Órgão alega presença de eleitores em muito locais de votação e mantém urnas abertas por mais tempo. Oposição denuncia medida como manobra "oportunista" do governo.
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Apesar de temores em meio à acirrada disputa entre governo e oposição, as eleições legislativas na Venezuela ocorreram sem grandes incidentes. Porém, no final da votação, aumentou a tensão com o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) prorrogando por uma hora a votação que deveria ser encerrada às 18h (horário local) deste domingo (06/12). A oposição denunciou a medida.
Após questionar a prorrogação da votação, os ex-presidentes da Bolívia Jorge Quiroga, da Colômbia Andrés Pastrana, do Uruguai Luis Alberto Lacalle, do Panamá Mireya Moscoso, e da Costa Rica Laura Chinchilla e Miguel Ángel Rodríguez, convidados pela aliança da oposição Mesa da Unidade Democrática (MUD) para monitorar a eleição, tiveram suas credenciais como "acompanhantes políticos" cassadas pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
"Definitivamente as credenciais desses observadores políticos foram revogadas, comunicaremos as autoridades competentes para que se tomem as medidas necessárias", afirmou o presidente do CNE, Tibisay Lucena e acrescentou que as declarações dos ex-presidentes estremecem o clima de tranquilidade que "reinou" durante a eleição.
Os ex-presidentes questionaram a continuação da votação após o horário previsto para o fechamento das urnas e chamaram a situação de "oportunismo" oficial. A legislação venezuelana, no entanto, determina que, enquanto houver eleitores na fila para votar, as urnas devem permanecer abertas.
E justamente a presença de eleitores em muito locais de votação foi o argumento usado pelo CNE para prorrogar o horário de fechamento das urnas.
O ex-presidente boliviano Quiroga criticou a cassação das credenciais e a extensão do horário de votação, afirmando que as medidas são uma "cortina de fumaça" para tentar afastar a oposição e reverter a situação que não "parece favorável" para o governo.
Protesto internacional
A eleição transcorreu sem grandes incidentes e contou com diversos observadores internacionais. "Tudo está transcorrendo em ordem, em paz e de forma maciça em todo o território da Venezuela", afirmou o diretor da missão eleitoral da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), Leonel Fernández. A equipe irá monitorar a contagem dos votos no Conselho Nacional Eleitoral.
Enquanto na Venezuela o dia foi tranquilo, no Peru dezenas de venezuelanos que moram em Lima foram até a embaixada do país para protestar pelo impedimento de votar. Os manifestantes afirmaram que a proibição seria uma "sabotagem".
Alguns só ficaram sabendo do impedimento quando chegaram à embaixada para votar. O local foi cercado por policiais peruanos, visando evitar a invasão de manifestantes. A lei eleitoral venezuelana não permite o voto de cidadãos que moram no exterior em eleições de circunscrição regional.
Cerca de 20 milhões de venezuelanos foram às urnas neste domingo para eleger os novos parlamentares que vão ocupar as 167 cadeiras da Assembleia Nacional. Desde que a oposição boicotou as eleições em 2005, o governo tem mantido a hegemonia na Casa.
CN/efe/dpa
Opositores neutralizados pelo governo venezuelano
Temendo derrotas em eleições legislativas, o governo do Partido Socialista Unido da Venezuela usa poder para afastar candidatos da oposição com boas chances de vitória. A DW listou alguns exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa/Sanchez
Controle sobre adversários
Pesquisas sugerem que apenas 25% da população da Venezuela aprova o desempenho do presidente, Nicolás Maduro. Temendo derrotas em eleições legislativas, o governo do Partido Socialista Unido da Venezuela usa o poder para afastar candidatos da oposição com boas chances de vitória. Opositores têm candidatura vetada ou são proibidos de ocupar cargos públicos.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gutierrez
Candidatura anulada
Em 21 de setembro, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anulou a candidatura parlamentar de Carlos Vecchio, líder do partido Vontade Popular. Apesar de estar exilado, Vecchio liderava a lista dos candidatos da oposição no estado de Monagas, onde competia diretamente com Diosdado Cabello, segundo na hierarquia do PSUV e atual presidente da Assembleia Nacional.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gutierrez
Afastamento público
A Mesa da Unidade Democrática (MUD), a aliança de partidos de oposição venezuelanos, comunicou em 18 de julho que Pablo Pérez foi proibido de ocupar cargos públicos por dez anos. Sua participação nas eleições legislativas em nome da MUD estava assim sendo revogada. Perez foi governador do estado de Zulia, de 2008 a 2012, e líder do partido oposicionista Um Novo Tempo.
Em 15 de junho, Enzo Scarano, ex-prefeito do município de San Diego, no estado de Carabobo, recebeu a notificação da Controladoria-Geral informando-o que ele foi proibido de ocupar cargos públicos nos próximos 12 meses. Scarano havia sido eleito em maio, nas primárias da oposição, como candidato à Assembleia Nacional no colégio eleitoral 3 de Carabobo.
Foto: Getty Images/AFP/F. Parra
Proibida de concorrer
María Corina Machado foi incluída em maio na lista de candidatos da MUD para as eleições parlamentares de dezembro. Poucos dias antes de neutralizar Enzo Scarano, o controlador-geral, Manuel Galindo, desabilitou Machado politicamente por um ano. Machado foi a deputada que obteve mais votos na Venezuela nas eleições legislativas de 2010.
Foto: Getty Images/AFP/F. Parra
Mais um afastamento
A MUD lançou Daniel Ceballos como candidato para as eleições parlamentares pelo colégio eleitoral 5 do estado de Táchira. Mas, no início de julho, o político foi proibido de ocupar cargos públicos por um ano. Ceballos foi prefeito do município de San Cristóbal, até que o Supremo Tribunal destituiu-o em 2014, em meio aos protestos antigovernamentais daquele ano.
Foto: picture alliance/Demotix
Sete anos de proibição
No início de maio, apenas alguns dias antes de a MUD celebrar as primárias, o ex-governador de Táchira César Pérez Vivas foi proibido de ocupar cargos públicos por um período de sete anos. "Eu não sou o primeiro nem serei o último a sofrer este tipo de arbitrariedade e injustiça", disse Perez Vivas, na época.
Foto: Getty Images/AFP/J. Watson
Politicamente desqualificado
O fundador do partido Um Novo Tempo, Manuel Rosales, foi prefeito de Maracaibo, governador do estado de Zulia e candidato presidencial – o principal opositor de Hugo Chávez em 2006 – antes de procurar asilo político no Peru. Em maio de 2015, ele foi nomeado pela MUD para as eleições legislativas. Um mês depois, Rosales foi politicamente desqualificado por sete anos e meio.