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Desastre militar

7 de setembro de 2009

Operação militar que custou a vida de dezenas de pessoas pode ter causado vítimas entre a população civil. Grave incidente acirra o fogo cruzado dos partidos em campanha eleitoral na Alemanha.

Presença militar alemã no Afeganistão é seriamente questionada dentro do paísFoto: AP

O ministro alemão da Defesa, Franz Josef Jung, admitiu a possibilidade de que o ataque aéreo do Exército alemão no Afeganistão tenha deixado vítimas mortais entre a população civil. Jung declarou que dispõe de diferentes cálculos do número de vítimas, fornecidos pelas autoridades afegãs, mas não pode excluir a eventualidade de mortes entre civis afegãos.

O ministro revidou as acusações da oposição sobre falta de transparência e morosidade no fornecimento de dados confiáveis, afirmando que não informará o Parlamento com base em especulações, mas somente a partir de fatos concretos. Após severas críticas dentro e fora do país contra a operação militar ordenada pela Alemanha, a premiê Angela Merkel anunciou que fará nesta terça-feira (08/09) um pronunciamente oficial a respeito.

Operação tumultua Isaf

População afegã enterra suas vítimas em uma vala comum, nas imediações de KunduzFoto: AP

Enquanto o Ministério alemão da Defesa reiterou a necessidade da operação militar, que matou supostamente 56 talibãs, o governo afegão condena o ataque aéreo contra os dois caminhões-tanque como um equívoco que custou a vida de dezenas de pessoas.

Em entrevista ao diário francês Le Figaro, o presidente afegão, Hamid Karzai, indagou por que não se mobilizaram tropas em terra para a operação. "Mais de 90 mortos por causa de um caminhão-tanque, que ainda por cima estava atolado no leito de um rio", indignou-se Karzai.

De acordo com informações publicadas pela imprensa alemã, o ataque aéreo desencadeou sérias desavenças entre as tropas da Isaf comandadas pela Otan. Altos oficiais alemães estariam indignados com as "informações errôneas espalhadas propositalmente pelos EUA", relatou o jornal Neue Osnabrücker Zeitung.

Antes disso, o diário Washington Post havia relatado que o comando alemão não dispunha de informações suficientes para ordenar o ataque. O Ministério alemão da Defesa, por sua vez, desmentiu eventuais conflitos entre os parceiros da aliança militar.

Principais candidatos cogitam retirada das tropas

Menos de três semanas antes das eleições parlamentares na Alemanha, a explosão dos dois caminhões-tanque no norte do Afeganistão teve grande impacto na política interna alemã. Após o bombardeio ordenado pela Bundeswehr, a presença militar alemã no Afeganistão se tornou o principal assunto da campanha eleitoral.

A chanceler federal Angela Merkel e seu concorrente social-democrata, o ministro das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, estão "no mesmo barco", evitando acusações recíprocas. Mesmo assim, nenhum dos dois candidatos quer deixar o assunto a cargo da oposição.

Gordon Brown e Angela Merkel discutem prazos para término da operação internacionalFoto: AP

Desde o último fim de semana, Merkel vem tomando algumas providências tendo em vista a política interna. Além de ter anunciado um pronunciamento oficial sobre o caso para esta terça-feira, ela propôs – junto com o premiê britânico, Gordon Brown – a antecipação das negociações sobre o futuro da intervenção militar internacional no Afeganistão. A meta final seria a retirada definitiva das tropas internacionais após a estabilização da segurança no país.

Presença militar alemã cada vez mais impopular

Mesmo antes do ataque aéreo de sexta-feira, a presença militar alemã no Hindukush já era bastante impopular entre os eleitores alemães. De acordo com uma enquete do instituto Forsa, 61% dos cidadãos alemães entrevistados favorecem a retirada dos soldados alemães do Afeganistão. Apenas 33% defendem a participação alemã na operação da Otan.

Isso demonstra que a relação entre defensores e opositores da presença militar alemã no Afeganistão praticamente se inverteu desde o início da missão internacional no país, iniciada logo após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 nos EUA.

Merkel insinua levar em consideração o desejo de seus eleitores, mesmo que não haja uma solução imediata e uma eventual retirada dos soldados alemães ainda possa demorar pelo menos cinco anos.

Steinmeier já tinha dado o mesmo sinal há duas semanas, ao anunciar que – após as eleições – pretende negociar um cronograma para a retirada das tropas. O candidato social-democrata evitou definir um prazo concreto, argumentando que os talibãs poderiam se aproveitar dessa informação.

O ex-premiê alemão Gerhard Schröder, do partido social-democrata, se incumbiu de citar números, propondo 2015 como prazo adequado para a retirada. Essa declaração poderá ter impacto sobre o eleitorado, sinalizando uma mudança da política social-democrata em relação ao Afeganistão. Schröder tem experiência com isso. Em 2002, ele conseguiu garantir sua reeleição ao governo por meio de uma clara recusa à guerra no Iraque.

Governo na mira da oposição

Mesmo assim, a oposição está decidida a pressionar o governo. Enquanto verdes e liberais escolheram como alvo o ministro da Defesa, Franz Josef Jung, o partido A Esquerda foi mais adiante, reivindicando a retirada imediata dos soldados alemães do Afeganistão. Na terça-feira, os líderes esquerdistas Oskar Lafontaine e Gregor Gysi farão um comício em oposição ao envolvimento militar alemão no Afeganistão.

Até agora, nenhum partido alemão – nem A Esquerda – fez uma proposta factível de como suspender a curto prazo a operação militar alemã. De qualquer forma, qualquer decisão depende do voto do Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão.

SL/ap/afp

Revisão: Soraia Vilela

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