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Transição na Líbia

21 de outubro de 2011

Enquanto as circunstâncias da morte do ex-ditador seguem obscuras, o Conselho Nacional de Transição anuncia que o processo de democratização começará oficialmente no sábado. Otan deve encerrar a campanha militar.

População celebra morte de Kadafi na capital TrípoliFoto: picture-alliance/dpa

Após a morte do ex-ditador Muammar Kadafi nesta quinta-feira (20/10), o Conselho Nacional de Transição (CNT) da Líbia afirmou que declarará oficialmente o país como "liberto" neste sábado, dando início à fase de transição. Em 30 dias deverá ser estabelecido um governo provisório, que terá como tarefa convocar uma assembleia constituinte e preparar eleições democráticas.

Em até oito meses um parlamento nacional deverá começar seus trabalhos, para estabelecer as bases para um recomeço do país. O CNT também transferirá em breve sua sede de Bengasi, onde a revolta popular contra Kadafi teve início, há oito meses, para a capital Trípoli.

"É hora de começar uma nova Líbia, uma Líbia unida", disse o primeiro-ministro rebelde, Mahmud Jibril. "Um só povo, um só futuro."

Segundo o chefe do CNT, Mustafá Abdul-Jalil, o anúncio oficial do início da fase de transição rumo a um Estado democrático, a ser realizado no sábado, deverá ocorrer em clima festivo na cidade natal de Kadafi, Sirte.

Foi ali que o ex-ditador foi morto, sob circunstâncias ainda obscuras. Além de Kadafi, acredita-se que o chefe da polícia secreta, Abdulah al Senussi, e o ministro da Defesa, Abu Bakr Junis, tenham sido mortos. Também foram confirmadas pela televisão estatal líbia as mortes dos filhos de Kadafi, Saif al Islam e Mutassim, em Sirte.

Sobre a morte de Saif al Islam não há, porém, certeza, já que não há imagens do corpo dele. Nesta sexta-feira, a emissora Al Arabiya informou que ele está vivo e foi detido em Slitan, a 160 quilômetros de Trípoli. Saif estaria ferido nas costas.

Reunião da Otan

Numa reunião extraordinária a ser realizada nesta sexta-feira (21/10), espera-se que a Otan declare sua campanha militar de seis meses na Líbia como encerrada. O secretário-geral da Organização, Anders Fogh Rasmussen, convidou o povo líbio a "realmente decidir o próprio futuro".

"A sombra da tirania foi removida", disse ObamaFoto: dapd

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, falou em um "dia marcante na história da Líbia". "A sombra da tirania foi removida", disse.

Angela Merkel, chanceler federal alemã, apontou o momento como um ponto final do regime Kadafi. "Chega ao fim uma guerra sangrenta que Kadafi colocou em prática contra seu próprio povo", disse Merkel.

"A libertação de Sirte deve sinalizar o início de um processo para estabelecer um sistema democrático em que todos os grupos do país tenham o seu lugar e as liberdades fundamentais sejam garantidas", disse o presidente francês, Nicolas Sarkozy, que liderou um movimento franco-britânico na Otan para apoiar a revolta contra Kadafi.

A China, que havia criticado a ação da Otan e tem um grande interesse econômico na Líbia, espera agora que o país consiga se restabelecer. "Esperamos que a Líbia seja capaz de dar início a um processo de transição política inclusivo assim que possível, para garantir a unidade étnica e nacional e alcançar a estabilidade social", disse o porta-voz do Ministério do Exterior, Jiang Yu.

Corpo será enterrado

Segundo o primeiro-ministro Jibril, logo após a morte de Kadafi, o CNT entrou em contato com o Tribunal Penal Internacional (TPI). O órgão pediu à Líbia que, por enquanto, o ex-ditador não fosse enterrado, para que o corpo pudesse ser examinado.

O CNT, porém, decidiu não acatar ao pedido. Mas médicos retiraram amostras de cabelo e tecido do corpo para não deixar dúvidas sobre a identidade de Kadafi, assegurou Jibril

Ele disse que o ex-líder seria enterrado em pouco tempo, seguindo o ritual islâmico. Na verdade, o que acontecerá com o corpo "tanto faz, o importante é que desapareça", declarou Jibril. Aparentemente, o CNT quer evitar que o túmulo de Kadafi se transforme num ponto de peregrinação para seus seguidores.

Rebeldes comemoram morte de Kadafi na cidade natal do ex-ditador, SirteFoto: dapd

Morte misteriosa

A única certeza sobre a morte de Kadafi é de que ela ocorreu em Sirte. Os relatos sobre as circunstâncias da morte permanecem contraditórios. Segundo Jibril, primeiro o ex-ditador foi capturado.

Logo depois, o caminhão em que deveria ser transportado de Sirte para Misrata teria sido atacado por alguns de seus seguidores. O ex-líder teria sido, então, gravemente ferido, e morreu pouco antes de chegar ao hospital de Misrata, após ter perdido muito sangue.

Essa versão oficial não é, porém, confirmada por fotos e vídeos. De acordo com o jornal The New York Times, o corpo de Kadafi teria sido visto por centenas de pessoas em Misrata. Enquanto isso, soldados inimigos passavam de mão em mão os "troféus finais da revolução" – a pistola dourada de Kadafi, seu telefone por satélite, seu cachecol marrom e uma bota preta.

Enquanto a notícia da morte de Kadafi se espalhava, o povo saía às ruas para comemorar. Alguns rebeldes atiravam para o alto, outros pichavam os parapeitos da estrada que sai de Sirte, com dizeres como "Kadafi foi capturado aqui".

LPF/dpa/rtr/afp
Revisão: Alexandre Schossler

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