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Conte quer "recuperar tempo perdido" na Itália

29 de agosto de 2019

Primeiro-ministro italiano é reconduzido ao cargo após acordo entre populistas e centro-esquerda. Em discurso, ele acena para União Europeia e promete governo de mudanças. Novo gabinete será anunciado nos próximos dias.

Giuseppe Conte
"Este é o tempo de uma grandiosa nova estação de reformas", disse o premiê italiano, Giuseppe ConteFoto: Reuters/C. de Luca

O primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, que renunciou ao cargo na semana passada, recebeu nesta quinta-feira (29/08) a incumbência de formar um novo governo, um dia após a confirmação de uma nova coalizão entre o populista e eurocético Movimento Cinco Estrelas (M5S) e o Partido Democrático (PD), de centro-esquerda.

As duas legendas, que viveram uma rivalidade ferrenha durante anos, vão agora governar juntas após o fracasso da coalizão entre o M5S e a ultradireitista Liga, de Matteo Salvini. Bem avaliado nas pesquisas, Salvini anunciou o fim da coalizão na tentativa de convocar novas eleições. A jogada política, no entanto, fracassou.

Em seu discurso, Conte afirmou que entregará nos próximos dias ao presidente italiano, Sergio Mattarella, uma lista de nomes para compor o novo ministério. Ele ainda prometeu que este será um "governo de mudanças". "Precisamos transformar esta crise em oportunidade", declarou, assegurando que a Itália voltará a ser um dos principais poderes na Europa, após 14 meses do governo populista e eurocético do M5S e a Liga.

"Este é o tempo de uma nova estação, uma grandiosa nova estação de reformas, de reinício, de esperança, de dar ao país algumas respostas e certezas", afirmou. Conte disse querer uma Itália "mais justa, competitiva, unida e inclusiva". O tom adotado no discurso já apresenta diferenças significativas em relação ao governo anterior.

"Temos que recuperar o tempo perdido para que a Itália possa ter o papel de liderança [na União Europeia] que um dos países fundadores merece", destacou o premiê.

Conte avalia que o país, atolado em dívidas, atravessa "uma fase muito delicada", com a desaceleração da economia europeia e as tensões no comércio internacional, principalmente entre os Estados Unidos e a China.

O premiê afirmou que começará a trabalhar imediatamente em um orçamento que possa se contrapor ao aumento nos impostos sobre valor agregado (IVA), proteger as poupanças e prover perspectivas sólidas de crescimento e desenvolvimento social.

As prioridades da nova coalizão incluem melhorar a infraestrutura, fortalecer as energias renováveis e combater a sonegação fiscal. Conte, no entanto, evitou mencionar a questão da imigração, a grande obsessão política de seu ex-parceiro Salvini.

Em 8 de agosto, Salvini retirou a Liga da coalizão de governo e exigiu a convocação de novas eleições, na certeza de que seu partido venceria o pleito e ele seria indicado para o cargo de primeiro-ministro. Seu ex-parceiro de governo, porém, conseguiu evitar esse cenário ao se aliar com um inimigo comum de ambos, o Partido Democrático.

Após sua renúncia, Conte, um professor de direito de 55 anos, permaneceu na chefia de governo em caráter provisório. Depois de confirmada a coalizão M5S-PD, ele recebeu do presidente Mattarella o mandato para formar um novo governo, ao ser indicado pelas duas legendas como o novo primeiro-ministro.

Mattarella correu para encontrar uma solução para a crise política que se instalara, com o país atolado em dívidas e sob pressão para aprovar o orçamento nos próximos meses. A ausência de um governo poderia gerar efeitos graves na economia que levariam o país à recessão.

Após ver fracassar sua estratégia para chegar ao poder, o líder da Liga teceu duras críticas à nova coalizão, afirmando que "nasceu em Bruxelas para se livrar daquele chato do Salvini". Ele disse que o novo governo se alimentará de sua narrativa populista e alegou não ter pressa para voltar ao poder, confiante de que seu partido vencerá as próximas eleições.

A nova coalizão tem enorme potencial para ser tão atribulada quanto a anterior, considerando a longeva e espinhosa rivalidade entre os dois partidos que a compõem.

RC/dpa/afp

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