos
Em 2021, Sarah Thomas foi a primeira mulher a integrar uma equipe de arbitragem da final da American Football League NFL, o Super Bowl. Ela precisou lutar contra muitos preconceitos. "Colegas, treinadores e jogadores agora simplesmente me veem como árbitra. É assim que quero que seja", diz. "Nunca permiti que meu gênero fosse uma desculpa ou um pretexto para as pessoas."
Foto: Aaron Josefczyk/Newscom/picture alliance
"Não me sinto ser humano"
"Não me sinto mulher, homem ou mesmo ser humano agora", disse Rachael Blackmore após sua vitória no Grand National. A irlandesa de 31 anos acabara de entrar para a história com o cavalo Minella Times, ao se tornar a primeira mulher a vencer a corrida de galope com obstáculos mais difícil do mundo, realizada desde 1839. Já Charlotte Brew foi a primeira mulher a participar do Grand National em 1977.
Foto: Tim Goode/empics/picture alliance
Na poeira do deserto
Calor, poeira, terreno acidentado e inúmeros competidores masculinos – nada disso impediu a piloto de rali alemã Jutta Kleinschmidt de se tornar a primeira mulher a vencer o Rally Dakar em 2001. Após a vitória, ela também foi eleita a "Esportista do Ano" na Alemanha. A engenheira participou do rali mais difícil do mundo por 18 vezes, além de várias outras corridas.
Foto: picture alliance/dpa
Rápida sobre duas rodas
A motociclista alemã Katja Poensgen é uma das poucas mulheres a competir no Campeonato Mundial. Algumas marcam pontos na série Moto3, que vai até 125cc, mas Poensgen é a única entre os 15 melhores na categoria 250cc. Em 2001 e 2003, ela competiu em uma Honda e fez um total de 25 corridas pelo Mundial.
Foto: Sven Simon/picture alliance
Boa de pontaria
Quando seu último dardo atingiu o alvo em dezembro de 2019 em Londres, "Ally Pally" ficou fora de si. Pela primeira vez, uma mulher venceu um duelo no campeonato mundial de dardos. Fallon Sherrock, cabeleireira da Inglaterra, escreveu história na primeira rodada do torneio de dardos e só falharia na terceira rodada.
Foto: Getty Images/J. Mansfield
Incentivo ao esporte feminino
Uma verdadeira pioneira é a técnica de futebol alemã Monika Staab. Há anos, ela viaja pelo mundo se engajando pelo futebol e organiza programas de treinamento para mulheres e meninas, especialmente em países onde os direitos das mulheres não desempenham um papel importante. "O feedback positivo nos esportes aumenta a autoconfiança", diz ela. "Você precisa disso para enfrentar a vida".
Foto: picture alliance/dpa/N.Mughal
Treinando homens
Quando Corinne Diacre começou a treinar o Clermont Foot, clube da 2ª Divisão francesa, em 2014, ela logo convenceu seus críticos. Na época, a ex-jogadora da seleção foi a primeira mulher a comandar uma equipe masculina profissional. Em três anos no cargo, ela foi bem-sucedida. No entanto, Diacre é uma rara exceção. Mesmo muitas equipes femininas de sucesso continuam sendo treinadas por homens.
Foto: picture-alliance/dpa
Clara vitória contra concorrentes masculinos
Com uma vantagem de nove tacadas no Torneio Misto Escandinavo de 2022, a sueca Linn Grant foi a primeira mulher a vencer um torneio oficial de golfe DP World Tour, superando inclusive os concorrentes masculinos. "Durante toda a semana eu senti que eram as garotas contra os rapazes, e quem quer que pegasse aquele troféu representaria as mulheres", disse.