"Contador de Auschwitz" é condenado a quatro anos de prisão
15 de julho de 2015
Tribunal opta por pena mais severa do que a pedida pela promotoria para Oskar Gröning, de 94 anos. Ele é condenado por cumplicidade nos assassinatos de 300 mil pessoas no campo de concentração.
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O colaborador do regime nazista Oskar Gröning, de 94 anos, foi condenado nesta quarta-feira (15/07) a quatro anos de prisão por cumplicidade em assassinatos ocorridos em 1944 no campo de concentração de Auschwitz. O veredicto foi anunciado uma semana antes do esperado. Este pode ter sido o último julgamento relacionado a Auschwitz.
O Tribunal Regional de Lüneburg, na Alemanha, optou por uma pena mais severa do que a pedida pela promotoria, de três anos e meio, dos quais 22 seriam retirados porque a condenação já teria sido possível há décadas. Muitos sobreviventes e familiares de vítimas consideraram a pena pedida pela promotoria leve demais.
Cabe agora aos promotores verificar se Gröning, de 94 anos, está em condições de cumprir a pena na prisão devido à sua saúde debilitada.
Gröning foi acusado de cumplicidade no assassinato de 300 mil pessoas entre maio e julho de 1944. Durante o julgamento, o acusado reconheceu o seu envolvimento e admitiu "cumplicidade moral" com o Holocausto. Ele rejeitou, porém, uma admissão de responsabilidade penal.
Ao longo do julgamento de quase três meses, que despertou grande atenção internacional, vários sobreviventes do Holocausto descreveram suas detenções e os assassinatos em massa cometidos no campo de concentração. Foram detalhadas, entre várias atrocidades, os experimentos médicos de Josef Mengele e os assassinatos de judeus.
Argumentação da defesa
A defesa havia pedido a absolvição do acusado, argumentando que Gröning não teria participado diretamente dos assassinatos. Também se concentrou no fato de que Gröning já havia sido investigado em 1978 e que, na época, a investigação foi arquivada. O atual julgamento é resultado de um precedente aberto pela condenação de John Demjanjuk em Munique, em 2011. Durante a Segunda Guerra Mundial, ele foi um dos guardas do campo de extermínio de Sobibor.
A defesa argumentou também que, devido à cooperação total de Gröning com a promotoria durante as investigações de 1978 e no atual julgamento, e diante do fato de que a Justiça alemã levou 37 anos para julgar esse caso, ele deveria ser absolvido.
Gröning alegou que pediu transferência de Auschwitz em três ocasiões diferentes, mas nenhuma evidência disso foi encontrada. Durante o julgamento, um historiador chamado para esclarecer a versão do acusado alegou que solicitações de transferência para o fronte costumavam ser sempre concedidas para oficiais fisicamente aptos como ele.
O "Contador de Auschwitz"
Durante dois anos, de setembro de 1942 a outubro de 1944, Gröning serviu no campo de extermínio à Waffen-SS, tropa de elite das Forças Armadas nazistas. Ele confessou ter reunido dinheiro de pessoas presas pelo regime e enviado para Berlim. Sua função era administrar dinheiro, joias e outros objetos de valor dos deportados – o que lhe valeu o apelido de "Contador de Auschwitz", dado pela mídia alemã.
Gröning também cuidava da bagagem dos prisioneiros, quando eles chegavam ao campo de concentração. "Nosso objetivo era evitar roubos", afirmou Gröning. "Não tínhamos nada a ver com a vigilância de prisioneiros", garantiu.
A promotoria o acusou de ocultar indícios de assassinato em massa ao ajudar a dar sumiço à bagagem dos prisioneiros. Também o acusou de, como contador, separar o dinheiro e objetos de valor das vítimas, encaminhando-os, mais tarde, para Berlim, mesmo sabendo que Auschwitz servia para o assassinato em massa de pessoas durante o Holocausto.
MP/dw/dpa/afp
A arte e os horrores de Auschwitz
Exposição em Berlim mostra a obra de artistas que sobreviveram aos campos de concentração nazistas. Além de documentar atrocidades, eles fizeram arte.
Foto: Staatliches Museum Auschwitz-Birkenau in Oœwiêcim
Os artistas esquecidos
Enquanto a chamada "arte degenerada" dos artistas perseguidos pelo nazismo desperta atenção, quase ninguém conhece o trabalho dos artistas que estavam em campos de concentração. Pintores como Waldemar Nowakowski (foto) estão quase esquecidos. Por isso a importância do livro e da exposição "A morte não tem a última palavra", a ser aberta no prédio do Bundestag em Berlim, a partir de 27 de janeiro.
