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COP23 leva adiante trabalhos pelo Acordo de Paris

3 de novembro de 2017

Política climática internacional é um assunto complexo, e a 23ª Conferência do Clima, em Bonn, não será exceção. Pelo menos, a resistência de Trump deve servir para unir ainda mais os demais Estados.

Consequências da mudança climática se fazem sentir sobretudo nas regiões do Sul
Consequências da mudança climática se fazem sentir sobretudo nas regiões do SulFoto: DW/Mustafiz Mamun

Trata-se de um fato inédito: a rigor, quem lidera a Conferência do Clima das Nações Unidas a cada ano é o país anfitrião. Mas as Ilhas Fiji não se consideraram capazes de acomodar 25 mil negociadores, ambientalistas e jornalistas: o Estado insular no Pacífico Sul sequer dispõe de um centro de convenções grande o suficiente.

Assim, a caravana do clima se instalará para a COP23, de 6 a 17 de novembro, na cidade de Bonn, a antiga capital alemã. Porém Fiji é que encabeça o encontro, mais exatamente o ex-general Frank Bainimarama, que governa com punho de ferro o Estado formado por 322 ilhas.

Os ambientalistas esperam que Bainimarama faça confluir os diferentes interesses em jogo e aponte possíveis consensos. Sabine Minninger, especialista do serviço de desenvolvimento das Igrejas luteranas alemãs Brot für die Welt, já visitou o arquipélago Fiji diversas vezes.

"Eles aproveitarão a conferência para enfatizar a vulnerabilidade dos Estados insulares do Pacífico. Estes são especialmente afetados pela mudança climática, desde já, devido à elevação do nível do mar. Ela já forçou Fiji a ter o primeiro lugarejo do mundo realocado por causa da mudança climática."

No centro, o Acordo de Paris

Um dos temas mais importantes será a concretização do Acordo do Clima de Paris, de 2015. Seus signatários se comprometem a, através de metas climáticas nacionais, cuidar para manter o aquecimento global abaixo de 2ºC. Além disso, os diferentes planos nacionais para o clima devem poder ser comparáveis entre si. E, se possível, as metas para o futuro devem ser formuladas de forma mais ambiciosa.

Ministra alemã Barbara Hendricks aposta no papel pioneiro do paísFoto: picture-alliance/dpa/S. Kembowski

A ministra alemã do Meio Ambiente, Barbara Hendricks, só ocupa o cargo de forma interina, pois a composição do novo governo da Alemanha ainda está sendo negociada. Ainda assim, a política social-democrata quer aproveitar essa última atuação internacional para deixar sua marca, através de trabalho persistente nos detalhes.

"Eu espero que demos passos para definir como vamos preencher o Acordo do Clima. À primeira vista, não parece nada de espetacular. Mas é como se uma nova lei, de âmbito mundial, tivesse sido aprovada em dezembro de 2015, em Paris. E para tal são precisas regras de implementação."

Quase todos os Estados-membros da ONU se comprometeram com o Acordo de Paris, apenas Turquia, Rússia e Irã ainda têm que ratificá-lo. Fora isso, há o problema principal: os Estados Unidos.

Trump, vilão do clima

A sombra do presidente americano, Donald Trump, paira sobre a COP23. Pouco após tomar posse, ele anulou o compromisso assumido por seu antecessor, Barack Obama, e quer abandonar o pacto. Só que a coisa não é tão simples assim: só daqui a três anos e meio os EUA poderão se retirar de fato. Por isso uma delegação americana também estará presente em Bonn, encabeçada por um alto funcionário do Departamento de Estado.

"Estou bem contente, porque, de fato, o secretário de Estado Rex Tillerson tem uma posição bem equilibrada. E estou confiante de que, pelo menos, a delegação americana não perturbará as negociações", antecipa a ministra Hendricks.

Sabine Minninger diz não temer que outros países sigam o exemplo dos EUA, abandonando o acordo. "O que presenciamos nas negociações intermediárias em maio, em Bonn, é que o mundo ficou bem mais coeso, até mesmo por causa das supertempestades vistas no Caribe. E, junto com a saída dos EUA do Acordo de Paris, isso aguçou o estreitamento entre os Estados."

Catástrofes climáticas recentes como a de Porto Rico aguçaram senso de urgência em relação ao aquecimento globalFoto: Getty Images/AFP/R. Arduengo

Alemanha não deve cumprir metas

O presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, saudará os ministros do Meio Ambiente e chefes de governo esperadosna segunda semana da conferência à margem do rio Reno. Embora atarefada com as complicadas negociações de coalizão governamental em Berlim, a chefe de governo alemã, Angela Merkel, irá a Bonn.

Também o chefe de Estado francês, Emanuel Macron, pretende se pronunciar, talvez até em conjunto com a chanceler federal alemã. Anunciado está, ainda, o governador da Califórnia, Jerry Brown, que de certa maneira representa os outros Estados Unidos: a favor da proteção do clima global e da expansão da energia solar e eólica.

Mas em que ponto está a Alemanha? Afinal, as emissões cresceram no país, que ainda queima carvão mineral demais. A ambiciosa meta de, até 2020, ter reduzido em 40% as emissões dos gases causadores do efeito estufa, deverá fracassar fragorosamente.

Mesmo assim, para Barbara Hendricks os alemães são pioneiros em questão de proteção do clima, até por terem fomentado as energias renováveis em todo o mundo, nas últimas décadas. "Estou certa de que, alguma hora, vamos perceber que esse foi possivelmente o melhor trabalho de desenvolvimento que já se fez."

Críticas e uma possibilidade de destaque

Os ambientalistas, por sua vez, veem com olhos críticos a situação no país. Para muitos, a Alemanha, enquanto modelo para a proteção do clima, fracassará em suas próprias metas.

"Isso se deve, em particular, ao fato de que na Alemanha sobretudo a indústria carvoeira sabota a virada energética com enorme sucesso, há anos. Por isso, o país vai ficar bem aquém de suas metas climáticas até 2020", avalia Jan Kowalzig, especialista em clima da ONG Oxfam. O novo governo poderia mudar esse quadro, mas só se impuser de forma vinculativa o abandono do carvão como fonte de energia.

Contudo a Alemanha ainda tem uma chance de fazer bonito na 23ª Conferência do Clima, com sua iniciativa de possibilitar planos de seguro climático para 400 milhões de habitantes dos países do Sul do planeta. Uma ideia que os alemães já apresentaram em algumas conferências do clima, e que talvez vá concretizar em Bonn.

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