Conservadores defendem volta da energia nuclear na Alemanha
11 de dezembro de 2023
Partido da ex-chanceler Merkel apresenta projeto de programa partidário que consolida guinada à direita da sigla. Texto defende retorno das usinas atômicas, cotas para acolhida de refugiados e oposição à linguagem neutra
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O principal partido de oposição na Alemanha apresentou nesta segunda-feira (11/12) o projeto de um novo programa partidário que inclui a defesa da volta da energia nuclear e regras mais duras para a entrada de refugiados.
O projeto de programa da União Democrata Cristã (CDU), partido conservador da ex-chanceler federal Angela Merkel, propõe a volta da energia nuclear como uma opção para geração de energia mais limpa. "A Alemanha atualmente não pode abrir mão da opção energia nuclear".
A Alemanha desligou em maio passado suas últimas três usinas atômicas, marcando o fim da era nuclear no país, mais de seis décadas após a inauguração do primeiro reator.
Cotas para refugiados
O texto da CDU pede, ainda, um enrijecimento da política da União Europeia de concessão de refúgio a migrantes, propondo que todos aqueles que entram com pedido de refúgio sejam enviados a um país fora do bloco, onde as candidaturas a refúgio na UE seriam analisadas.
O rascunho propõe que uma "coligação de voluntários" entre os países da UE se ofereça para acolher alguns dos refugiados todos os anos – mas apenas até uma determinada cota. O partido não especificou quantas pessoas a CDU estaria disposta a aceitar para se refugiarem na Alemanha a cada ano.
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Cultura dominante
Outro trecho do rascunho afirma que “somente aqueles que se comprometem com a nossa cultura dominante podem integrar-se e tornar-se cidadãos alemães”.
Recentemente, a CDU defendeu que o reconhecimento do direito de existência de Israel fosse adicionado aos requisitos para candidatos que pedirem a cidadania alemã.
“A Sharia não pertence à Alemanha”, diz o texto. “Os muçulmanos que partilham dos nossos valores pertencem à Alemanha.”
Linguagem neutra
Em outra parte do texto, a CDU defende uma linguagem de igualdade de gênero "mas contra a coerção de gênero". A sigla afirma não querer que "nenhuma linguagem de gênero gramaticalmente incorreta seja usada por escolas, universidades e outras instituições estatais, assim como pelas emissoras públicas”.
O projeto, elaborado na semana passada, foi submetido a comitês partidários de alto nível da CDU e está previsto para ser oficialmente adotado pela diretoria executiva do partido em uma reunião a portas fechadas em meados de janeiro.
O rascunho será então discutido com os membros e depois adotado pelos mais de mil delegados da CDU na conferência partidária agendada para maio.
A CDU lançou o processo para elaborar um novo programa partidário depois de perder as eleições parlamentares de 2021, que levaram ao poder o atual chanceler federal alemão, Olaf Scholz. O atual programa partidário da legenda é de 2007.
Em 2022, A CDU passou a ser chefiada por Friedrich Merz, um político associado à direita da CDU e crítico histórico do rumo moderado adotado por Merkel por quase duas décadas.
md (DPA, AFP, ots)
Quatro décadas de movimento antinuclear alemão
Protestos contra a energia atômica deram origem ao Partido Verde mais forte do mundo. Eles obtiveram muitas vitórias desde os anos 70, mas também registraram reveses.
Foto: AP
Nasce um movimento
O movimento antinuclear despontou na Alemanha já no início dos anos 1970, com os protestos contra os planos para a construção de uma usina nuclear em Wyhl, perto da fronteira com a França. A polícia foi acusada de empregar força excessiva para conter os manifestantes. Mas, no fim, estes venceram, e o projeto nuclear foi arquivado em 1975.
Foto: picture-alliance/dpa
Desobediência civil
Animados pelo sucesso em Wyhl, no fim da década de 70 protestos semelhantes de desobediência civil se realizaram em Brokdorf e Kalkar. Embora não tenham conseguido evitar a instalação dos reatores, eles provaram que o movimento antinuclear ganhava força no país.