Foto: Staatliches Museum Auschwitz-Birkenau in Oœwiêcim
Horrores de Theresienstadt em gravura
Por mais de 15 anos, o autor, curador e historiador de arte Jürgen Kaumkötter se dedicou à arte dos perseguidos entre 1933 e 1945. Para isso, não considerou apenas quadros que surgiram nessa época, mas também aqueles que tematizaram os acontecimentos em retrospecto. Leo Haas executou esta gravura sobre Theresienstadt em 1947. Mas há também obras feitas no campo de concentração.
Foto: Bürgerstiftung für verfolgte Künste – Else-Lasker-Schüler- Zentrum – Kunstsammlung Gerhard Schneider
Pinturas no "museu do campo"
É sabido que artistas pintaram em Theresienstadt. Mas também em Auschwitz 1 houve um "museu do campo". Lá havia lápis, papel, pincéis à disposição dos artistas, para que executassem encomendas para a SS. Outros motivos surgiram secretamente. Em contrapartida, praticamente não há obras de arte oriundas de Auschwitz 2. Na foto: "Autorretrado de Marian Ruzamski", de 1943/44.
Foto: Staatliches Museum Auschwitz-Birkenau in Oœwiêcim
Imagem de sonhos em Auschwitz
O artista Jan Markiel criou esse retrato, em 1944, sem os materiais que tinha oficialmente à disposição em Auschwitz 1. A filha do padeiro do vilarejo próximo de Jawiszowice ajudou o prisioneiro trazendo pão e intermediando mensagens para a resistência. A têmpera utilizada pelo artista veio de pigmentos raspados da parede. O tecido grosso dos colchões de palha serviu como tela.
Foto: Staatliches Museum Auschwitz-Birkenau in Oœwiêcim
Testemunha dos crematórios
Em 1942, aos 13 anos, Yehuda Bacon (na foto, à dir.) veio para Theresienstadt e, em dezembro de 1943, para Auschwitz-Birkenau. Ele foi utilizado como mensageiro – podendo se aquecer nos fornos dos crematórios no inverno. O que testemunhou, ele relatou não somente durante o célebre Julgamento de Auschwitz em Frankfurt, mas também expressou nos desenhos que executou após a guerra.
Foto: Bürgerstiftung für verfolgte Künste – Else- Lasker-Schüler-Zentrum – Kunstsammlung Gerhard Schneider
Símbolo da morte
Yehuda Bacon mostrou esse desenho aos juízes em Frankfurt, como prova dos crimes cometidos em Auschwitz: chaminés retangulares dos crematórios, um chuveiro, pessoas que são apenas esboços. Para o historiador da arte Kaumkötter, esse desenho é um símbolo da morte nas câmaras de gás e da sepultura nos céus. Trata-se não somente de um testemunho, mas também de uma grande obra de arte.
Foto: Yehuda Bacon
A segunda geração
Michel Kichka é um dos cartunistas mais influentes de Israel. Em 2014, ele publicou a novela gráfica "Segunda geração – o que o meu pai nunca me contou", sobre o menino Kichka e o seu pai, sobrevivente de Auschwitz. Os traumas do pai passaram para o filho. Somente quanto ouve o pai contar piadas sobre o campo, Kichka consegue superar seus pesadelos.
Foto: Egmont Graphic Novel
Metáforas do Holocausto
Também os pais da artista israelense Sigalit Landau são sobreviventes do Holocausto, e o professor de desenho dela foi Yehuda Bacon, que trabalha até hoje como artista e professor de arte em Israel. Os trabalhos de Landau são repletos de alusões metafóricas ao Holocausto, como estes sapatos, que logo lembram a montanha de calçados que ainda hoje pode ser vista na exposição permanente de Auschwitz.
Foto: Sigalit Landau
A morte não tem a última palavra
Sigalit Landau coletou cem pares de sapatos em Israel e os afundou no Mar Morto. O mar os envolveu com uma camada de sal curativa – eles se tornaram símbolo da vida, em vez da morte. O desejo da artista era mostrá-los em Berlim, como sinal de que a esperança derrota o desespero. A mostra "A morte não tem a última palavra" está em cartaz até o dia 27 de fevereiro no prédio do Bundestag, em Berlim.