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Convenção republicana oscila entre rebelião e pragmatismo

Ines Pohl, de Cleveland (as)20 de julho de 2016

Normalmente convenções partidárias americanas são grandes festas destinadas a unir as bases em torno do candidato à Casa Branca. Desta vez, porém, o encontro dos republicanos é marcado pela divisão e quebra de regras.

Trump fala na convenção republicana: nunca um candidato havia discursado antes de sua nomeação
Trump fala na convenção republicana: nunca um candidato havia discursado antes de sua nomeaçãoFoto: Reuters/M. Segar

A Quicken Loans Arena é a casa do time de basquete Cleveland Cavaliers, que acabou de ser campeão da NBA pela primeira vez em 52 anos. Frequentadores assíduos chamam o lugar simplesmente de The Q. A arena é tradicional palco de astros e estrelas, e em agosto haverá show de Paul McCartney e, em setembro, do AC/DC.

Sobre as entradas da arena estão dependurados enormes pôsteres de esportistas exibindo seus músculos e de princesas da patinação em roupas coladas e brilhantes. Há também ditados morais, por exemplo: "No Nordeste de Ohio, você não recebe nada de graça. Tudo é merecido. Você trabalha para ter o que tem."

Esta semana, um outro astro domina The Q: o elefante, símbolo do Partido Republicano dos Estados Unidos. E como Cleveland também é a terra do Hall da Fama do Rock and Roll, ele aparece segurando uma guitarra. Ao lado, pôsteres de campanha anunciam em letras azuis e vermelhas: "Trump - Pence – Faça os EUA serem grandes de novo!".

Este ano, os republicanos escolheram Cleveland para coroar seu candidato à presidência dos Estados Unidos. Normalmente, esses encontros de família seguem um script pré-definido nos mínimos detalhes pela cúpula partidária, e os cerca de 2.500 delegados fazem – normalmente – o que eles devem fazer: eles aplaudem os discursos dos figurões e dos ex-presidentes.

Toda essa encenação tem um único objetivo: no fim da convenção, o candidato do partido à Casa Branca é ovacionado pelos delegados e entra na disputa contra o candidato dos democratas fortalecido por uma votação extraordinária e pelo apoio de uma ampla base partidária.

Normalmente é assim. Mas este ano, tudo é diferente.

Apoiadores de Trump conseguiram se impor durante o encontro em ClevelandFoto: picture-alliance/newscom/P. Marovich

Entusiasmo contido e rebelião

Este ano, o script foi definido por um único homem. Ele é o motivo pelo qual muitos delegados participam da convenção com um entusiasmo contido. Marc Hader, um delegado de Oklahoma, se pergunta como esse "empresário oportunista" se sairia na presidência. Ele está mesmo preparado para todos os desafios?

Alice Butler-Short, uma das fundadoras do movimento "Mulheres por Trump", não demonstra qualquer dúvida. Ela conta que todas as convenções partidárias são emocionantes, mas que esta é a mais importante da sua vida. Já para Vivian Childs, da Geórgia, o mais importante é que Trump fará algo pela crianças e pela educação. E colocará os Estados Unidos em primeiro lugar.

Muitos republicanos encaram a situação de uma forma bem mais pessimista, e alguns até mesmo viajaram para Cleveland para, no último momento, tentar bloquear a candidatura de Trump. Mas os rebeldes fracassaram. Alguns, como Sondra Ziegler, do Texas, afirmam que as coisas não se deram de forma limpa. Mas ninguém tem provas, e ninguém teria coragem de reconhecer que foi exercida pressão, afirma.

Os adversários de Trump dentro do partido queriam que os delegados fossem liberados para votar como quisessem, sem a obrigatoriedade de se manterem presos aos resultados das primárias em seus estados.

Melania Trump copiou discurso de Michele Obama?

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Comediantes e estrelas da TV

Certo é que muitos nomes do alto escalão do Partido Republicano estarão ausentes desta convenção. Por exemplo, os dois ex-presidentes Bush e o ex-candidato John McCain não participarão da coroação de Trump. No lugar dos ausentes entra um time de comediantes e estrelas da televisão.

Jeb Bush, que era pré-candidato, declarou em entrevista ao Washington Post que não vai votar no candidato dos republicanos se este se chamar Donald Trump. Palavras duras para um homem cujo pai e irmão já definiram os destinos do mundo a partir da Casa Branca.

É difícil avaliar o quanto esse debate afetará o egocêntrico Trump. As lacunas na lista de oradores foram espertamente preenchidas com nomes da própria família, como os filhos e, claro, a mulher. É como se ele dissesse: quem tem sua própria família não precisa da família partidária. Realeza em vez de lealdade.

Trump também não está nem aí para o decoro e um certo grau de contenção e respeito às regras da convenção partidária. Nunca um candidato havia discursado antes de sua nomeação. Trump pouco se importou com isso. Já no primeiro dia ele subiu ao palco para apresentar a esposa, Melania. Que foi acusada de plágio poucas horas depois. E de copiar justamente Michelle Obama.

Para a imprensa foi um prato cheio. Já os delegados republicanos pouco se importaram com a história.

Para quem acredita em Trump, ele está livre para fazer qualquer coisa. Essas pessoas perdoam nele as meias-verdades e as mentiras porque querem acreditar nas promessas dele. Ou porque querem, de todas as maneiras, impedir a vitória de Hillary Clinton. Ou elas são empresários bem-sucedidos e pragmáticos que esperam ter um republicano na Casa Branca num período em que dois, talvez até três juízes da Suprema Corte serão nomeados. Essas posições são vitalícias, já um presidente tem mandato de quatro anos. Mesmo que ele se chame Trump.

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