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Conseguir vaga em creche em Berlim é missão quase impossível

29 de julho de 2019

Faltam cerca de 10 mil vagas em creches na capital alemã. Para conseguir lugar para filhos, alguns pais chegam a oferecer propina. Situação gerou alerta de ONG de combate à corrupção.

Crianças em creche na Alemanha
Pela legislação toda criança tem direito ao completar um ano a uma vaga numa creche na AlemanhaFoto: picture-alliance/dpa/W. Grubitzsch

"Pensando em ter filhos? Melhor então já começar a procurar por uma creche... ", o suposto conselho disfarçado de brincadeira revela o drama para se conseguir uma vaga em creches de Berlim. Estima-se que faltem cerca de 10 mil vagas na capital alemã. Outras cidades do país enfrentam problemas semelhantes, mas em Berlim a situação parece mais crítica.

Pela legislação toda criança, ao completar um ano, tem direito a uma vaga numa creche na Alemanha. No entanto, a realidade é bem diferente. Em Berlim, relatos de pais desesperados são frequentes na imprensa local. Muitos começam a procurar uma creche antes mesmo do nascimento da criança, quando descobrem a gravidez.

Para alguns essa cansativa busca termina nos tribunais. Sem conseguir uma vaga e após o fim da licença de maternidade de um ano, pais entram na justiça para garantir o cumprimento da legislação. Somente até abril deste ano, foram registradas 50 ações deste tipo na cidade.

Recentemente, outro método para tentar se sair bem nesta busca chamou a atenção inclusive da Transparência Internacional. Em portais de venda pela internet, pais estão oferecendo dinheiro em troca de vagas: 100 euros, 500 euros, mil e até 5 mil euros já foram ofertados. A ONG especializada no combate à corrupção alertou para o oferecimento de propina.

"Na vida cotidiana, os cidadãos não precisam pagar propina para receberem benefícios básicos do Estado. A ‘crise da creche' em Berlim não deve gerar danos nesse consenso social fundamental. A corrupção não causa apenas danos materiais e vantagens injustas, mas também mina o fundamento da nossa sociedade: a confiança na integridade e eficiência das instituições estatais", destacou a presidente da Transparência Internacional na Alemanha, Edda Müller, em nota.

A crise em Berlim é resultado de uma série de fatores, que começam com um período de políticas de austeridade no início dos anos 2000, no qual foi feita uma grande economia para equilibrar as contas públicas. Soma-se a isso o crescimento populacional constante, com a vinda de novos moradores, e o aumento de nascimentos por aqui. Além disso, há uma escassez de profissionais que trabalham no setor e também de espaços físicos para receber novas creches.

A transformação imobiliária e a gentrificação que têm devastado Berlim também contribuíram para a crise. Desde 2014, cerca de 70 creches tiveram que ser fechadas devido à explosão nos valores dos aluguéis.

Nos últimos anos, o governo tem promovido políticas para reverter essa situação, no entanto, a solução problema não é imediata. Mais educadores estão sendo contratados e aumentou o número dos que estão sendo formados. Está sendo promovido ainda um aumento nos salários no setor para tornar a profissão mais atraente.

Também está ocorrendo um maior investimento na construção de novas creches – atualmente há em Berlim cerca de 2,6 mil creches. Mas tudo isso leva tempo para dar resultados. Enquanto isso, o governo local tem pagado, por um período de tempo limitado, babás para aqueles que não conseguiram vagas para suas crianças.

Com essas mudanças, o governo planeja até 2021 criar 25 mil novas vagas em creches na cidade. Até lá, pais pretendem continuar protestando por seus direitos.

Clarissa Neher é jornalista da DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.

 

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