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Fórum evangélico da Alemanha boicota populistas de direita

20 de junho de 2019

"Dia da Igreja Protestante Alemã" deste ano destaca a importância da confiança em tempos de polarização. Políticos devem tomar parte nas discussões, mas membros do Alternativa para a Alemanha (AfD) não foram convidados.

Deutschland Deutscher Evangelischer Kirchentag in Dortmund - Segen zur Nacht
Participantes do Dia da Igreja Protestante em Dortmund Foto: picture-alliance/dpa/B. Thissen

Ralf Greth é um pastor protestante em Dortmund, uma cidade que muitos estrangeiros conhecem principalmente por causa do seu time de futebol da Bundesliga, o Borussia. Este ano, Dortmund é palco do 37° Dia da Igreja Protestante Alemã (Deutsche Evangelische Kirchentag), que teve início na quarta-feira (19/06). "Nossa congregação é pequena, mas muitos aqui estão realmente interessados no encontro", disse Greth à DW. "Todo mundo está animado."

Espera-se que mais de 100.000 visitantes se desloquem para Dortmund e à região do Ruhr entre quarta-feira e domingo. O Dia da Igreja Protestante, que ocorre a cada dois anos desde 1949, é ao mesmo tempo cosmopolita e tipicamente alemão. O encontro foi criado por Reinold von Thadden-Trieglaff, que, como membro da Igreja Confessional, resistiu ao regime de Adolf Hitler, atuando como presidente do Dia da Igreja Protestante até 1964.

As convenções de cinco dias costumam atrair líderes espirituais destacados, políticos, intelectuais, filantropos e estrelas pop, que fazem com que os eventos sejam muito maiores do que os congressos católicos alemães, realizados todos os anos.

E as convenções protestantes também contam com maior relevância social. Encontros do Dia da Igreja Protestante Alemã do passado foram marcados por pedidos por mudanças políticas e sociais. Em 1981, por exemplo, os participantes da convenção de Hamburgo em 1981 acabaram abraçando movimentos pacifistas na fase final da Guerra Fria. Já as convenções realizadas antes do ano 2000 pressionaram o governo a eliminar a dívida de países pobres. Em 2017, o ex-presidente dos EUA Barack Obama participou do encontro, que ocorreu em Berlim e Wittenberg.

Apesar do tom altamente político, os encontros também são marcados por atividades mais leves, como concertos de música gospel e prática de esportes. Neste ano, os visitantes em Dortmund poderão participar de um jantar ecumênico dentro de uma antiga mina de carvão. Patinação no gelo e eventos nos quais os visitantes podem entoar canções religiosas também estão entre as opções. Mas, acima de tudo, a cúpula conta com centenas de eventos de discussão, nos quais questões sérias são debatidas.

O tema da convenção deste ano é "confiança". Segundo o pastor Greth, era isso que mantinha a sociedade unida. "Mas a confiança se tornou algo raro e isso tem um forte impacto em nossas vidas", explica.

O governador da Renânia do Norte-Vestfália, Armin Laschet, e o presidente Frank-Walter Steinmeier durante a abertura da convenção deste anoFoto: picture-alliance/dpa/G. Kirchner

Hans Leyendecker, de setenta anos, que atua como presidente do fórum, disse: "Há muitas coisas que são como o ácido, que devoram lentamente nossa confiança e minam a coesão social". É por isso que, segundo ele, a reunião deste ano tem como objetivo destacar a importância da solidariedade nacional e internacional.

Já Greth afirmou ainda que o fórum deste ano deve se posicionar sobre questões como mudança climática e nacionalismo. A  Igreja Evangélica na Alemanha (EKD, na sigla em alemão)  já está fazendo sua parte para proteger o meio ambiente, disse ele. Mas, à luz da sociedade cada vez mais polarizada da Alemanha, ele também gostaria de ver a convenção tomar posição contra o racismo e a xenofobia.

"Teremos que deixar claro de novo e de novo que esse é um caminho errado", disse ele. "Precisamos de confiança para podermos viver juntos na Europa - na verdade, em todo este planeta - em vez de nos isolarmos", acrescentou. Caso contrário, disse Greth, a "humanidade não sobreviverá".

Hans Leyendecker, o presidente do fórum que ocorre a cada dois anosFoto: picture-alliance/dpa/B. Thissen

O evento mais importante da convenção prevê que o presidente do conselho da EKD, Heinrich Bedford-Strohm, discuta os desafios da mudança climática com a jovem ativista de proteção ao clima Luisa-Marie Neubauer, do braço alemão do movimento "Sextas-feiras pelo futuro", que vem promovendo greves de estudantes para pressionar por ação contras as mudanças climáticas.

Vários políticos alemães proeminentes também devem comparecer aos eventos em Dortmund, entre eles vários ministros do governo federal. O presidente Frank-Walter Steinmeier participou da abertura do encontro na quarta-feira. No próximo sábado, a chanceler federal, Angela Merkel -  ela mesmo filha de um pastor luterano - discutirá o papel da confiança nos assuntos internacionais com Ellen Johnson Sirleaf, economista e ex-presidente da Libéria.

Apesar da presença de tantos políticos, o evento deste ano chama a atenção pela ausência de membros do partido nacionalista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) - terceira maior força do Bundestag (Parlamento alemão) 
- que não foram convidados para o encontro.

Membros do partido vêm afirmando que seus membros se sentiram marginalizados pela igreja. Mas Leyendecker, o presidente do fórum, disse que o AfD não pode se pintar como vítima. Ele acrescentou que a convenção nunca convida políticos para que eles representem seus partidos. "Isso acontece até mesmo com a União Democrata-Cristã (CDU) e o Partido Social-Democrata (SPD)". "Nós convidamos indivíduos que têm algo significativo para contribuir", disse. "Mas o senhor Gauland e senhora Weidel e todas essas pessoas não têm nada importante a dizer", explicou, mencionando os dois líderes do AfD, os deputados Alexander Gauland e Alice Weidel

Diante desse cenário, os membros do AfD terão que se contentar em exibir um pequeno estande no centro de Dortmund. Eles oficialmente não farão parte do Dia da Igreja Protestante que vai desenrolar por cinco dias na cidade.

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