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Conflitos violentos dominam Líbia pós-Kadafi

13 de junho de 2012

Aproveitando o enfraquecimento do governo após a morte do antigo ditador, grupos étnicos, políticos e religiosos disputam poder no território líbio. Especialista avalia que manter país unido será um grande desafio.

Foto: picture alliance/dpa

Incidentes violentos vêm acontecendo nas cidades líbias de Benghazi, Al Kufra e Zintan, e há chance de que outras disputas também sejam desencadeadas em breve na região dos tuaregues, noroeste do país. As quatro localidades representam um grande desafio ao governo líbio.

Uma ex-autoridade de segurança interna do país morreu em um atentado a bomba em Benghazi. Um explosivo já havia ferido Muftah al Urfi gravemente há alguns dias, quando ele deixava uma mesquita. Também há poucos dias, um representante dos Estados Unidos e um comboio da embaixada britânica foram capturados em estradas do país.

Minoria ameaçada

A imprensa local divulgou a ocorrência de novos incêndios em confrontos em Al Kufra. Durante embates entre milícias e combatentes tribais da minoria africana tubu, pelo menos 17 pessoas foram assassinadas. Ativistas de direitos humanos já haviam pedido às Nações Unidas em abril para atuarem com mais força para proteger os tubu. Apenas entre fevereiro e março deste ano, segundo os ativistas, mais de 100 integrantes dessa etnia foram mortos.

Um outro conflito ocorreu perto da cidade de Zintan, oeste da Líbia. Na última terça-feira, confrontos envolvendo ex-rebeldes e moradores de um distrito vizinho mataram dois militantes.

Uma equipe do Tribunal Penal Internacional é mantida presa em Zintan. Na semana passada, os funcionários da corte foram capturados por uma milícia na região, acusados de espionagem. Eles são acusados de tentar entregar documentos secretos a Saif al Islam Kadafi – filho do ditador morto Muammar Kadafi –, que se encontra preso.

Especialmente a prisão da australiana Melinda Taylor, defensora pública de Saif al Islam, gerou protestos internacionais. O governo líbio apresentou algumas condições para libertação de Taylor: eles querem que ela diga qual o paradeiro de Mohammed al-Harisi, homem apontado como braço direito do filho de Kadafi e que ela chegou a visitar.

Governo enfraquecido

O antropólogo Andreas Dittmann, especialista em Líbia da Universidade de Giessen, na Alemanha, enxerga uma ligação entre os diferentes grupos em conflito, mesmo considerando as distintas motivações em cada localidade. "A conexão é a insegurança que se seguiu ao regime de Kadafi. As razões para os conflitos e embates são distintas, em alguns lugares é a questão étnica, em outros ela é religiosa, em outras, criminal. Mas todos os grupos se aproveitam da situação de insegurança e de enfraquecimento do governo líbio".

Para Dittmann, os conflitos mostram quão complexa e difícil está a situação no país. "Em Al Kufra, no sul, trata-se de um conflito local de caráter apenas político. De um lado estão as milícias. De outro, os povos locais tubu, que não são nem berberes, como os tuaregues, nem árabes, como a maioria que ocupa o governo líbio", avalia o especialista.

"Após a tomada da região dos tubus, para as metas expansionistas dos tempos de Kadafi, impôs-se aqui aquilo que sempre separou os povos líbios: o repúdio mútuo entre as pessoas de pele mais ou menos escura e as de pele mais ou menos clara. Desta maneira, os de pele escura – especialmente os tubus, que têm a pele bem escura – acabam sendo os que mais sofrem discriminação. Tubus e tuaregues são arqui-inimigos", explica Dittmann.

Milícias e tuaregues

Enquanto isso em Zintan, no nordeste da Líbia, há disputa de competências. "Lá, há um grupo de milícia, guiado por sentimentos de revanchismo, que prendeu os representantes da corte internacional. Porém os presos são questão secundária. De um lado estão os milicianos, que suspeitam e querem punir toda colaboração e alinhamento com os colaboradores do antigo regime Kadafi. De outro, está um grupo do governo, que pretende impor o própria dominação."

No terceiro conflito em Benghazi, Andreas Dittmann enxerga uma situação totalmente diferente. "Aqui sempre houve uma oposição islâmica. No entanto, o ataque à delegação dos EUA e ao comboio da embaixada britânica também podem ter tido outras motivações. Mesmo que a oposição islâmica seja a responsável."

Por fim, o quarto potencial ponto de conflito está na área tuaregue, no oeste e sudoeste. "Um grupo étnico que ainda não quer acreditar que não mais existe o seu antigo protetor Kadafi, que lhes provinha com dinheiro e outros benefícios", explica Dittmann.

Barris de pólvora

Assim, o governo líbio tem muito trabalho pela frente, para manter o país unido. Mas como precisa demonstrar força internamente, do ponto de vista diplomático ele se comporta forma muito canhestra, no caso da prisão dos representantes da corte internacional, o especialista em Líbia.

A atual exigência, de que basta a advogada Taylor dar o endereço do colaborador de Kadafi para ser libertada, seria pura demonstração de força por parte das autoridades líbias, no estilo: "Nós ditamos as condições e nos comportamos de maneira correta, pois nossas exigências são possíveis de cumprir".

A Líbia está repleta de barris de pólvora e de grupos dispostos a acender o pavio. E até agora o novo governo tem se mostrado capaz de evitar que isso aconteça.

Autor: Günter Birkenstock (msb)
Revisão: Augusto Valente

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