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Conferência reúne US$ 2,6 bilhões para o Iêmen

26 de fevereiro de 2019

Terceiro evento do tipo em Genebra para reunir doações para país destruído pela guerra é tido como sucesso, mas não obtém o suficiente. ONU tem esperança de chegar aos 4,2 bilhões ainda neste ano.

Homens carregam sacos brancos com comida
Distribuição de alimentos doados no IêmenFoto: picture-alliance/dpa/AP/H. Issa

A conferência de doadores para a crise no Iêmen conseguiu reunir 2,6 bilhões de dólares para o país em guerra civil. O resultado da reunião, promovida nesta terça-feira (26/02) pelas Nações Unidas, Suécia e Suíça em Genebra, na Suíça, é 30% maior do que o da conferência realizada há um ano.

Entretanto, a quantia ficou aquém da verba necessitada necessitada neste ano pela ONU para ajudar o Iêmen: 4,2 bilhões de dólares, dinheiro para dar o apoio urgentemente necessitado por 24 milhões de pessoas, o equivalente a 80% da população do país.

O governo da Alemanha prometeu 100 milhões de euros, e a UE, 161 milhões. Os maiores doadores foram Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, que prometeram 500 milhões de dólares, cada um. Eles estão entre os países corresponsáveis pela situação do Iêmen, ao apoiar, com seus bombardeios, o governo, derrubado pelos rebeldes houthis.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, classificou o encontro como um sucesso, mas se disse esperançoso de que mais dinheiro seja obtido no decorrer deste ano para ajudar a resolver a "pior crise humanitária do nosso tempo". Apesar dos esforços internacionais de socorro, a escassez de alimentos está aumentando.

Depois de quatro anos de guerra, a situação no país é catastrófica. Conforme um estudo realizado pela ONG alemã Welthungerhilfe, a infraestrutura do país está em grande parte destruída. O setor de saúde local também sofre as consequências: 14 milhões de pessoas não têm acesso a cuidados de saúde primários.

Ao mesmo tempo, cada vez mais pessoas – quase 13 milhões – não têm acesso seguro a instalações de água e saneamento, e as doenças continuam a se espalhar. Até o final de 2017, cerca de um milhão de pessoas tinham contraído cólera.

Dois milhões de crianças sofrem de desnutrição no IêmenFoto: picture alliance/dpa/Unicef/NOTIMEX

Além disso, a crise é acirrada pela fome. Segundo estimativas das Nações Unidas, cerca de 20 milhões de pessoas não terão acesso a alimentos sem ajuda externa neste ano e 14 milhões dependem de socorro imediato. As crianças são especialmente atingidas: dois milhões de meninos e meninas iemenitas já sofrem de desnutrição.

A conferência em Genebra sobre o Iêmen é a terceira do gênero, e as anteriores, em 2017 e 2018, reuniram vários bilhões de euros. Mas milhões de pessoas continuam sofrendo.

"O abastecimento continua difícil em muitos aspectos", diz Simone Pott, chefe do escritório de comunicação da Welthungerhilfe. A entidade assistencialista alemã oferece ajuda local há anos, junto com a organização parceira francesa ACTED, através de ajuda em dinheiro e em vales de alimentação.

Muitos trabalhadores do país estão desempregados há anos. Com a ajuda financeira, eles podem pelo menos obter o mínimo necessário para sobreviver. Ao mesmo tempo, as verbas enviadas contribuem para apoiar o que restou da economia do país.

"Parte da ajuda internacional não consegue chegar por causa da falta de recursos das organizações de assistência", diz Pott. Ela lembra que em 2018 nem todos os fundos necessários e prometidos teriam chegado. "Na época, foi dito que eram necessários cerca de 2,6 bilhões de dólares, mas apenas pouco mais de 80% disso foram obtidos." Além disso, haveria dificuldades de planejamento. "Porque mesmo que a ajuda seja prometida, não está claro quando o dinheiro será realmente transferido", afirma Pott.

Outra dificuldade é levar a ajuda até o país. "Ela é importada através de alguns portos, mas esses portos são disputados ferozmente, o que muitas vezes faz com que as instalações sejam danificadas, e, assim, muitos suprimentos de socorro sequer chegam ao país."

Secretário-geral da ONU, António Guterres, em conferência de doadores para o Iêmen em GenebraFoto: Getty Images/F. Coffrini

As dificuldades continuam no interior do Iêmen. "É impossível se chegar a áreas onde há batalhas acontecendo", diz Simone Pott. O problema principal, no entanto, é que o país é dividido em diferentes áreas de influência. "Quem governa onde? Quantos postos de controle existem nas ruas? Quem permite que um comboio vá de A para B, e quais documentos são necessários? Problemas desse tipo nos têm ocupado bastante", afirma.

Muitas vezes, é necessário providenciar documentos ou buscar em algum lugar um carimbo que ainda falta. Além disso, há diversos outros contratempos. "Em alguns casos, o acesso simplesmente não é possível, porque as estradas não são transitáveis ​​ou não há garantias de segurança para o transporte de emergência".

Também não é fácil a cooperação com as autoridades locais, que muitas vezes querem se beneficiar pessoalmente da ajuda. "Este é um problema que ocorre em quase todos os países onde há um alto nível de necessidade. Muitas vezes, os itens de ajuda ainda são taxados, trabalhadores humanitários pagam altos impostos, ou governos aumentam maciçamente o custo dos vistos. E nesse ponto, o Iêmen não tem mais problemas do que em outros países", frisa.

Em última análise, de acordo com a funcionária da Welthungerhilfe, a superação da crise humanitária exige uma solução política. Sem ela, não haverá melhora estável e em longo prazo no Iêmen.

O Iêmen é palco de uma guerra desde 2014, entre os rebeldes conhecidos como houthis, apoiados pelo Irã, e as forças do governo reconhecido internacionalmente, do presidente Abed Rabbo Mansour Hadi. O conflito já causou pelo menos 16 mil mortos, mas várias organizações não governamentais receiam que o balanço de vítimas seja superior.

Desde março de 2015, o governo é apoiado por uma coligação militar internacional árabe, que inclui a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos.

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Kersten Knipp Jornalista especializado em assuntos políticos, com foco em Oriente Médio.
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