Foto: picture-alliance / dpa
Não ao lixo radioativo
A cidade de Gorleben tornou-se palco de protestos veementes contra a indústria nuclear desde que, em 1977, foram anunciados planos de usar uma mina de sal desativada como depósito para resíduos atômicos. Apesar de a área próxima à fronteira da extinta Alemanha Oriental ser pouco populosa, seus habitantes logo deixaram claro que não aceitariam sem luta ter material radioativo perto de seus lares.
Foto: picture-alliance / dpa
Um passo para a bomba?
Desde o início, o movimento antinuclear alemão reuniu organizações religiosas, agricultores e moradores apreensivos, lado a lado com ativistas estudantis, acadêmicos e pacifistas, que viam uma conexão entre energia nuclear e a bomba atômica. Como país ao longo da fronteira da Guerra Fria, o medo de um conflito nuclear pairava na mente de muitos alemães.
Foto: AP
Ingresso na política partidária
No fim dos anos 70, ativistas antinucleares se juntaram a outros defensores do meio ambiente e da justiça social para formar o Partido Verde. Tendo conquistado seus primeiros assentos no parlamento federal em 1983, hoje ele é uma força política estabelecida na Alemanha, e possivelmente o Partido Verde mais forte do mundo.
Foto: picture-alliance/dpa/C. Pfund
Os piores medos se tornam realidade
Em 1986, o derretimento nuclear de um reator a centenas de quilômetros, em Tchernobil, na Ucrânia, espalhou partículas radioativas pela Europa e fortaleceu a resistência à energia nuclear entre a opinião pública da Alemanha. O Partido Verde estava no poder em Hessen, mas o secretário do Meio Ambiente, Joschka Fischer, disse que não seria possível fechar de imediato as usinas do estado.
Foto: picture-alliance / dpa
Lei sela fim da energia atômica
Em 1998, os verdes passaram a integrar o governo federal da Alemanha, como parceiro minoritário do Partido Social-Democrata. Em 2002, essa coalizão "rubro-verde" aprovou uma lei proibindo novas usinas nucleares e reduzindo a vida útil das existentes, de modo que as últimas fossem desativadas em 2022.
Foto: picture-alliance / dpa
Mantendo a pressão
Mesmo com o fim da energia atômica à vista, o movimento antinuclear ainda tinha muito contra o que protestar. Numerosos ativistas, inclusive do Partido Verde – cujos então líderes Jürgen Trittin e Claudia Roth são vistos nesta foto de 2009 – exigiam um fim bem mais rápido dos reatores, dentro de uma onda antinuclear global.
Foto: AP
Parem este trem!
Continuava em aberto a questão de o que fazer com os resíduos radioativos dos reatores da Alemanha. Em 1995, os bastões irradiados eram reprocessados no exterior e depois trazidos de volta em trens para o depósito em Gorleben. Anos a fio, os assim chamados "transportes Castor" foram recebidos com protestos de ativistas, que sentavam sobre os trilhos dos trens até serem removidos pela polícia.
Foto: dapd
Merkel reverte decisão dos verdes
A União Democrata Cristã (CDU), da chanceler federal Angela Merkel, sempre se opusera à lei limitando a vida útil das usinas nucleares. Assim, em 2009, ao formar uma coalizão com os liberais, o partido anulou a medida, num duro golpe para o movimento antinuclear.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Ebener
Fukushima força Merkel a rever a própria decisão
Em 2011, o derretimento nuclear de três reatores em Fukushima, no Japão, forçou o governo de Merkel a voltar atrás rapidamente. Poucos dias após o desastre, Berlim aprovava uma lei estabelecendo o fechamento da última usina nuclear da Alemanha em 2022. O processo de desativação gradual foi retomado, com oito reatores sendo desligados já em 2011.