Gregos castigam coalizão governista
6 de maio de 2012Os dois principais partidos gregos sofreram grandes perdas nas eleições legislativas deste domingo (06/05). Conforme dados do Ministério do Interior, o Pasok, partido no poder, obteve mais de 13% dos votos, deixando de ser a primeira força para ter apenas a terceira maior representação no parlamento. Os socialistas foram superados pelo partido de esquerda, Syriza, que conquistou pouco mais de 16%, tornando-se a segunda força. O vitorioso é o Nova Democracia, liderado por Antonis Samaras, com quase 20% dos votos.
A extrema-direita fica com a sexta maior representação, tendo garantido mais de 7% da preferência dos eleitores. Pela primeira vez, desde o fim da junta militar, em 1974, o partido neonazista "Aurora Dourada" conquista assentos no parlamento grego, tendo direito a 25 representantes. Os resultados das eleições criam grande expectativa sobre a continuidade do plano de austeridade aplicado na zona do euro, que tem a Grécia como um país-chave.
Analistas já previam que as urnas acabariam punindo os dois maiores partidos do país, que detinham a hegemonia política na Grécia há quase 40 anos. A presença parlamentar dos dois partidos caiu de 77,4% para cerca de 33%. A sigla que sai com o maior prejuízo é o Pasok, que atravessava a crise da dívida no poder. O partido perdeu mais de 30 pontos percentuais na preferência dos eleitores. A quarta força no parlamento, com mais de 10%, é o "Gregos Independentes", um partido de direita composto por dissidentes do Nova Democracia.
Difícil consenso
Tanto o Pasok quanto a Nova Democracia já confirmaram que querem a manutenção da Troika, formada por União Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu, no país. Porém, a nova composição do parlamento não garante ampla maioria aos dois partidos, o que pode exigir de Samaras intensa negociação política para continuar as reformas. A extrema-direita e o "Gregos Independentes" defendem a saída da zona do euro.
Após reconhecer a derrota, o líder do Pasok, Evangelos Venizelos, apelou pela formação de um "governo de unidade nacional pró-europeu". No final de semana, o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, disse à imprensa grega que se a Grécia abandonar os compromissos assumidos terá de enfrentar as consequências. "A adesão à União Europeia é voluntária", afirmou o ministro do país que mais contribuiu com os pacotes de resgate à Grécia, que chegaram a 240 bilhões de euros.
A Grécia eliminou um terço dos seus débitos. O país está no quinto ano de recessão com um em cada cinco trabalhadores desempregados, bancos em situação precária e salários e pensões reduzidos em 40 por cento. Com Portugal e Irlanda também sendo resgatados e Itália e Espanha em instabilidade, o ano passado foi marcado por temores de rompimento da Grécia com zona do euro. Os receios foram reduzidos, mas não desapareceram.
Resposta das urnas
A mídia local enfatizou durante o final de semana a importância destas eleições para mudar o destino da Grécia. "Diante do difícil dilema entre ficar na zona do euro ou ir à falência, os eleitores vão às urnas na eleição mais crítica das últimas décadas", destacou o jornal de centro-esquerda Ta Nea.
O semanário Proto Thema observou que o período eleitoral foi o mais dramático desde a queda da ditadura militar, em 1974. O centro-esquerdista Ethnos observou: "O que estamos sendo chamados a fazer é determinar com nosso voto se o país terá um futuro, ou não."
O semanário alemão Der Spiegel publica que os políticos gregos têm atuado como "alquimistas", enquanto o suíço Le Soir diz a formação de um novo governo rapidamente é "vital" para a zona do euro. O diário de centro-direita Frankfurter Allgemeine Zeitung referiu-se neste final de semana que os esforços feitos no sul da Europa para cortar gastos e implementar reformas devem continuar, do contrário "poderia haver uma péssima escalada da crise."
MP/afp/dpa/ape
Revisão: Francis França