Consumidores europeus descobrem adoçante estévia
28 de agosto de 2012No mundo inteiro, mais de 150 milhões de pessoas usam a Stevia rebaudiana e seus extratos. Entretanto, a erva ainda não consegue substituir plenamente o açúcar. "A estévia é adequada para nichos, como adoçantes artificiais", diz Solveig Schneider, da assessoria de imprensa da Associação Alemã da Indústria de Confeitaria.
"Mas o açúcar é necessário de qualquer forma, porque a estévia ainda não pode ser aplicada em produtos de confeitaria, por exemplo." No caso de um bolo, a pouca quantidade de estévia necessária para adoçar não supriria o volume que o açúcar proporciona na massa, explica Schneider. "A erva é mais adequada para a fabricação de doces ou balas de goma."
China é maior produtor mundial
A indústria de bebidas, um dos maiores processadores de açúcar, tem feito experimentos com a erva. Já em 2007, a Coca-Cola registrou patentes baseadas na estévia e vende, na Europa e nos EUA, refrigerantes contendo o adoçante natural.
O pesquisador brasileiro Silvio Cláudio da Costa acredita que a estévia é uma revolução no mercado de alimentos. "Conheço há 25 anos o potencial extraordinário dos glicosídeos, especialmente do rebaudiosídeo A. Ele é natural, seguro, sem calorias, tem um gosto bom e não causa cáries", elogia o coordenador do Núcleo de Estudos em Produtos Naturaus (Nepron), da Universidade Estadual de Maringá. "O Brasil foi o primeiro país ocidental a cultivar a estévia em grande escala e que conseguiu produzir extratos com 90% de pureza."
O Paraná abrigou no passado uma das maiores plantações de estévia do mundo. Entretanto, a produção era muito cara, e o preço não era competitivo, o que obrigou os produtores a desistirem do cultivo. Hoje, a China é o maior produtor mundial da planta, com 10% de participação no mercado. A estévia se tornou conhecida no país asiático no início dos anos 70 e é processada industrialmente desde então.
Em busca de adoçantes naturais
Até agora, não foram verificados efeitos adversos à saúde. Também na América do Sul, os defensores da planta apontam para séculos de utilização sem efeitos colaterais. Mesmo assim, argumentos sobre a segurança do produto ainda constituem barreiras para uma liberação ampla da estévia na União Europeia.
Nos anos 80 e 90, estudos em camundongos no EUA acusaram que um extrato da estévia teria efeito potencialmente cancerígeno. Na época, a norte-americana Food and Drug Administration (FDA) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertaram contra o uso da estévia, porém testes posteriores não confirmaram os resultados.
A indústria de adoçantes químicos teria colaborado com os estudos norte-americanos, acusam alguns. Para Jan Geuns, isso seria um indício da luta pelos bilhões de dólares envolvidos no mercado dos doces. "Não será o lobby do açúcar que sofrerá com a ascensão da estévia e sim os fabricantes de adoçantes químicos. Os consumidores querem adoçantes naturais", aponta o professor de fisiologia molecular no Instituto Botânico da Universidade Católica de Leuven, na Bélgica.
Há 15 anos, ele acompanha o processo de autorização da estévia pelas autoridades da UE. "As leis alimentares europeias usam o argumento da segurança alimentar para manter bons produtos longe do mercado. Se a segurança alimentar fosse realmente importante, então, todos os produtos com açúcar caramelizado deveriam ser examinados. Tenho certeza de que encontrariam substâncias cancerígenas neles", critica Geuns.
Doentes por açúcar
A OMS contabiliza em quase 350 milhões o número de pessoas com diabetes no mundo. O consumo mundial de açúcar é de aproximadamente 150 milhões de toneladas anuais, que correspondem a um volume de negócios de mais de 60 bilhões de euros.
Mas os produtores europeus de açúcar não atravessam uma época favorável, apesar do alto consumo. Países agrícolas como o Brasil podem produzir açúcar a partir da cana a preços muito baixos, e o potencial de estévia poderia ser mais um inconveniente nesse mercado. Jan Geuns acredita que a corrupção e os interesses do lobby do açúcar impedem uma maior aceitação da erva adoçante.
Já o especialista alemão em estévia Udo Kienle não acredita em manipulação. "Não há nenhuma prova de que as empresas de açúcar estejam agindo nessa área. São puras teorias de conspiração", assegura, acrescentando que, para a aprovação de um aditivo alimentar, é necessária a comprovação de que o produto não é nocivo à saúde. "Esta comprovação só ocorre após estudos toxicológicos", explica o especialista da Universidade de Hohenheim. Tais procedimentos, segundo ele, seguem determinadas diretrizes e, por isso, exigem tempo para a avaliação.
Autora: Solveig Flörke (md)
Revisão: Augusto Valente