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Conferência do Clima começa no Catar, maior poluidor per capita do mundo

26 de novembro de 2012

Rico em combustíveis fósseis, país-sede do debate mundial sobre as mudanças climáticas não é um bom exemplo de sustentabilidade. Em nenhuma outra parte do planeta a emissão de CO2 por habitante é tão alta como no Catar.

Im National Conference Center in Doha, Katar, findet die 18. Klimaschutzkonferenz statt. Copyright: DW
National Conference Center in Doha KatarFoto: DW

Começou nesta segunda-feira (26/11), em Doha, a 18ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro sobre as Mudanças Climáticas (COP-18), com representantes de quase 200 países.

Durante duas semanas, líderes mundiais vão debater acordos para reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa e barrar o aquecimento do planeta. As negociações vão estabelecer os detalhes de um tratado a ser assinado em 2015, para entrar em vigor em 2020.

"Este é o momento crucial nas negociações sobre as mudanças climáticas", disse o vice-premiê e ministro da Energia do Catar, Abdullah bin Hamad Al-Attiyah, na abertura do evento. "Diante de nós, nos próximos dias, está uma oportunidade de ouro. E nós temos que aproveitá-la."

Vice-premiê Abdullah bin Hamad Al-Attiyah abriu a COP-18Foto: Reuters/DW

Pela primeira vez, a Conferência do Clima é realizada em um país do Golfo Pérsico. Grande produtor de petróleo e gás, o Catar tem a maior emissão de CO2 per capita do mundo, mas tenta passar uma imagem ecológica.

Parece, mas não é

"Catar quer ser a capital da bicicleta", "Energia solar alimenta o centro de convenções": quando se lê notícias como essas, tem-se a impressão de que o Catar está à frente do movimento ambiental na região do Golfo Pérsico. No entanto, tais artigos devem ser lidos com cautela: eles se encontram no site de apresentação de Doha como anfitriã da COP-18.

Na realidade, segundo Guido Steinberg, especialista em Oriente Médio do Instituto Alemão de Relações Internacionais e de Segurança (SWP), "a proteção ambiental não tem a mínima importância para a política catariana". Opinião compartilhada por Wael Hmaidan, diretor da Climate Action Network, uma rede internacional sediada no Líbano, reunindo diversas organizações ambientais. "As mudanças climáticas não constavam da agenda política, até o Catar decidir sediar a Conferência do Clima deste ano", acusa Hmaidan.

Infográfico com fatos sobre o Catar

Ar-condicionado em vez de mudanças climáticas

De forma rotativa, o papel de anfitrião da Conferência do Clima é conferido anualmente a um dos cinco grupos não oficiais das Nações Unidas: o africano, o pacífico-asiático, o europeu oriental, o latino-americano ou o grupo europeu ocidental.

Após a sul-africana Durban no ano passado, caberia agora à Ásia a vez de sediar a conferência. Mas, durante as negociações, o Catar conseguiu prevalecer sobre a Coreia do Sul, a qual, em contrapartida, sediou alguns encontros de preparação da Conferência do Clima deste ano.

Doha não parece ser predestinada para o papel de anfitriã de uma conferência do clima. O Catar tem a maior cota de CO2 por habitante no mundo. O que não é de admirar, já que, no verão, as temperaturas no país chegam a 50ºC.

Guido Steinberg: "Catar quer se destacar internacionalmente"Foto: DW

"Trata-se de um clima muito árido, onde tudo é climatizado e refrigerado", explicou Hmaidan à DW. "O país enriqueceu muito e muito rapidamente, e seu novo estilo de vida é extremamente ineficiente, em termos de consumo energético." Devido à falta de transporte público, a maioria da população usa carros particulares. Quase não existem ONGs ambientais nos moldes ocidentais, que possam pressionar o governo a uma maior proteção do meio ambiente.

Segundo dados do Banco Mundial, no ano passado Catar teve a terceira maior renda per capita do mundo, depois de Luxemburgo e Noruega, com um crescimento econômico de cerca de 19%. O Estado do Golfo deve sua riqueza principalmente às reservas de petróleo e gás. Ao lado do Irã e da Rússia, o Catar detém as maiores reservas de gás natural do mundo, e é um dos maiores produtores de combustível fóssil.

Anfitrião a qualquer preço

Por esse motivo, Guido Steinberg considera a escolha do local da conferência como "problemática". E ele não está sozinho. Falando à DW Sven Harmeling, da organização ambiental Germanwatch, relata: "No início, quando a escolha recaiu sobre Doha, havia dois pontos de vista. Ou se achava ruim, pelo medo de um Estado petrolífero dirigir as negociações, ou se achava bom, por se acreditar que poderia levar a verdadeiras mudanças na região".

Ambientalistas acreditam que o Catar poderia aumentar significativamente sua credibilidade como presidente da COP-18, caso se comprometesse a reduzir parcialmente as próprias emissões de CO2. Até agora, todavia, Doha não tomou qualquer iniciativa nessa direção. Em conferências do clima passadas, o país também não esteve representado por políticos do primeiro escalão, tampouco desenvolveu posições próprias, aponta Hmaidan.

Gás natural responde por riqueza do país no Golfo PérsicoFoto: picture alliance/Jay Tuck

Provavelmente apenas uma pequena parcela do interesse catariano em sediar a Conferência do Clima se deve ao tema do encontro, propriamente dito. Nos últimos anos, o país esforçou-se, com bastante sucesso, em organizar conferências e eventos internacionais, sendo o exemplo mais conhecido a Copa do Mundo de Futebol de 2022.

Há segundas intenções por trás de tamanha atividade, afirma Guido Steinberg. "O Catar é um Estado muito, muito pequeno, repetidamente ameaçado por seus vizinhos. Os catarianos têm medo do Irã, com quem dividem gigantescas reservas de gás; eles também se preocupam que os sauditas queiram novamente incorporá-los ao seu território." A concentração de todos esses eventos no país serve sobretudo para despertar o interesse mundial no próprio Estado e na sua preservação.

Interesse no sucesso da conferência

Por isso, os ambientalistas esperam que o país lidere com sucesso as negociações. "O Catar quer se perfilar como agente importante na política mundial e, para tal, precisa zelar pelo êxito desta Conferência do Clima", ressalva Wael Hmaidan.

Além disso, como exportador de gás natural, o país também tem bastante interesse econômico na proteção climática, acrescenta Hmaidan. "Se outros países decidirem reduzir rapidamente suas emissões de CO2, e a disponibilidade imediata de energia renovável não for suficiente, então pela primeira vez haverá uma demanda menor de carvão e maior de gás natural, já que este produz 40% a menos emissões do que o carvão e ainda é o mais limpo entre os combustíveis fósseis."

Wael Hmaidan dirige a Climate Action NetworkFoto: CAN International

O diretor da Climate Action Network pode estar certo: num estudo recente sobre a evolução dos mercados globais de energia, a Agência Internacional de Energia (AIE) prevê que, nos próximos 20 anos, o gás natural será o único combustível fóssil cuja demanda irá aumentar.

Autora: Andrea Rönsberg (ca)
Revisão: Augusto Valente

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